O que ela mais ama

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Sophie

—  Parabéns! — Ela entrou no quarto onde estava e jogou o tablet em minha cama. Demi parecia irritada. Fiz questão de esconder rápido o meu diário. Ele tem sido meu melhor amigo nesses últimos dias, nesses dias escuros. Com tanto tempo nessa casa, ainda não me acostumei com a forma de agir dela. Tentei ler o que estava escrito, mas vi ela se afastar e sair pela porta. Fui ao seu encontro. 

— Espere! — Toquei em seu braço e ela se virou. O olhar dela me causava arrepios, não era algo medonho, mas era impossível fingir que ela não estivesse brava. — O que houve? — Perguntei com intuito de saber o que se passava com Demi.

— Você passou na prova, não leu? — Ela falava impiedosa, como se eu tivesse feito algo muito errado. Me senti mal por ter feito exatamente o contrário do que ela queria. Mas eu havia passado, como assim?  — Parabéns! — Demi ficou sem expressão alguma, geralmente quando queremos parabenizar alguém a gente fica feliz por isso, mas ela não estava. Ao menos o vice diretor pararia de pegar no meu pé, querendo sempre que eu me esforce cada vez mais. Agora eu estaria sem um peso em minhas costas.

— Eu passei? — Embora minha cabeça não parasse de pensar em diversas coisas eu ainda não tinha acreditado que eu havia passado. Eu havia conseguido me superar e eu estava muito feliz por isso, mas ao mesmo tempo muito chateada por ter feito Demi ficar desse jeito. 

— Passou, não escutou? — Por mais que ela estivesse me tratando dessa forma, eu a entendia. Ela não estava em um dia bom, e tenho certeza que se fosse outra pessoa nem me informaria que eu tivesse passado. Ela fez bem em me avisar e fez melhor ainda em me parabenizar, acho que as coisas já estão boas entre a gente.

— Meu Deus! Eu não acredito! — Pulei e fui ao seu encontro, me desculpe mas não conseguia disfarçar minha empolgação. — Eu achei que não iria conseguir tirar uma nota acima da média. Eu estou tão feliz que eu tenha conseguido, eu realmente achei que não conseguiria! — Ela soltou um riso bobo. Era tão gratificante para mim poder ver isso. Ser a razão desse leve sorriso. — Você não está feliz por mim? — Ela me olhou e um sembrante decepcionado se formou. 

— Estou, você foi muito bem, mas... — Demi deu uns passos para trás e tomou coragem para falar. — Não iremos te levar para fazer a segunda parte, que no caso é uma entrevista! — Já era de se imaginar, mas eu estava tão confiante.  

— Mas Demi, eu consegui! — Espero que o Sr. Ramos não fique bravo comigo, por eu não estar honrando o nome da escola e blá blá blá.

— Chega, sem mas! — Demi me negou. Deu as costas para mim. Fiquei sem reação. Ela saiu andando.

— É por causa daquele negócio que aconteceu com você? Eu realmente sinto muito e prometo que isso não vai acontecer comigo! — Ela se virou. Agora tinha certeza que havia falado algo que sinceramente, ela não gostou nem um pouquinho. 

— Não prometa coisas que não se tem certeza que poderá cumprir! — Mas eu tentaria cumprir. Eu poderia me imaginar estudando em uma escola que realmente valoriza os desenhos que eu tanto gosto de fazer. Mas no caso só imaginar, mesmo! 

— Eu quero muito estudar nessa escola! — Falei séria e ela me encarou. Ainda estávamos no corredor onde dava acesso aos quartos de hospedes. As vezes eu tinha medo de falar com Demi e ela acabar me batendo de novo. Mas ela não estava sendo grossa por esse motivo, eu sabia que havia algo a mais ali. Não sei o que poderia ser, mas eu pretendo ajudar.

— Mas eu já disse que não, estamos entendidas? — Era sempre assim, quando ela queria, eu não queria, quando ela não quer, eu quero. Mas eu entendia suas preocupações e seus medos. Não entendo porque tanto medo, mas eu entendia o que ela sentia. No fundo eu também era um pouquinho assim. Só ficava chateada por ela nem ao menos tentar enxergar o meu lado. 

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