Recomeçar

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Demi

— Você sente falta da sua mãe? — Perguntei ao levar uma colher de brigadeiro a minha boca. Ainda estava com os olhos ardendo por conta do choro e percebia que iria chorar a qualquer momento novamente. O abraço de Sophie e a ideia dela de pegar brigadeiro me ajudaram a me recompor. Mas sentia que somente aquilo não o suficiente para acabar com toda dor. — Você sempre fala sobre o seu pai, mas como era a sua mãe? 

— Demi, eu... — Ela me encarou e voltou a olhar a mesa. Como se pensasse na melhor resposta ou se perguntasse sobre algo que internamente a assombra. Era inserto tentar entender a mente que um dia foi machucada. Ninguém pode realmente entender a não ser quem compartilha da mesma dor. As lutas internas de cada pessoa são tão pessoais que não podemos nem se quer imaginar quais são. — Eu sinto falta da minha mãe! — Olhei em seus olhos e eles demonstravam sinceridade. — Tinha dias que ela era calma como uma brisa de verão e tinha dias que ela não aguentava me olhar. Eu passava todos os dias junto a ela, mas em todos os dias eu me sentia sozinha. Eu tentava me aproximar dela, mas ela nunca era carinhosa comigo. Parecia que tudo que fazia não a impressionava. Ela não se orgulhava de mim. Eu sempre ficava decepcionada por não ser o suficiente para minha própria mãe! — A garota falava calma, mas se recordando de tudo aquilo. A dor das recordações costumava assombrar as pessoas as vezes. Podia se ver em seus olhos o quanto tudo isso tinha a afetado de alguma forma. Hoje você não estava sozinha, eu estou aqui para você. Eu me orgulho de você, pequena criança. Você é o suficiente para mim. — Sei que sou o motivo para ela ser daquela forma comigo, mas até hoje não entendi. Até hoje eu não entendo como eu causava dor nela! — Sophie se culpava pela forma que a mãe agia. Talvez essa conversa seja dolorosa, mas está me fazendo entender um pouco sobre a sua luta. Eu a entendia bem. — Queria ver ela feliz, foram poucas vezes que vi ela sorrir! Eu sinto muito por ela ter ido antes de eu conseguir fazer com que ela se orgulhasse de mim! — Sua voz chorosa, seus olhinhos brilhantes, suas bochechas coradas. Estava concentrada nos detalhes de seu rosto. Eles despertavam curiosidade em mim. Minha menina, Sophie. Aquele rostinho doce tinha várias histórias dolorosas. Sua pele macia não tinha nenhuma cicatriz, todas estavam na alma. — Apesar da dor que eu sinto, eu a amo e a perdoou por tudo. Eu aprendi que as pessoas devem amar os seus pais e seria ingratidão minha fazer o contrário! 

— Você é garotinha muito forte! — Por mais que ela segurasse os seus olhos soltaram as lágrimas que a menina as prendia ali dentro. O choro mais doloroso era aquele que vem tão forte que somos incapazes de segurar.  — Foi muito bonito o que disse, mas não se sinta presa nisso, tudo bem? — Ver ela chorando me fez chorar também a dor que ela carregava também fazia parte de mim.

— Demi, você ainda está chorando! — Sophie compartilhava a mesmo sentimento que sentia pelo meu pai, queria ama-lo, mas as vezes eu me sentia tão mal que não conseguia. Isso era exatamente o que sentia as vezes. Aprendi que devo amo-lo, mas simplesmente não consigo. — Esqueça Fox, deixe no passado! — Ela se aproximou de mim e passou sua mão no meu braço. As lágrimas eram escassas, mas os suspiros vinham fortes. Eu já não chorava mais por todas recordações de Fox e sim por outras ainda mais dolorosas. — Por favor se acalme! — Tudo o que acontecia contribuíam para minha sensibilidade.

— Eu me vejo em você! — Ela me observava atenta e sua emoção novamente foi reprimida. — Eu tenho medo! — Medo que no futuro você fique como eu! — Eu sinto o mesmo quando se trata de meu pai! — Dessa vez ela me abraçou, mas foi algo calmo e duradouro. 

— Você não precisa ter medo, estamos aqui uma para outra, não estamos? — Ela sussurrou e eu concordei com a cabeça.  Ninguém sabe o que passamos, ninguém sabe sobre nossas conversas e nossos momentos assim. Ninguém sabe o quanto é importante para mim e o quanto me ajuda em momentos complicados ou o quanto me faz bem ficar contigo. Essa ligação e sentimento eu não tenho com mais ninguém. Apenas com um anjo chamado Sophie.

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