Incêndio

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Sophie

— Vocês nunca mais farão isso, estamos entendidos? — Wilmer, meu pai, falava sem parar e eu já estava definitivamente cansada de ouvir todo aquele sermão. Parecia que estava ouvindo a ele com muita paciência, mas na verdade tentava focar nas coisas que via na estrada, pela janela do carro. — Isso foi realmente um absurdo! — Eu sei, mas não precisa jogar a todo instante isso na minha cara. Eu sabia que ele se referia mais a mim do que aos gêmeos, mas eu tinha bastante culpa no cartório. — Eu compreendo a vontade de ver a mãe de vocês, mas por que mentir? — Fazer escolhas erradas, era o meu ponto forte, na verdade, não deveria ser, mas acontece. 

— A culpa é minha, eu já disse! — Falei pela milésima vez. — Me desculpe! — Eu não queria decepcionar Wilmer. Eu devo tudo a ele, mas não me arrependia tanto assim. — Eu sei que sou a irmã mais velha e tenho que dar um bom exemplo aos meus irmãos, mas eu senti que era a coisa certa a se fazer... mas me arrependo por ter te decepcionado, mas não por ver Demi! — Seus olhos me encaravam firmes pelo retrovisor. 

— Eu sei que a ideia foi toda sua, Sophie! — Ele deu de ombros. — Eu te conheço bem, mas você precisa amadurecer e perceber que agora você não é mais a garotinha anônima de antes, você precisa prezar pela sua segurança e dos seus irmãos mais novos!! — Eu sabia que ele estava chateado e eu nem posso imaginar o quanto ele ficou preocupado. Ele estava certo, eu não deveria ter saído sem avisar e muito menos ter levado as crianças. Poderia ter acontecido qualquer coisa ruim. Um sentimento muito grande de culpa me consumia e eu continua a encarar Wilmer na direção. 

— Mas se a gente não fosse não teríamos o dia de hoje! — Peter talvez tenha percebido como fiquei com as palavras de Wilmer e falou isso para me animar de alguma forma. — Eu não estou arrependido, não! —Ele falou firme e vi nosso pai coçar a garganta.

— Se você colocar a gente de castigo, a gente fica! — Isabela falou em tom de deboche e agora tinha plena certeza que estaria de castigo para o resto do mês. Ele a encarou e até mesmo Monica que fingia não estar ali, viajando na tele de seu celular, o desligou e virou para o banco de trás onde estava os três encrencados. 

— Não irei colocar vocês de castigo, eu apenas quero que vocês entendam que isso foi perigoso e que estou decepcionado por vocês mentirem. — Ele nos olhou e seu olhar existia compaixão, mas bem lá no fundo um pinguinho de decepção. Eu sabia que esse olhar dele era de desapontamento, eu já tinha o visto antes, mas já fazia muito tempo. — Sei que vocês não confiariam em mim, por conta de proibi-los, mas eu juro que se vocês falassem comigo, eu iria pensar melhor sobre! — O silêncio se estendeu por alguns instantes no carro. Mas Monica o cortou.

— Crianças, me desculpe se intrometer, mas já passou... tenho certeza que vocês tiveram um bom aniversário, com a mamãe de vocês. — Ela falou de forma positiva. — Ficamos preocupados, mas felizes em saber que vocês estão bem! — Monica estava tentando levantar o clima do carro. Talvez se não fosse por mim nada disso teria acontecido. — Vocês gostaram dos bolos? — Sim, eles também levaram um bolo. Os gêmeos tiveram dois bolos e com certeza todos da clínica puderam saboreá-los.

— Estava delicioso e o bolo que você e o papai trouxe era muito bonito! — Isabela falou tocando o ombro de Monica. Ela sorriu para trás e ela era muito bonita. 

— Esse é o melhor aniversário de todos, graças a você, Sophie! — Peter me deu um soquinho no ombro. 

— É o melhor de todos! — Isabela falou concordando com o irmão. Wilmer me olhou pelo retrovisor novamente e me deu uma risadinha sincera e eu dei uma piscadela para ele. Talvez se não fosse por mim nada disso teria acontecido, realmente. 

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