115- A Verdade Vos Libertará

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Foi tudo muito rápido.

Estava deitado com Heitor, seu peito me servia de travesseiro, era cedo e provavelmente teríamos que ir para a escola, Cassandra não permitiria que dois marmanjos ficassem faltando sem motivos, de qualquer forma isso parecia ótimo, meu garoto poderia sair de casa, ser feliz...

Um ruído percorre a casa, tão ignorável quanto se pode ser, como de costume usávamos apenas cuecas para dormir, os dedos de Heitor acariciam meu cabelo, o mundo parecia perfeito, nesse momento tudo explode.

A porta do quarto é escancarada, aberta com um pontapé, nos levantamos sobressaltados para encontrar um inferno de pessoas adentrando no recinto, meu pai, Damares e outros homens, estes empunhavam armas e tinham feições ameaçadoras, por um instante encontro os olhos do pastor, cheios de nojo e repulsa pelo que via, há gritos e palavras de ordem, devíamos nos render e ir sem lutar, por um momento fico sem reação, sentia algo errado acontecendo com meu coração, doía, enquanto isso meu estômago despenca. A primeira a falar é a missionária, que levanta a mão pedindo silêncio.

-O outro garoto deve ser detido, mas a prioridade é o filho do Diabo!- ordena ela, com seus olhos friamente fixados em Heitor. Ela sabia! Como? Desde quando? Se os poderes dele haviam falhado na igreja isso não era motivo para saber tão precisamente, sua acusação é o suficiente para que eu desperte, encaro o garoto ao meu lado que tremia em pânico para em seguida me levantar, precisava mediar e controlar aquela conversa a qualquer custo, armas são miradas em minha direção enquanto me movimento.

-Não é nada disso do que vocês estão pensando, ele é só um garoto!- digo, em seguida me dirijo ao pastor.- Pai...

-Eu não sou seu pai!- diz o pastor, erguendo a mão para dar um tapa, porém antes que isso aconteça tudo vira de ponta-cabeça, sou puxado para trás e Heitor toma meu lugar, porém não era mais o garoto que se colocava no recinto, mas sim o demônio de pele vermelha e chifres pontudos.

Assisto, horrorizado à cena do garoto se expondo para os invasores, a tensão aumenta e todos os canos das armas buscam por Heitor, ele abre os braços formando uma grande barreira.

-Ninguém encosta no meu escravo, eu o possuo e agora ele é meu! Sou dono do corpo dele.- vocifera o garoto, com o rosto furioso ele me fita por cima do ombro e por um instante vejo a tristeza e o medo consumindo-o, porém seu segundo de fraqueza passa e volta a endurecer suas feições.- Ele é meu domínio!

-Renda-se criatura, ou iremos matar seu serviçal.- barganha Damares, colocando-se em posição altiva, orgulhosa por se opor pessoalmente a um demônio. Ponho a mão no peito, meu coração realmente não estava bem, era uma dor que jamais havia sentido, Damares aponta aquilo para o pastor, fazendo o olhar de Heitor também se virar.

-Deixem-no, ele está reagindo ao meu controle, já disse, o garoto é meu enquanto estiver aqui.- diz o demônio, se repetindo.

-Peguem-no!- ordena a missionária, a imagem a seguir é confusa e extremamente inaceitável, os homens armados avançam contra Heitor e logo ele está algemado, de joelhos. Aquilo não fazia sentido, ele era grande, podia manipular a mente humana e estava ali, derrotado, a mulher baixa e desfigurada se põe diante dele, sorrindo vitoriosa.- Você não sabe o quanto esperei por isso. Levem a criatura para o local do culto, faremos tudo essa noite.

Faremos tudo essa noite... O que farão? A dor que sentia fazia minha mente fraquejar, nada tinha sentido, em meus ouvidos ouço o vidro trincando, um gemido me foge dos lábios, eles matariam meu garoto. Estão levantando Heitor quando salto da cama, precisava evitar aquilo, porém antes que possa fazer qualquer coisa sou paralisado por um murro violento vindo do pastor, caio no chão, meu rosto arde e meus sentidos perdem o foco, Heitor tenta reagir diante da agressão, porém é inútil, vejo-o sendo levado porta afora.

Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora