02- Heitor

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É difícil explicar, estava com ali com Abigail tendo uma conversa séria, porém no momento em que vejo o garoto entrando pela porta minha mente parece desligar, seu nome é Heitor.

Fico simplesmente mudo e sem qualquer reação enquanto ele anda até o balcão, tudo o que consigo é admirá-lo.

Seu cabelo longo e rebelde estava jogado para trás, seus lábios carnudos permaneciam imóveis, sem demonstrar qualquer emoção ou entusiasmo,  seus olhos negros tinham um ar revolto e feroz que se escondia por debaixo de suas grossas sobrancelhas.

Em sua bochecha um curativo cobria algo, provavelmente algum corte feito enquanto se barbeava, normal, a única coisa que me deixava curioso era o fato de tê-lo coberto a tanto tempo, afinal já haviam se passado duas desde que havia chegado na cidade e desde a primeira vez que o vira sempre estava com o local coberto.

Ele diferente de mim se vestia com estilo, naquele dia usava uma jaqueta de couro sobre uma camisa preta levemente colada, calçava um par de coturnos, suas calças eram jeans como a minha, porém mais escuras e tinham um... Um... Oh meus Deus! Meu rosto começa a queimar intensamente. Entre suas pernas um grande volume despontava, provavelmente à meia bomba.

Desvio o olhar envergonhado mas acabo voltando. Involuntariamente mordo meu lábio inferior, porém em seguida balanço a cabeça, não podia ficar pensando naquela coisa, e não importa o quanto aparentasse grande ou tentador de se olhar.

Levanto minha atenção novamente para seu rosto e quando faço isso me deparo com Heitor me encarando. Fico sem reação, boquiaberto, a quanto tempo ele estava me observando? Teria ele me visto encarando seu volume? Eu queria enfiar minha cabeça em um buraco e nunca mais tirá-la de lá. Que vergonha! Não sabia o que fazer.

-Oi.- digo com um sorriso sem graça e lhe saúdo com um aceno de mão.

-Oi.- responde com sua voz grave e me cumprimenta com um balançar de cabeça. Logo em seguida o atendente entregue seu copo de café pra viagem, ele paga e segue na direção da porta, dá um leve sorriso quando passa por nós e se vai.

Escorrego pela cadeira, mesmo pra mim aquilo havia sido ridículo, tinha escolhido aquela cafeteira para conversar com Abigail sobre o garoto que estava gostando justamente por ser um lugar pouco frequentado, mas não esperava que ele fosse um cliente do lugar. E ainda por cima a forma com que havia agido, havia sido patético, todas as chances que podiam supostamente ter existido estavam mortas e enterradas.

-Eu acho que é isso.- digo me levantando.- Desculpa te fazer perder seu tempo, foi um erro e...

-Ei, espera aí.- diz ela agarrando meu braço.- Não pode ir embora assim sem mais nem menos.

-Se você assistiu os últimos minutos direito deve ter percebido que estraguei todas as chances de isso dar certo.

-Gabriel, sente agora mesmo na droga da sua cadeira, isso é uma ordem, e acho melhor me obedecer se não quiser que eu te faça sentar na base da porrada.- ordena ela firme, por mais ridículo que isso parecesse a obedeço pois sabia que ela era cem por cento capaz de fazer realmente aquilo.

-Então, agora que eu já sei de quem estamos falando... Vamos do começo, por que você gosta dele? Digo, ao ponto de me chamar, afinal, nunca chegou a comentar nada sobre ninguém antes.

-Eu... Eu não sei, mas ele mexe comigo de uma forma que não consigo explicar.- digo olhando fixamente para a mesa.

-Como assim?- pergunta curiosa.

-Não consigo mais prestar atenção direito na aula, minha mente fica fugindo pra ele, como espiadelas que dou quando estou perto dele, de vez em quando vou estudar em casa e vou ver no caderno escrevi o nome dele no lugar de alguma palavra da matéria.

-Espiadelas.- repete ela rindo, - Eu adoro esse seu jeito de vovozinho de falar, Gabriel.

-Mais foco no problema.- peço sério, levemente angustiado com a situação.

-Meu anjo, em primeiro lugar, você estar gostando de alguém não é um problema, todo mundo tem direito de amar e ter alguém do lado, independente do que seja. E segundo, se você quer ficar com ele vai lá, tente a sorte.- diz Abigail apontando para a porta por onde ele havia saído.

-Não é bem assim.- digo, os pensamentos que sempre me desanimavam retornam, meu rosto se contorce desconfortável.

-O que foi? Por que está me olhando assim?- indaga preocupada.

-É que... Olha pra mim, eu não sou o tipo de cara pelo qual as pessoas se apaixonam, sabe? Minha aparência não é algo de encher os olhos, em questão de personalidade também não tem nada de especial, sou tímido, não vou nem falar de estilo. No fim das contas sou só eu.- digo baixando o olhar.- Já o Heitor é tão... Interessante. Mesmo que ele fosse gay, que chances eu teria?

-Pode parar com isso, tá? Se não for pra acreditar em si mesmo e trabalhar encima de uma possível tentativa não precisava nem ter me chamado aqui. Mas agora que estou aqui já é tarde.

-Como assim tarde?-pergunto voltando a lhe encarar, ela abre um sorriso diabólico.

-Gabriel, meu anjo, você acaba de conseguir um cupido pra te ajudar na sua vida amorosa, em carne, osso e safadeza, euzinha!

Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora