45- Uma Devota De Santa Gaga

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Depois de tomarmos o café da manhã, Heitor e eu nos preparamos e partimos rumo ao colégio, enquanto caminhamos percebo algo, o desconforto que sentia em meu traseiro havia desaparecido completamente.

Sem outra explicação acabo me forçando a acreditar na eficácia do chá da mãe de Heitor, estremeço me lembrando de seu gosto.

Duas curvas antes de chegarmos a escola soltamos nossas mãos, aquilo me faz refletir, na melhor das hipóteses se tudo desse certo no jantar daquela noite talvez pudéssemos deixar de lado aquele medo.

A poucos passos de distância da entrada do condomínio está Abigail a nossa espera, assim que que nos avista a garota abre um grande sorriso e nem ao nosso encontro saltitante.

-Ao que parece meu casal favorito dormiu junto.- constata ela vibrante, dou um sorriso sem jeito.

-Oi, pois é...- digo tímido.

-Não só dormimos,- comenta Heitor satisfeito, a menina me encara maravilhada, o garoto logo percebe seu erro, havia alimentado um leão mais do que devia.- Fizemos outras coisas também, bem, assistimos um filme...

-É sério isso? Vai tentar mentir pra mim?!- indaga indignada.- Meu amor, eu conheço a cara de um homem que transou na noite anterior, não venha querer disfarçar esse seu sorriso bobo, pra cima de mim não!

-Desculpe.- diz ele envergonhado.

-Pelo menos a parte do filme é verdade, assistimos Jogos Vorazes até a energia acabar.- confirmo, minha amiga me encara de cima até embaixo.

-Certo, mas você... Está muito bem pra quem teve a primeira vez, pelo que eu vi no volume de Heitor e hoje está andando normalmente, guerreiro você, viu?- diz me aplaudindo.

-Obrigado?- digo meio confuso.

-Mas enfim, vão me contar como foi ou não?- indaga ela cruzando os braços, encaro a garota sem jeito.

-Abigail, acho que essa não é a melhor hora pra isso, o Gabriel já tem muita coisa na cabeça hoje.- diz Heitor se posicionando como intermediador.

-Muito coisa? Como assim, estou curiosa, quando o Gabriel me disse que estava afim de você eu não deixei pra outra hora.- afirma indignada.

-Mas você não ia se assumir para os seus pais naquele dia.- retalia ele exaltado, Abigail abre a boca pra reclamar mas em seguida parece entender o recado.

-É sério isso?- questiona, assinto com a cabeça, o que faz a menina comemorar.- Que coisa maravilhosa, você não sabe a quanto tempo espero por isso, te ver metendo o pé no armário e saindo lá de dentro glorioso. Hoje a noite vou até rezar e agradecer a minha santa protetora, obrigada Lady Gaga por mais essa benção.

A garota ergue a mão esquerda em uma reverência.

-Abigail, acho que a Lady Gaga não é exatamente uma santa.- digo já me curvando a sua fala.

-Não seja bobo Gabriel, é claro que ela é, e o milagre dela se chama "Born This Way", amém.

Heitor acena com a cabeça, lhe encaro.

-Bem, salvou muitas vidas.- argumenta, vendo por esse lado começava a entender seu ponto de vista, me lembrava da época em que a música havia sido lançado e como meu pai ficara bravo dizendo que aquele tipo de coisa incentivava a homossexualidade sendo que a música falava de aceitação.

-Enfim, eu mal posso esperar para ver a reação do seu pai quando souber da boa nova.- afirma sorridente, nesse exato momento o clima que parecia descontraído parece morrer, pelo menos para mim, conhecia meu pai e imaginava como ele poderia ficar, vendo isso Heitor põe a mão sobre meu ombro, lhe encaro.

-Não precisa se preocupar, se der errado você pode vir morar comigo.- oferece ele sorrindo gentil.

-Obrigado.- digo apaixonado porém preocupado, por mais que aquela fosse uma opção por outro lado não queria desapontá-los ou perder o amor dos meus pais. O sinal toca, suspiro e seguimos para as salas.

Durante as aulas por mais que tentasse era quase impossível me concentrar, Heitor a duas carteiras de distância não parecia muito mais atento as atividades, seu foco em mim por mais preocupado que fosse não deixava de pensar sobre mim. Queria desaparecer dali e só voltar uma semana depois como se nada tivesse acontecido e por maior que fosse essa vontade sabia que não adiantaria nada, apenas estaria adiando o inevitável, precisava seguir o plano.

Quando as aulas acabam Heitor e eu seguimos para fora da escola com o restante dos alunos, na saída do pátio aonde nos separamos paro, o garoto a minha frente me encara, queria lhe beijar, fazer aquilo provavelmente faria com que me sentisse melhor, mas sabia que por enquanto aquela não era uma opção, suspiro.

-Até hoje a noite.- digo me despedindo dele.

-Até.- diz, naquele momento até mesmo Heitor já parecia tenso com o jantar, me viro para ir embora mas ele segura minha mão, volto a lhe encarar, o garoto abre um sorriso.- Gabriel, vai dar tudo certo.

Assinto, com seu último incentivo parto na direção de casa, enquanto caminhava os pensamentos se perdiam em minha mente, quase tudo dentro de mim era um oceano de preocupação.

Assim que chego sou recebido pela minha mãe que vinha na direção da porta.

-Já chegou querido?- indaga ela ajeitando a bolsa no braço.- Estou indo no mercado buscar algumas coisas para o jantar, precisa de algo?

-Não.- digo, o que era uma grande mentira, mas no fim o que eu precisava ela não encontraria no mercado, coragem.


Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora