06- Obsessão

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Depois de me levantar sigo direto para o chuveiro, precisava esfriar a cabeça. O sentimento de frustração definia bem aquele momento, no fim não importava o quão bom havia sido aquele sonho sendo que na vida real mal conseguia falar com Heitor. Mas se tudo funcionasse como planejado hoje eu saberia se ele era hétero ou não, ou o que mais escondia.

Depois de limpo e arrumado desço para tomar o café da manhã. Minha mãe cantalorava no alguém hino da igreja enquanto organizava a coisas sobre a mesa.

-Bom dia querido.- me saúda alegre.

-Bom dia.- respondo já apanhando a garrafa de café.

-Ontem a noite fui te chamar para o jantar mas quando fui no seu quarto de encontrei dormindo com um sorriso no rosto, parecia um anjinho.

-Hum, pode ter sido impressão sua.- digo um pouco inquieto.

-Impressão, não é mesmo? Eu acho que na verdade você viu o passarinho verde nos sonhos e não quer está querendo me contar.

Eu que havia acabado de tomar meu primeiro gole quase o ponho para fora, passo alguns instantes tossindo até me recompor.

-Mãe, eu já disse, não existe namoradinha, nem passarinho verde. E eu ficaria bem agradecido se parasse com isso.- Lhe peço.

-Não precisa ficar irritado, estou apenas brincando, querido. E não tem nada de errado se você tivesse uma menina em vista, você é um garoto bonito e jovem. Ou gostaria que eu dissesse que tem um namoradinho?- questiona irônica, abaixo o olhar até meu copo de café, repentinamente a fome que sentia naquela manhã parece  desaparecer.

-Não, mãe.- mesmo já conhecendo a opinião dos meus pais sobre o assunto homossexualidade sempre era difícil ouvir deles mais uma vez.

A partir dali a conversa morre, sem vontade empurro o restante do café e um par de torradas garganta abaixo. Em seguida acabo de me arrumar, apanho minha mochila e depois de me despedir da minha mãe parto.

O colégio ficava em uma parte alta e retirada do restante da cidade, acima dele havia apenas um condomínio que já se misturava a floresta.

A escola em si ocupava um grande espaço, de início havia um estacionamento, guardada por um portão estava a entrada, passando por ela havia uma passarela que dividia o pátio e o ginásio, porém antes de entrar na área das salas de aula existem algumas mesas de cimento, nelas haviam tabuleiros de xadrez demarcados com os quais alguns alunos costumavam jogar durante o recreio.

Sentada sobre uma dessas mesas estava Abigail, suas pernas cruzadas escondiam o que a saia curta escolhida por ela poderia mostrar, no início os coordenadores lhe chamavam a atenção sobre suas vestimentas, mas no fim acabaram vencidos pelo cansaço.

Ao me ver ela abre um sorriso, salta da mesa e vem até mim.

-Oi.- digo.

-Tá, oi, vamos ao que interessa.- diz pegando meu braço arrastando para fora do fluxo de estudantes e me levando de voltas às mesas.- Qual é a sua aula de educação física?

-Hum, a segunda.- digo depois de pensar alguns instantes.

-Nosso plano ainda está de pé?- questiona ansiosa.

-Acho que sim, mas não prometo que vou ter coragem pra levar isso adiante quando chegar a hora.-aviso, não podia garantir nada em situações como aquela, não era bom trabalhando sobre pressão.

-Relaxe homem, não vai acontecer nada, e pra quem está por fora do plano você vai ser só um garoto querendo participar da aula de educação física.

-Sem querer, querendo.- reflito,- Mas e quando eu falar que estou passando mal? Não vão desconfiar?

-E só você caprichar na performance, diga que está com vontade de vomitar, ou não diga nada e saia correndo. Mas não fale que torceu o pé ou algo do tipo, professores de educação física adoram se dizer especialistas em fisioterapia e você pode acabar sendo pego.- explica ela.

Sinto um sentimento de apreensão crescer dentro de mim, talvez acabasse realmente passando mal. Abigail percebe isso.

-Vai dar tudo certo. É só ter uma pouco de fé.- diz me incentivando, assinto com a cabeça. Por mais que​ eu quisesse ser corajoso e simplesmente dizer o que sentia, naquele momento ter fé era tudo com que eu podia contar naquele momento.

Antes que eu possa dizer algo o sinal toca e entramos, nos corredores nos dividimos, Abigail entra em uma das salas do terceiro ano me desejando boa sorte e eu sigo em frente, três portas a frente chego ao meu destino.

Os alunos vão se organizando nas carteiras de forma ruidosa, sentado na fileira do meio está Heitor, lendo um livro indiferente a todo o caos estudantil a sua volta. Tento ver a capa porém não consigo. Um pouco frustrado sigo até minha mesa e sento.

Tento manter meus olhos atentos à porta esperando pela chegada do professor, mas logo minha mente começa a fraquejar, qual seria o problema em dar uma olhadinha em Heitor? Ele estava distraído em seu livro.

Viro meu olhar despreocupado em sua direção e lá está ele, com os braços escorados sobre a mesa, o livro fechado, agora conseguia ver que se tratava de jogos vorazes, suas sobrancelhas se curvavam em sinal de curiosidade e seus olhos negros me encarando. Lhe admiro perdido em meus pensamentos, espere aí? Ele estava me encarando! Oh meu Deus! Desvio envergonhado, definitivamente precisava parar de me esquecer do mundo enquanto estava perto dele, até mesmo ele já havia percebido isso.

Suspiro profundamente, precisava fazer aquele teste que Abigail havia me dito, mesmo se descobrir que Heitor fosse me machucar, pelo menos isso poderia me ajudar a desencanar do que começava a se tornar uma obsessão.

Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora