50- Da Porta Pra Fora

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Heitor e eu podíamos não estar juntos naquele momento, mas vê-lo já havia havia feito meu mundo mudar completamente, mesmo percebendo algo de errado com o garoto e o fato de ele estar escondendo algo de mim, isso já não importava tanto, agora ele estava acessível, podia fazer o necessário para descobrir  como lidar com tudo isso.

Mesmo que a idéia de unir meu pai e Heitor fosse preocupante sabia de uma coisa, meu pai não conseguiria destilar seu ódio sobre nós diante do público da igreja, isso nos dava tempo para mudar mesmo que um pouco sua visão.

Pela primeira vez em mais de uma semana chego em casa no horário correto e desço para almoçar. Faço meu prato e silenciosamente me sento a mesa. Minha mãe ao ver isso sorri, para ela aquilo poderia ser uma brecha para a reconciliação, meu pai do lado contrário da mesa não me encarava com os mesmos olhos.

-Decidiu voltar a agir como gente?- indaga presunçoso, penso em lhe responder de forma grosseira mas me contenho, minha mente gira e abro um sorriso.

-No fundo é tudo uma questão de atitude, não é mesmo?- indago sorrateiro.

-Está brincando comigo?- indaga ele suspeito.

-De forma alguma, só estou dizendo que todo mundo tem direito a uma segunda chance, não é?- questiono lhe encarando.

-Bem, está na Bíblia...- diz distraído, mas logo se recompõe.- Espere aí, você está dizendo que estou errado e mereço uma segunda chance?

Minha mente gritava dentro de mim "SIM! É ÓBVIO QUE VOCÊ ESTÁ ERRADO" porém me atenho, Heitor estava se esforçando por aquilo e não seria eu que iria quebrar seus planos.

-Bem, não. É só um comentário.- digo voltando a comer.

-Mas enfim, já que o senhor está falando em atitude, vai para o culto hoje ou vai me fazer passar vergonha mais uma vez?- indaga ácido, abro um sorriso, mal sabia o homem que estava se traindo.

-Vou sim, mal posso esperar por isso.

Passo a tarde no quarto em meio aos exercícios e a ansiedade, Heitor porém continuava sem dar sinal de vida, talvez estivesse nervoso sobre a noite, quando essa chega começo a me arrumar.

Visto minhas habituais calças jeans, um suéter preto e ponho meus sapatos sociais. Descia as escadas saltitando, por mais errado que aquilo parecesse nunca havia me sentido tão feliz com a idéia de ir a igreja.

Quando chego a sala encontro minha mãe em suas típicas roupas de culto, ao me ver ela sorri.

-Está pronto, querido?- indaga, assinto esboçando um leve traço de animação.- Ótimo, o seu pai já foi para arrumar algumas coisas para o culto então, vamos?

Depois de seu contive trancamos a casa e seguimos pela praça rumo a igreja. Como de costume sempre chegávamos com certa antecedência, era algo que meu pai como pastor exigia, sua família precisava dar o exemplo.

Assim que chego lhe encontro no corredor central, junto dele havia uma das famílias dos nossos membros mais fiéis, os Medeiros, era uma família de cinco pessoas, além deles haviam também algumas poucas espalhadas pelos bancos.

Com o pastor estavam o pai, a mãe o e filho, Jonas, enquanto isso a filha mais nova do casal e sua avó já ocupavam seus lugar na primeira fileira em frente ao altar. Ao nos ver meu pai e faz sinal para que nos aproximemos.

-Venham cá.- diz ele sorridente, algo dentro de mim começava a estranhar aquilo tudo, porém sigo sua instrução, era o que precisava fazer até a chegada de Heitor, todos se cumprimentam.- Gabriel, eu estava aqui conversando com os Medeiros e tive uma grande surpresa.

-Hum.- digo lhe encarando duvidoso.

-Não sabia que o Jonas estudava com você.- afirma um tanto quanto vidrado, o garoto a quem ele se referia sorri e estufa sutilmente o peito.

-É, estuda.- digo desinteressado.

-Achei isso muito bom, ele é um rapaz excelente, temente a Deus, participa na igreja, dos retiros, é um jovem de valores...- a cada palavra que ele dizia sentia meu rosto se contorcer incomodado, percebo o que estava querendo fazer, mas antes mesmo de dizer, o pastor dá seu bote.- Acho que vocês dois deveriam ser amigos, seria bom ter alguém assim por perto.

Já com um certo desprezo meus olhos se curvam do meu pai para o garoto, lhe encarando de baixo até encima. Eu conhecia ele dos cultos, conhecia a participação da qual meu pai se referia, como adorava ir até o altar para ler o que o pastor pedisse, não era o tipo de pessoa que costumava socializar, e mesmo que fosse, eu sabia o que estava acontecendo e Jonas não era um amigo, era uma peça do tabuleiro do pastor.

-Eu não acho isso, tenho certeza de que isso nunca daria certo.- afirmo, o círculo de sorrisos exagerados a minha volta se fecha, sobrancelhas se curvam irritadas.- Não é assim que se começa uma amizade, se fosse pra dar certo já teria dado, e sinceramente... Eu prefiro não ter amigos do que tê-los a força. Sinto muito.

Nesse momento sinto meu celular vibrando dentro do bolso, alguém estava me ligando.

-Mas...- começa meu pai, apanho o aparelho em meu bolso, era Heitor.

-Me desculpem, eu preciso atender, é importante.- digo saindo de perto do círculo enquanto ao fundo meus pais tentavam contornar a situação, atendo e imediatamente ouço uma voz acelerada, era Cassandra.

-Pelo amor de Deus, atenda esse telefone...- dizia ela.

-Alô?- falo ainda estranhando o fato de ser ela do outro lado da linha

-Alô, Gabriel? É você?- indaga ela, percebo o desespero em sua voz, o que havia acontecido?

-Sim, sou eu.- confirmo.

-O Heitor está aí com você?- indaga ela, nesse momento meu coração dispara preocupado.

-Não, ele disse que viria para o culto mas até agora não chegou, por quê?- informo já buscando por respostas.

-Meu Deus, não, não, não!- implora ela.- Gabriel, por favor, me escute com atenção, sabe que não gosto de você e duvido de suas intenções, não sabe?

-Sei, mas se for pra brigar comigo acho melhor pararmos por aqui.- afirmo chateado, não conseguia acreditar que Cassandra havia ligado apenas pra isso.

-Não! Por favor não desligue, Gabriel, mas também sabe que eu não tenho motivo pra brincar com você ou mentir. Então apenas me escute, está bem?- diz apressada, suspiro.

-Tudo bem, estou ouvindo.

-Você não pode deixar o Heitor entrar na igreja, a vida dele depende disso.- diz rígida, porém aquilo tudo me parecia um tanto estranho, tudo não parecia mais do que implicância de sua parte.

-Você deveria deixar seu filho fazer o que tem vontade, qual o problema nisso?- indago exaltado.

-Você não entende.- insiste a mulher.

-Não entendo o quê?!- digo lhe retaliando.

-O Heitor é filho do Diabo, se ele entrar na igreja ele morre!

Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora