Bem vinda?

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Sophie

Corri como sempre fazia quando sentia medo. Estava triste por ter escutado o que não devia. Por qual motivo ela estava falando daquela forma? Sempre me sentia rejeitada, eu não iria ficar aqui, não sei como, mas deveria dar o fora.

Fiquei sentada em um banco no jardim. Não conseguia conter as lágrimas, eu estava sozinha de novo. Meu choro era silencioso e nem sempre eu conseguia fazer isso. Respirava fundo para me controlar, mas era impossível.

— Sophie? — Escutei uma voz doce, e uma mãozinha me cutucando. Merda. Virei para olhar quem era. — Você está estranha! — Era Isabela, sorri.

— Está tudo bem! — Eu me menti deixando escapar uma lágrima. Deveria estar toda vermelha. Respirei fundo enquanto ela me olhava meio sem graça. Me levantei. Ela abraçou minha cintura e eu achei fofo de sua parte.

— Vamos brincar? — Eu neguei, apesar de querer fazer isso. Me soltei de seu abraço.

— Acho melhor entrarmos, está anoitecendo! — Apontei para o crepúsculo que estava tomando o céu alaranjado e se tornando escuro, como aqui dentro. A garotinha assentiu chamando o irmão com a mão. — Vamos? — Falei para Peter que ainda brincava e seguimos para dentro da casa, como se nada estivesse acontecendo.

— Cansaram de brincar? — Eu assenti a Wilmer que estava sentado ao balcão da cozinha bebendo alguma coisa. Demi não estava mais ali, mas não ousei perguntar onde ela estava. As crianças menores saíram correndo nos deixando a sós. — Sente-se, Sophie! — Ele indicou afastando um banco que estava ao seu lado.

— Não! — Neguei. 

— Vai ficar em pé? —  Brincou e deu um leve sorrisinho. Sentei obedecendo. — Então, quais foram suas primeiras impressões? As crianças foram legais com vocês? — Eu poderia falar, que não. Que eu escutei a conversa, e que estava mal com tudo isso, mas não. Eu não fiz isso.

— Estou gostando! — Ele me encarou e sorriu orgulhoso, só que agora largamente. Isso me deixou feliz, porque eu sabia como ele realmente estava se sentindo por dento, mas mesmo assim ele sorriu de verdade ao saber. — A sua casa é bastante bonita, e também muito grande. O seu jardim também, é lindo. Eu também gostei bastante da Isabela e do Peter. Eles são legais! — Talvez ele tenha ficado um pouco feliz por mim, mas também arrependido por me trazer sem consultar Demi.

— Parece que você gostou bastante daqui! — Assenti ao que ele falou. — Percebi que o seu inglês melhorou! — Sorri, em forma de agradecimento. Wilmer estava sendo tão gentil comigo.

No fundo eu realmente não queria causar problemas. Eu só queria estar em algum lugar que as pessoas gostam de mim. Se pudesse traria meu pai de volta e minha mãe. Sinto a falta deles a todo instante, mas tento enxergar eles em tudo. 

Estava com medo de algo acontecer. Não queria que Demi me visse como uma intrusa, ou como um empecilho. Só queria agradece-la por todas as vezes que ela me fez sorrir. 

— Sophie, você está bem? — Fiz que sim a cabeça, eu havia aprendido a mentir. Talvez fosse mais fácil, do que explicar tudo, as vezes ele nem me entenderia. — Me parece tão distante! — Ele falou ao tomar um pouco de vinho, eu conhecia o aroma.

— Estou sim, só estou um pouco cansada! — Acariciou meu rosto com cuidado, me parecia estar triste, mas não tanto quanto eu.

— Você quer assistir um pouco de televisão, por enquanto? — Assenti. — Vamos? — Ele se levantou e me esticou a mão. A apanhei antes de descer do banco alto. Ele me acompanhou até a sala, onde as crianças estavam. Me sentei ao lado delas. Meus pensamentos voavam. Era estranho estar assim... Não estava prestando atenção, apenas viajando dentro de minha própria cabeça.

— Sophie, você gosta de que série? — Eu dei de ombros, nunca tinha acompanhado nenhuma. Peter me olhou confuso e riu.

— Eu vou conversar com a Demi, e logo desço para preparar alguma coisa pra nós jantarmos! — As crianças comemoraram, talvez porque ele mande bem na cozinha. Sorri a ele e daria tudo para ser uma mosquinha para bisbilhotar a conversa dos dois. — Vou aproveitar e levar suas malas para o quarto, Sophie! — Balancei a cabeça positivamente. 

Sem ao menos me conhecer ele fez mais por mim do que qualquer pessoa já tenha feito. Ele estava zelando pelo meu bem. Me mantendo forte e eu sabia que aquela risada para mim no topo da escada era positiva. Estou devendo essa para ele, pela eternidade.

get lost and find yourselfOnde histórias criam vida. Descubra agora