Novo lar

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Sophie

Meu coração estava acelerado quando paramos de frente a casa. Ainda estava dentro do carro. Minhas mãos estavam soando e eu pude sentir ao apertar elas para ficar mais calma. Sabe aquela sensação de quando você tem que apresentar um trabalho na frente de toda turma, então é exatamente isso que estou sentindo. Wilmer saiu do carro, e por gentileza abriu a porta para mim, um gesto simples e encantador. Agradeci, embora não estivesse acostumada com isso.

Era grande, imenso, estava admirada com a imensidão daquele portão. A casa tinha um grande muro, e um belo jardim. Sinto que meus olhos estão brilhando, era da minha cor preferida. Meu coração palpitava rapidamente. Enquanto observava a casa onde passaria meus dias dali por diante, Wilmer pagava o taxista e pegava nossas malas. Entramos pelo jardim, e fomos até a porta. Ele a abriu e entrou. Indicou para fazer o mesmo, então entrei em seguida. Não havia ninguém ali.

Minha cabeça estava borbulhando de dúvidas e a insegurança surgiu em meus pensamentos. Será que eles vão gostar de mim?

— Sophie, seja bem vinda ao seu novo lar! — Ele estava sorrindo ao deixar minha pequena mala no chão. Estava olhando todos os detalhes, eu nunca tinha estado em um lugar tão bonito antes. Ele me abraçou novamente e eu sorri, pois precisava desse conforto.

— Onde estão as pessoas? — Estava curiosa e ansiosa, confesso. Olhava aquelas fotos espalhadas pelo aparador pertinho da porta de entrada e me sentia estranha, será que um dia a minha também estaria ali?

— Eu não sei! — Caminhou até o fim da escada e coçou a garganta antes de falar. — Pessoal, olha só quem está de volta!— Escutamos alguns movimentos no andar de cima e alguns gritinhos infantis. — Eu tenho uma surpresa! — Ele falou animado me dando animo e me deixando ainda mais ansiosa.

Ao topo da escada apareceu uma garotinha sorridente que estava com alguns de seus dentes faltando. Era Isabela, eu sabia porque ela tinha o mesmo sorriso de Demi e até mesmo o mesmo furinho no queixo.

— Papai, senti a sua falta! — Ela desceu as escadas correndo para dar um grande abraço em seu pai. Sua perna já tinha melhorado. Ele pegou a pequena nos braços. Ela beijou ele no rosto o que me fez lembrar de meu pai, e de como era carinhoso e amável. Meu coração ficou quentinho com aquela cena.

— Papai! — O garoto falou alto também correndo pela escada. — Eu te amo! — Eles estavam abraçados, e isso me fez ficar emocionada. Eles nem sequer perceberam minha presença ali.

— Meu garoto, senti a sua falta! — Ele disse colocando Isabela no chão e bagunçando o cabelo de seu menino, Peter. Isabela logo percebeu que eu estava ali e me encarou confusa. Eu fiquei olhando para ela sem reação. — Eu amo muito vocês! — Wilmer falou se aproximando de mim. 

— Quem é ela? — Isabela apontou para mim. Sem rodeios, ela apenas foi direta.

— É uma grande história! — Nesse momento ele coçou a cabeça, como se procurasse uma resposta certa. — Ela ficará com a gente por um tempo! — Talvez fosse isso, eu só passaria uma temporada. Sorri para garotinha tentando disfarçar minha frustação em não estar naquelas fotos. — Tudo bem para vocês? — Ele perguntou para as crianças que me olhavam com atenção.

— Sim! — A garota falou com entusiasmo e eu pude sorrir de verdade. — Podemos brincar? — Assenti a ela que não perdeu tempo em segurar a minha mão e me puxar para o sofá imenso e branco e me entregar um boneco do Batman que estava jogado por ali. Olhei para Wilmer e sorri meio sem graça.

— Ah! Ela poderia ser um menino, para brincar de videogame comigo! — Peter cruzou os braços junto emburrado enquanto caminhava junto com Wilmer em nossa direção.

— Eu brinco de videogames também! — Wilmer riu de nossa conversa. Meninas também podem fazer coisas de meninos seu desinformado.

— Então, tudo bem! — Ele falou ainda emburrado, mas me puxou para um abraço de repente o que estranhei de inicio, mas logo me senti confortável em seus braços pequeninos.

Quando abro meus olhos, saindo do abraço de Peter vejo Demi. Sua expressão não era boa, mas eu fiquei tão feliz em ver ela. Me lembrei de todas suas palavras, tudo o momento juntas e o quão ela me trazia paz, do teu abraço que era calmo e juntava todos os meus pedacinhos. Sem pensar duas vezes fui abraçando ela, com toda saudade e amor que tinha dentro de meu coração, mas fui tomada por um banho de água fria, meu abraço não foi correspondido o que me fez recuar.

— Oi, Demi! — Estava animada, mas ela simplesmente me olhou sem expressão alguma. Talvez nem se lembre mais de mim. — Lembra de mim? — Ela olhou para Wilmer e ele fez alguma coisa para ela, não consegui ver direito pois estava concentrada em seus olhos cabisbaixos. 

— Lembro sim, a garotinha do hospital! — Ela falou seca e eu fiquei em silêncio. Todos também. A energia pesada que ela tinha em seu olhar sobre mim, se espelhou pela sala de visitas e o assunto se encerrou ali por um momento.

— Crianças, vão mostrar o jardim para Sophie! — Wilmer quebrou o silêncio fazendo eu levantar o meu rosto e voltar a encarar ele. — A casa na árvore, ela vai gostar bastante! — Isabela voltou a se animar, mas eu não. Assenti, sabia que os dois iriam conversar, percebi que ela não gostou da minha presença. Caminhamos para fora, em silêncio. O céu estava lindo, era fim de tarde. Aquele laranja pôr do sol enraiava pelo local e eu me sentia reconfortante por isso. 

Ficamos ali por poucos minutos, em silêncio, mas que as vezes era interrompido pelos dois que conversavam na casa da árvore observávamos o sol se por, mas não sabíamos a hora de voltar. Senti falta da minha bolsa, havia esquecido na sala. Avisei as crianças que iria descer e elas resolveram continuar brincando na casinha. Fui pela portas do fundo a entrada da cozinha. Quando cheguei  perto da porta que daria acesso a sala, pude escutar um pouco da conversa que os dois estavam tendo. Já estava curiosa por isso, fiquei ali.

— Wilmer, como você faz uma coisa dessa sem me consultar? — A voz de Demi estava alta. Eu senti medo. Era sobre me trazer para essa casa. — Você parece que não pensa! — Ela gritou totalmente irritada com ele, por minha culpa.

— Calma, Nena! — Ele falou calmo, tentando acalmar ela. 

— Eu estou calma! — Eu queria ver o rosto dela, mas saber que ela havia falado alto, mostrando que não estava nada calma, me deixava com medo.

— Ela é só uma garotinha! — Ele falou ainda mais calmo.

— Eu estou decepcionada com você! — Demi esbravejou. — Você mentiu para mim sobre a viagem!  — Ela continuou, só que desta vez mais baixo, ela realmente estava triste. — Não me comunicou antes sobre sua decisão. Você não poderia adotar uma criança sem antes me consultar, saber minha opinião! — Era só a guarda provisória Demi. Sentia meus ossos serem quebrados novamente. Doía. — Se duas, está sendo complicado, imagine três crianças! Você mesmo diz, que não temos tempo para nossas crianças! — Ele realmente discutiam por minha causa. — Se pelo menos, você tivesse me avisado antes! — Neste momento eu pude saber o quanto eu não era bem vinda naquela casa.

— Eu pensei em fazer uma surpresa! — Ele falou decepcionado também. Eu estava no chão.

— Você é um babaca, Wilmer! — Pude escutar ela subindo as escadas, pois ela batia os pés. Saí dali o mais rápido possível. Eles não poderiam saber que escutei.

Seria melhor se eu realmente não tivesse escutado. Sinto que Demi não gosta mais de mim ou apenas fingiu gostar no hospital. Ela está diferente. Eu não era bem vinda nessa casa, como imaginava que seria. Não crie expectativas, elas são quebradas e te machuca. Esse não era o meu novo lar.

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