-Pra onde vamos?- indago enquanto sigo Heitor pela rua.- Eu não tenho dinheiro aqui, podemos passar na minha casa, aí já deixo minha mochila e...
-Calma amo... Digo, Gabriel, eu pago, sempre trago um pouco de dinheiro a mais, pro caso de sentir fome.- informa ele, minha mente retorna aos pratos que vira o garoto comer. De fato Heitor parecia ter um apetite voraz, em muitos sentidos.
-Hum, está bem. Eu não trouxe nada por que achei que iríamos estudar.- digo sorrindo, o garoto que me guiava pára abruptamente e em seguida me encara.
-Estudar, não é? Na minha época o que fizemos tinha outro nome.- diz abrindo um sorriso cafajeste, sinto meu rosto corar.
-Hum... Pois é, anatomia é uma matéria bem legal.
-Ainda mais quando a aula é prática.- diz, então sorri enquanto morde seu lábio inferior. Seu olhar me fazia imaginar que estava prestes a me jogar contra o muro de uma casa qualquer para roubar um beijo. Meus olhos tensos correm ao nosso redor encarando pessoas próximas. Ao perceber tal reação o garoto me observa preocupado.- O que foi?
-Não... Não é nada, só... Tem gente demais por perto.- confesso desconfortável, por mais que sonhasse com a idéia de poder andar de mãos dadas com Heitor em qualquer lugar, já tinha tido minha platéia para aquele dia e não havia sido uma boa experiência.
-Oh, me desculpe.- diz Heitor recuando um passo, seu rosto cora envergonhado.- Invadi seu espaço, não foi minha intenção.
-Não fica assim, você não invadiu nada, a culpa é minha, por um momento pensei que...- começo, porém me atenho, o olhar cabisbaixo de Heitor se volta a mim curioso.
-Que...?- indaga pelo fim da frase.
-Que... Ah, eu não consigo falar aqui.- digo frustrado e vermelho pela timidez.
-Já que é assim vamos sair daqui, vou te levar pra um lugar mais reservado, vamos usar essa boquinha pro que ela faz de melhor.- sorrindo, voltando a caminhar logo em seguida.
Sigo o garoto em um silêncio tenso e absoluto, para onde Heitor estava me levando? Sua proposta de açúcar parecia ter sido trocada por leite, de qualquer forma não podia negar que tal idéia me instigava, ponho as mãos nos bolsos da calça, tentando esconder minha ereção.
Poucos minutos de caminha depois recebo um olhar indiscreto de Heitor.
-Então, você prefere chupar até o fundo ou lamber as bolas?- indaga safado, meu rosto pega fogo com sua pergunta. Lhe encaro boquiaberto por alguns segundos até finalmente retomar meu controle.
-Eu... Eu... Chupar.- confesso, tento fazer contato visual com seus olhos, mas sempre fujo.
-Hum...- diz Heitor computando minha resposta, em seguida dando de ombros.- Está bem, serão dois milkshakes então.
-Espere, o quê?- indago confuso, só nesse momento percebo que estamos diante de uma sorveteria, me sentindo patético cubro o rosto.- Meu Deus, que vergonha.
Heitor ri alto, porém ao ver minha reação, se contém e põe a mão sobre meu ombro.
-Ei, tudo bem, não precisa ficar assim, vamos entrar.- convida o garoto depois de me consolar, desajeitado assinto.
O logotipo da sorveteria Multi Sabores estava espalhado por todos os lugares do recinto, nas paredes molduras ostentavam paisagens tropicais, com praias paradisíacas, o que era um tanto irônico já que estávamos a quilômetros de distância da praia mais próxima.
-Naquele dia que nos encontramos no Tio Torra pela primeira vez...- começa ele me trazendo de volta de minha análise do lugar.- Eu tinha vindo tomar algo aqui, mas acabei esquecendo que eles não funcionam as quintas-feiras. Fui pra lá meio que por Acaso.
-Naquela época eu tinha um certo medo de você.- confesso sorrindo, embaraçado.
-Não parecia, lembro de você olhando meu...- começa, porém se atém ao perceber que havia entendido ao que se referia, engulo em seco.- Mas também me lembro que quando saí de lá fiquei meio que, "Será que ele é? Não, ele não pode estar interessado".
Heitor esfrega a cabeça constrangido com o que acabara de contar, porém em seguida se recompõe.
-Vamos pedir então?- indaga mudando de assunto, assinto, o garoto passa a namorar o freezer dos sorvetes.- Qual seu sabor favorito de milkshake?
-Hum, não sei, chocolate? Acho que só tomei de chocolate e morango uma vez.- confesso, o garoto então me lança um olhar atônito.
-Como assim você nunca experimentou o milkshake de cereja?!- indaga chocado, balanço os ombros sem saber o que responder.- Tipo, aqui tem uns quarenta sabores de sorvete diferentes e eu já pedi um milkshake de quase todos os tipos, não vou dizer que todos são bons, mas o importante é provar.
-Está bem.- digo encarando o freezer indeciso.- Cereja, não é? Acho que vou querer um desse então... Pra experimentar.
-É assim que se fala.- diz ele orgulhoso. - Então serão dois de cereja.
Seguimos para o balcão e depois de fazermos nosso pedido para uma das mesas vagas próximas aos fundos.
Sentamos e esperamos por alguns minutos em silêncio, assisto Heitor tamborilar seus dedos sobre a mesa, ele sorri ao perceber que tem minha atenção. Sabia que aquele não era o lugar nem a hora, mas a pergunta de Heitor me deixara uma dúvida. Me aproximo tentando ser o mais discreto possível.
-O que foi?- indaga curioso ao perceber minha movimentação. Suspiro encolhendo os ombros.
-Eu queria saber...- começo sem jeito, sussurrando desconfortável.- Sobre antes, você quer que eu lamba as suas bolas?
Heitor me lança um olhar surpreso, e assim permanece, sem resposta.
-Digo, não estou falando de fazer agora, mas eu nunca fiz e você comentou... É algo que eu deveria fazer, ou que você quer?- continuo, ao entender a questão ele sorri.
-Bem, nunca fizeram, mas se quiser fazer da próxima não vou recusar, era só brincadeira mas confesso que sua oferta me deixou curioso.- diz ele rindo.
Nesse momento uma das atendentes trás nosso pedido, assim que chega Heitor toma seu primeiro gole e faz um sinal para que eu faço o mesmo, e preciso confessar, era realmente muito bom.
-E aí? O que achou?- indaga ele.
-É ótimo.- afirmo.
-Não é? A segunda coisa mais gostosa nessa mesa.- afirma, penso que se referia ao meu copo, porém logo em seguida sinto uma mão passando pela minha perna fazendo meu rosto corar, retribuo seu carinho.
-A terceira coisa mais gostosa.- digo sorrindo, talvez Heitor estivesse certo, tudo o que eu precisava era um pouco de açúcar... Açúcar e carinho.
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Meu Demônio (Romance Gay)
RomanceGabriel prometeu a si mesmo nunca se apaixonar, o que as pessoas diriam se descobrissem que o filho do pastor é gay? Apenas a idéia de prejudicar seu pai o fazia estremecer. O tímido rapaz passa seus dias focado, deixando sua vida de lado enquanto...