Ela não é um presente

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Demi

Estava irritada, mais do que o normal. Agora nós teríamos mais uma criança em casa. Não é possível. Será mais uma responsabilidade. Teremos que educar, ajudar, conviver, dar amor... mas já temos os nossos filhos e não somos muito presente na vida deles. Nosso trabalho não colabora, as vezes não temos tempo para as crianças, eu reconheço isso, mas amo o que faço, amo estar nos palcos, amo cantar, amo o meu público, é uma válvula de escape, a música é a minha vida. 

Ele não me comunicou. Não pensou antes de tomar uma decisão e nem sequer reuniu a nossa família para nos preparar para a chegada de outra criança.

— Nena! Me escute! — Ele adentrou nossa quarto. Me sentei a cama e bloqueei meu celular.

— Wilmer, por favor! — Eu não queria saber de nada. Ele encostou a porta. — Você deveria me comunicar antes. Não simplesmente trazer ela para morar aqui com a gente, achando que tudo sairia perfeito. — Ele se aproximou de mim, me fazendo encara-lo de perto.

— Eu pensei em fazer uma surpresa! — Ele disse se sentando na cama ao meu lado. Serrei meus olhos. — Parecia que você havia gostado tanto dela...

— Eu gostei, mas não imaginei! — O interrompi. — Estou pensando em nossos filhos, o como pode ser difícil para eles se acostumarem, ou como pode ser difícil para nós educar uma outra criança! — Foi apenas uma desculpa, eu estava com uma enorme vontade de chorar. Havia sido enganada. — Você poderia ter me ligado! — Choraminguei. Ele acariciou o meu rosto com sua mão direita, ainda me encarando. Estive tão bem esses dias que ele estava fora. Senti o seu toque.

— Me desculpe, eu pensei que você reagiria de outra forma! — Ele me puxou para um abraço, então o abracei, apesar de estar brava, ele ainda me trazia a calmaria.

— Eu não sei estou agindo assim! — Falei a verdade. Era estranho sentir tanto por aquela menina, era um misto de coisas, um amor além da vida, bizarro, medonho, todos esses sentimentos. Não era culpa dela, mas era estranho.

— Ela tem idade de nossa filha mais velha, pensei que poderia ser bom... — Não permiti deixa-lo terminar essa frase, como assim ele queria a substituir. Substituir a minha filha! Não! Nunca! O empurrei saindo de seu abraço.

— Saia! — Esbravejei. — Agora! — Estava furiosa, em chamas. Me levantei e ele fez o mesmo. O empurrei para fora. Aquelas palavras realmente me incomodaram.

— O que houve? — Wilmer já estava na porta, quando resolveu perguntar sobre a merda que havia dito. Ele me parecia confuso.

— Nunca mais... nunca... queira substituir a minha filha! — Estava em lagrimas, não gostava que tocassem no assunto de minha pequena Emma, aquilo me machucava muito. É difícil sentir a dor de perder um filho. Ainda era delicado lidar com a perda de Emma.

— Eu não quis dizer isso! — Ele esbravejou enquanto me observava em prantos. — Não seja egoísta, ela é minha filha também! — Uma lagrima caiu em seu rosto. Pude ver tristeza em seus olhos, era horrível vê-lo triste. — Ela sempre será nossa filha! — Ele falou ríspido. Senti o peso de suas palavras, mas não podia concordar com suas ações.

— Aquela garotinha, não é um presente! — Estava irritada. — Você não pode dar ela para alguém como um objeto, fazendo surpresas e embrulhando para presente! — Estava em soluços também. Todo o sentimento era estranho, doloroso, mas eu ainda sentia. — Você quis substituir nossa filha. Isso não é justo com Emma, nem mesmo com Sophie! — Ele chorava em silêncio, eu já não continha minhas lágrimas. Wilmer me olhou e ficou firme.

— Eu não quis dizer isso! — Ele não me entendia. Não entendia o que eu sentia. Eu estava cansada de tentar explicar.

— Por favor, me deixe sozinha! — Ele não disse nada, absolutamente nada, apenas saiu. Neste momento me permiti chorar, desabar. Eu não sabia lidar. Corriqueiramente entrava em minha cabeça que o amor que sentia por Sophie, era o que deveria dar a Emma. Doía demais saber que ela nunca irá voltar.

Nesta noite chorei até pegar no sono.

get lost and find yourselfOnde histórias criam vida. Descubra agora