Meu Demônio (Romance Gay)

60- Bernardo

Oi pessoal, só um recadinho, eu sei que o capítulo de ontem se chama "O Clube Do Livro - Parte I" mas aparentemente o nosso novo personagem é um tanto intrometido e resolver se enfiar aqui no meio, antes da continuação, então é isso, espero que gostem!

*****

-Como assim aqui?- indago atônito encarando Abigail sem acreditar no que acabara de propôr, havia pedido a garota um lugar reservado e ela me oferecera uma biblioteca, por menos movimentada que fosse, ainda era um local público. Me curvo para Heitor buscando sua reação, o garoto me encarava  atento, parecia esperar uma resposta de mim tanto quanto esperava dele, porém assim que tem ao perceber meu desconforto se impõe, pondo sua mão em meu ombro em sinal de proteção.

-Abigail, não. Agrademos pela ajuda mas essa sua oferta é completamente insana. - afirma ele advertindo a garota que apenas ria.- Não vamos transar no meio das estantes de livro.

Observo o homem agradecido, ele sorri gentil, enquanto isso Abigail cai na gargalhada diante de nós.

-Vocês acharam mesmo que eu estavam me referindo a esse cômodo?- indaga debochada enxugando suas lágrimas de riso.- Pelo amor do Deus, eu não sou uma louca pervertida não! Bem, na verdade sou, mas eu também tenho classe. E além do mais, são vocês que pensaram que seria aqui... Vocês precisam se tratar.

Abigail não encara com um olhar de advertência, balançando a cabeça em um tom desapontado, a única coisa que denunciava seu teatro era o fogo em seus olhos.

-Hum...- Heitor pigarreia incomodado tentando mudar de assunto.- Então, aonde vamos então?

-Vou mostrar o caminho, o Bernardo já deve ter arrumado tudo por lá.- afirma fazendo sinal para que a sigamos, enquanto caminhos pelo extenso cômodo Heitor se aproxima de mim.

-Quem é Bernardo?- indaga sussurrando, dou de ombros.

-Eu não conheço, só ouvi a Abigail comentando sobre ele.- afirmo, o garoto ao meu lado fica visivelmente receoso com a minha resposta.

Abigail nos leva até o canto direito do lugar, ali uma escadaria de madeira dava acesso ao segundo andar do edifício.

Mesmo já tendo vindo algumas vezes a biblioteca jamais havia chegado a subir até o andar superior.

No centro havia um extenso corredor que dava acesso às duas fileiras de portas laterais, cada uma delas contava com um número dourado cravado na madeira, resquícios de quando aquele lugar ainda era um hotel. Tentado pela curiosidade agarro uma das antigas maçanetas tentando abrí-la, fracasso.

-Não adianta nem tentar, querida.- diz uma voz semi masculina mais a frente, assustado me afasto, próximo ao fim do corredor havia uma figura nos encarando.- A maioria dessas portas estão trancadas.

Vindo em nossa direção um garoto desfila usando o corredor de passarela. Seu cabelo alisado era perfeitamente dividido ao meio, vestia um macacão jeans por cima de sua camisa social vermelha, seus sapatos lustrosos deslizavam pelo carpete até chegar ao nosso encontro.

-E aí?- diz ele parando diante de nós com uma das mãos na cintura.

-Hum, oi.- digo com um tímido aceno de mão.

-Vejamos, você deve ser a gay filha do pastor.- diz apontando o dedo em minha direção, encaro suas longas unhas um pouco sem jeito por suas palavras, mas de qualquer forma assinto.- Vou te falar uma coisa, a Abigail me contou dos seus problemas em sair do armário, se estivesse comigo iria arrebentar a porta do seu na sentada, te arrancava o cabaço e a timidez de uma vez só.

O garoto me lança um beijo e uma piscada de olho, dou um passo para trás com o rosto vermelho. Enquanto isso Heitor põe o braço diante de mim, estabelecendo uma barreira entre nós, o recado parecia claro para todos ali, eu era seu. Me viro para o homem que encarava Bernardo com um olhar venenoso. Esse ao perceber a situação a situação começa a rir.

-Nossa, pelo visto temos um cachorrão ciumento com seu osso aqui.- comenta se inclinando para Heitor.- Não precisa se preocupar, meu anjo. Com um macho como você por aqui eu nem daria atenção pra ele. Hum... Fortinho.

Bernardo começa a aproximar seu mão do peitoral de Heitor, naquele momento era eu quem estava prestes a me por entre os dois, porém antes que faça algo meu namorado impede sua aproximação, agarrando seu pulso com força.

-Não!- adverte Heitor irritado.- Gabriel somos um casal, você pode ser amigo de Abigail e estar nos ajudando, mas se tentar tocar em mim ou no meu namorado mais uma vez acabo com você, está me ouvindo?

Bernardo assente com a cabeça, Heitor lhe larga, o garoto massageia o pulso antes de recompor seu sorriso.

-Eu disse que não devia mexer com os dois.- adverte Abigail balançando a cabeça.

-Mas que abusada! Você nunca disse isso.- acusa ele cruzando os braços.

-Hehe, então estou avisando agora.- diz ela dando de ombros.

-Agora é tarde, querida. Mas enfim, não custa nada tentar, não é mesmo? Vai que eles querem formar um trio...

-Não.- em uníssono eu e Heitor recusamos a idéia, em seguida nos encaramos e sorrimos, ele volta a cruzar seus dedos com os meus.

-Hum, rejeição dupla... Depois dessa vou até embora.- diz balançando o cabelo e seguindo na direção das escadas.

-Que história é essa, Bebê?- questiona Abigail, você não tem que mostrar a sala pra eles?

-Ah, a sala!- diz ele dando meia volta.- É verdade Bibi, tinha me esquecido, sigam-me.

O garoto dispara pelo corredor, enquanto lhe seguimos penso no que havia acabado de ouvir, Bebê e Bibi... Os dois tinham apelidos internos, algo que nunca tínhamos tido.

Porém sou tirado de minha reflexão por um beijo de Heitor em minha bochecha, sorrio encabulado. Aquilo afasta de mim todas as dúvidas e inseguranças que começavam a surgir em mim, tinha algo incrivelmente precioso logo ao lado, o amor de Heitor.

Finalmente paramos no fim do corredor, diante de nós Bernardo faz uma saudação exagerada à última porta, diferente de todas os outras que estavam vazias, naquela havia um letreiro feito com um papel escolar verde.

-Sejam muito bem-vindos ao cantinho da putaria, o clube do livro. Sintam-se a vontade, mas por favor, não gozem nos livros.