16- Saberes de Mãe- Parte I

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-Ela está vindo pra cá... E quer te conhecer.- informa Heitor.

-Espera, o quê? Sua mãe, como assim?- questiono estático, havia começado a ter contato com Heitor a tão pouco tempo, não estava preparado para aquilo, mesmo tendo sido anunciado como um amigo de seu filho, minha mente trabalhava com a idéia de que a mulher seria minha possível sogra.- Me conhecer, tipo, pessoalmente?

-Isso.- afirma ele.- E eu disse que estava na rua, então acho que seria uma boa idéia se trocasse de roupa e saíssemos, por que se ela não nos encontrar lá quando chegar vou estar com sérios problemas.- afirma.

Bato na minha testa, toda aquela movimentação pela manhã e eu ainda estava de manhã. O Gabriel de alguns dias atrás que se sentia mal pelo que vestia agora me encarava envergonhado.

-Está bem, vou trocar de roupa e saímos.- digo correndo na direção das escadas.

Chego no meu quarto e abro o armário, procurando alguma roupa que me fizesse parecer alguém decente para a mãe de Heitor. Apanho uma calça jeans e uma camisa social branca, então me viro já abaixando as calças para me trocar.

Porém postado na porta está Heitor observando tudo, volto a puxar a calça de volta.

-O que está fazendo? Feche a porta!- mando.

-Ah, ok.- diz entrando e fechando a porta atrás de si.

-Não! É pra você sair! Não quero que me veja pelado.- digo exaltado pela vergonha.

-Não quer?- questiona ele com um certo estranhamento, entendo aonde queria chegar.

-Não agora, desculpa, é só que...- engasgo, aquele assunto era difícil pra mim.- Agora não, e principalmente não sozinho.

Se um dia nós dois estivéssemos tirando nossas roupas, talvez fosse mais fácil.

-Quer que eu tire a roupa também?- questiona agarrando a barra de sua camisa.

-Não,- digo resistindo a tentação.- Não temos tempo pra isso, só saia do quarto uns instantes pra que eu possa me trocar.

-Está bem.- diz finalmente saindo do cômodo.- Estou te esperando lá fora.

Sem saber quanto tempo mais tinha até a chegada da mãe de Heitor me visto apressado. Saio do quarto ajeitando o cabelo para o lado com as mãos.

Com os braços cruzados no corredor e o olhar perde que logo se foca em mim.

-Vamos?- questiono, ele se aproxima e me dá um rápido beijo.

-Vamos.- diz indicando para que eu vá na frente. Desço as escadas e antes de sair ponho um par de sapatos casuais.

-E agora?- questiono Heitor que me encarava com as mãos nos bolsos.

-Hum, vamos nos sentar em algum banco da praça, tentar parecer pessoas que estão ali a muito tempo.- diz ele, eu apenas assinto.

Nos acomodamos em um dos assentos na parte da frente do jardim, permaneço tenso enquanto observo as pessoas  nossa volta mesmo com Heitor tentando puxar assunto, não sabia a aparência de sua mãe para perceber sua chegada, o plano era agir naturalmente e eu estava falhando miseravelmente.

Depois de poucos minutos a espera chega ao fim com um grande e falso sorriso de Heitor.

-Minha mãe está chegando, relaxe e tente ser natural.- informa, dou uma risada como se ele tivesse contado uma piada enquanto morria por dentro. A quatro passos de distante uma voz feminina começa a soltar seu sermão.

-Heitor Cartelli. O que o senhor pensa que está fazendo aqui?- questiona ríspida.

O rapaz se levanta para receber a mulher, faço a mesmo.

-Oi mãe.- cumprimenta ele.

-Oi mãe.- nervoso, repito sua fala, ao perceber o erro sinto meu rosto queimar, ela me encara de forma julgadora.

A mulher a minha frente aparentava estar na linha dos quarenta anos, tinha pouco mais de um metro e sessenta de altura, se tinha tudo isso. Era até engraçado tendo em vista o quanto Heitor era alto. Sabia que enquanto a via ela me analisava, tentando descobrir se era ou não uma má companhia para o seu filho.

-Oi, meu nome é Gabriel.- lhe estendo a mão tentando corrigir minha primeira saudação.

-Eu já falo com você.- diz de forma áspera se voltando para seu filho.

-Nem um bilhete, você acha certo fazer isso com uma mãe, hein?!- indaga de forma furiosa, porém contida por estar em um lugar público.

-Eu já pedi desculpa.- responde Heitor sério.

-Desculpas são só palavras, e não fazem a menor diferença, esqueceu como é perigoso pra você sair por aí sozinho? Ou se esqueceu do que aconteceu da última vez que saiu sozinho?- questiona ela, naquele ponto já não sabia do que a mulher estava falando.

-Eu não esqueci, mãe.- diz Heitor desviando o olhar.

-Até parece que você não tem uma marca na cara pra lembrar do que aconteceu da última...- porém nesse momento ela pára, seu braço sobe e ela agarra o queixo de  Heitor, analisando seu rosto.- Seu corte sumiu.

Era estranho ver o quanto ela estava incrédula com aquilo.

-Sumiu,- informa.- O meu... Hum, amigo me ajudou.

Seu rosto cora quando pronuncia a palavra "amigo".

A mulher me encara com olhos semicerrados, vagando entre mim e Heitor, algumas vezes.

-Amigos... Hum, sei.

Meu Demônio (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora