Memórias

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Demi

— Ela está mais calma? — Assenti baixinho, ainda com a garota em meu colo. Ela dormia, depois de eu dar metade do meu calmante para ela. Ela estava agitada, mas quando pude acalentar ela em meus braços ela se acalmou. Enquanto a Wilmer, não queria falar com ele. Nem ao menos olhar para ele. — Eu posso ir buscar os gêmeos, se quiser!  

— Eu vou ir busca-los! — Falei ao colocar a menina deitada em sua própria cama. Sua expressão finalmente estava leve. Me senti mais relaxada por isso. Eu só queria protege-la. Apenas isso. Posso sentir a dor que ela sente, mas não posso remove-la de seu coração.  

— Me desculpe por tudo que fiz ou falei! — Ele ainda não entendeu que eu não quero conversar. Não é apenas o que ele fez, mas sim tudo o que está acontecendo. Toda essa angustia que sinto por estar com alguém que já não me faz bem! — Eu não queria magoar vocês!  

— Mas magoou e não há pedido de desculpas que limpe o que você falou! — Cobri a garota com o cobertor. Beijei sua testa. Saí do quarto ao falar seguida por Wilmer. Desculpas não costumam apagar feridas!

— Valerie, você pode por favor, ficar de olha em Sophie! — Ainda estava preocupada. Não queria deixa-la. Mas estava me esforçando para mudar, para ser uma mãe melhor, para todos os meus filhos.— Ela está tendo uns pesadelos e se caso ela acordar chorando ou gritando, você apenas a acalme, eu volto logo! 

— Tudo bem, senhora! — Valerie estava se mostrando eficiente. Isso era bom! 

— Você pode me chamar de Demi, eu não gosto muito desses termos! — Ela sorriu. Mas não consegui sorrir de volta. Wilmer também deu uma risadinha nasal, mas com apenas uma encarada pude cortar o barato dele.

— Estou indo para empresa. Passarei a noite por lá! — Tinha algo de estranho nisso! 

— O melhor que você faz! — Falei firme. Ele apenas me encarou. Saí do ambiente apenas pensando em Sophie, o que estava acontecendo com ela? Independente do quê, eu ajudaria ela a superar. 

É tão estranho se ver em outra pessoa. Ela chegou para me trazer uma certa calma. Conseguiu mudar meus pensamentos. Por onde essa menina passa ela colore, com as cores mais bonitas. Aprendi com ela a sempre enxergar o lado bom de tudo. Eu a amo por isso! Essa pequena vida me trouxe forças que me mantém viva. Ela não veio ao mundo por meio de mim, mas é como se estivesse ali a tanto tempo que já se tornou parte minha. Sophie, sempre será minha abelhinha!

Sophie

— Mãe, por que você está chorando? — Eu falei ao ver ela chorar próxima a mesa da cozinha. Estava com um copo de bebida em sua mão. Ao perguntar ela me olhava com a expressão mais medonha possível. Meu pai não estava em casa, por isso sentia medo.  

— Não me chame de mãe, sua criança inútil! — Eu não era inútil. O passado estava misturado com o presente. Como isso era possível? 

— Mas você é minha mãe, não é? — Perguntei e ela me apertou as bochechas me fazendo encara-la olho a olho. Ela me machucava. 

— Não entendo por que fui e engravidar de você!  — Ela estava arrependida de ter me colocado no mundo, no fundo eu também de  ter nascido. Cada vez com mais ódio ela me encarava e me machucava ainda mais. — O seu pai é um criminoso ordinário! — Meu pai Caleb não era isso. Ele era um bom homem. Meu papai não merece isso que você está falando!  — Ele não se importa com você!  — Ele se importa comigo sim, isso não é verdade. — Eu deveria ter feito o que ele sempre quis! — Ainda apertando o meu rosto pude sentir lágrimas escorrem pelo meu rosto. Eu entendia muito bem o que ela quis dizer!

— Mamãe, meu pai não é um bandido!  — Ela me soltou e apertou o copo ainda mais forte. Pude ver uma mulher entrar. 

— Cala essa sua boca, antes mesmo que eu te mate!  — Ela falou nervosa. Eu não tinha feito nada. Sentia medo, mas mesmo assim fui ao seu encontro. Eu queria apenas o seu colo. — Me deixe em paz, você é como ele, identifica a ele, não me olhe, não toque em mim! — Ela me empurrou, mamãe por que faz isso comigo? Eu queria apenas um abraço, eu quero apenas um pouquinho de você!

— Mamãe!  — Choraminguei. A mulher me pegou no colo, mas eu não a queria. Eu queria a minha mãe, mas ela me repugnou. Me alinhei ao corpo de outra mulher, mas ele não se encaixava ao meu. 

— Não me chame assim!! — Dói amar alguém que não ama. —Eu te odeio, Sophie! — Ela jogou o copo na minha direção. O barulho me assustou! 

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Acordei assustada. Isso não era uma espécie de pesadelo e sim uma memória que me atormentava. As memórias já não me machucam, mas me atormentam. Aquilo realmente aconteceu, aquela sensação ruim veio a tona novamente. Por que isso acontecia? Por que agora que tudo estava indo tão bem? 

Sabe, é que querendo ou não, eu vou sempre me lembrar, querendo ou não, você vai estar sempre presente. E eu posso até fingir o quanto eu quiser que isso não me atinge, mas no fundo como toda força a verdade vai aparecer, não tem como negar você foi, é e sempre será minha mãe. E eu realmente queria ter toda sabedoria e maturidade para entender o porquê disso tudo estar acontecendo, mas eu não tenho, e na verdade eu não entendo, eu procuro saber onde errei, onde foi que as coisas começaram a sair dos trilhos, mas na verdade eu não sei. Por que você fazia isso comigo mamãe? Por que você me odiava? O que eu fiz para você?  Isso são coisas que eu nunca saberei por que agora você foi, e dessa vez você não vai voltar, e agora parece que eu nunca vou conseguir esquecer, memórias que estão guardadas no meu coração, memórias de momentos que me machucam e me rasgam, a verdade veio a tona agora, e talvez com muita sorte o tempo apague, pois essas memórias são tão dolorosas. Por conta de toda essa dor não consigo confiar em ninguém. Quando finalmente acredito que as coisas vão dar certo, isso volta e volta ainda mais forte. Essas memórias me matam aos poucos. Elas roubaram minha felicidade.

get lost and find yourselfOnde histórias criam vida. Descubra agora