Sophie
Talvez estivesse sonhando. Tudo aconteceu muito rápido. Eles entram no meu quarto de hospital, e eu mal pude acreditar. O que me fazia tão especial para eles estarem ali? Quando os olhei pela primeira vez, fiquei muito emocionada. Na verdade, estava sentindo um misto de emoções. Era como se estivesse assustada e ao mesmo tempo muito feliz. Meus olhos estavam marejados, mas não me permiti chorar.
Algumas recordações ainda me assombram, era como se minha cabeça me transportasse a outro lugar, era como se saísse de meu corpo e vivenciasse aquilo novamente. Saí dos meus pensamentos quando escutei meu nome sendo pronunciado, e me permiti prestar atenção ao que me acontecia no presente.
— Sophie França, você gostaria de morar com o Wilmer Eduardo Valderrama? — Era como soubesse exatamente o que dizer, mas algo aqui dentro ainda sente receio. Quando conheci o Wilmer eu pude me sentir segura, mas eu ainda sentia medo. — Lembrando que isto é apenas uma guarda provisória, pois existe uma série de processos que serão feitos para a guarda definitiva. Então Sophie, eu quero de você, se está tudo bem nisso? — Eu queria muito dizer que logo que..., mas e se isso não fosse a melhor das opções? E se fizer a escolha errada? — Por favor, responda!
— Eu gostaria de dizer que... dizer que... que sim, eu quero! — Não tinha certeza se essa foi a melhor escolha para ser feita, mas posso dizer que as escolhas erradas as vezes nos levam para o caminho certo. Eu gostava de Wilmer, ele vinha sendo meu melhor amigo nesses dias tão perdida. Sei que não me abandonaria. Já que me sinto totalmente sozinha. Ele sempre esteve aqui, esse tempo todo.
— Ótimo! — A juíza que estampava um sorriso no rosto, assentiu. — Bom, Sr. Valderrama, a partir deste momento, você terá a custódia provisória da guarda de Sophie França. — Eu nunca estive em um local assim antes. Não era como nos filmes. Eles me olhavam e eu sentia vergonha, por todos esses olhares em cima de mim. Alguns me olhavam com pena, outros com remorso, mas eu seguia firme e sabia que tudo iria ficar bem. — Está tudo bem? Para ambas as partes?
—Sim! — Respondemos em um único som, a voz dele soou mais firme e forte do que a minha.
— Sophie, você terá três meses de adaptação! — Eu mal podia pensar em ter que mudar tudo. De casa, de bairro, de país e de família, mas as coisas aconteciam e eu apenas deixava a maré me levar. — Ao passar um ano, você poderá ficar definitivamente com Wilmer e sua família. — Definitivamente é uma palavra complicada. Eu mal poderia saber se eles iriam gostar de mim. Você sente receio de ir morar em outro país, ainda mais quando se vai morar com outras pessoas, que você quase não viu a vida toda. — Estão de acordo?
— Sim, tudo bem! — Wilmer disse com um português meio puxado para o espanhol. Eu concordei com a cabeça, totalmente confusa, mas a Juíza prosseguiu.
— Sr. Valderrama, você está com a guarda provisória da criança! Se caso ela de adaptar e quiser permanecer com sua família, você terá a guarda definitiva. — A ênfase que ela deu em "quiser" me deu um conforto, não que não queira, mas estava com medo. Tudo aquilo era tudo muito novo. Acho que é normal sentir isso. — Você poderá levá-la para sua residência, e poderá dar andamento ao processo de adoção no seu próprio país. Algumas assistentes sociais visitaram sua casa, para checar a qualidade de vida da menina. Apenas estaremos prezando para o seu bem-estar! — Todos os presentes concordaram, até mesmo minha responsável. Eu a conheci um dia depois de conhecer ele. Ela poderia ser bem legal comigo. Eu não precisei ir a nenhum orfanato, nem nada disso. Mas eu estava sozinha, estava com medo e confusa, mas deveria encarar. — Então, está tudo certo!
❂
Eu só pude me dar conta que as coisas realmente estavam acontecendo quando me sentei ao lado do Wilmer em um grande avião. Pude me sentar na janela e observava a vista. Era como se tivesse feito isso antes, mas não, essa era minha primeira vez. Era familiar observar o quanto as casas estavam minúsculas e as nuvens pareciam estar bem longe de onde estava passando. Tenho a impressão de que estou voando muito, muito alto. Eu que sempre gostei de observar o céu hoje podia estar nele. Isso era incrivelmente apaixonante.
Flashback
— Oi! — Eles disseram juntos. Talvez não quisessem me assustar, mas isso era inevitável. Mesmo com as dores do acidente, eu pude me sentar na cama rapidamente.
— Oi! — Falei boquiaberta. Eu tinha feito inglês toda a minha vida, mas eu nunca tinha conversado assim. Eu já tinha visto os dois na televisão, mas agora eles estavam no meu quarto, no meu quarto de hospital. — Vocês são de verdade? — Eles se aproximaram de mim e ela com sua gargalhada incrível me trouxe felicidade e isso era algo que a um tempo eu não sentia.
— Você está melhor, por conta do acidente? — Demi perguntou enquanto ele me estendia a mão. Estava anestesiada, eles estavam bem na minha frente e eram lindos, como na tv. Sorri meio sem graça.
— Estou... vocês... como vocês vieram parar aqui? Eu gosto muito de vocês. E do trabalho de vocês. Mas como ficaram sabendo? — Estava afobada, e comecei a falar em sequência sem tempo para pausa. Eles riram, como se eu estivesse fazendo alguma bobagem. Mas eu só estava um tanto nervosa.
— Calma, uma pergunta de cada vez, mocinha! — Demi tinha um sorriso largo em seu rosto. Eu realmente amei vê-la ali, na minha frente, no meu quarto de hospital, e ainda sorrindo para mim. Ela tinha um sorriso lindo e por um momento eu esqueci minhas dores.
— Isso, respira! — Ele sorriu também. Estava tão feliz e agradecida por eles estarem ali. Era como se esquece de tudo de ruim que já me acontecerá e vivesse somente aquele momento. O mais estranho era sentir que agora eu estava segura.
— Bom, nós ficamos sabendo de você por conta do acidente que ocorreu com você e seus pais, você se lembra? — Demi me perguntou, com olhos de compaixão. Por mais que quisesse esquecer eu me recordava disso a todo instante. Era horrível. As lembranças costumam ser fantasmas para mim.
— Sim, me lembro, nós estávamos no carro, e houve um estrondo grande... escutei um grito oco de minha mãe... e eu não soube o que fazer... — Sinto meus olhos ficarem marejados, eu não sabia se meus pais estavam bem, eu não sabia o que havia acontecido depois, de estar no hospital, ninguém me informava nada, exatamente nada. Eu só queria que tudo ficasse bem logo e voltássemos para casa. Ao me recordar daquele momento a dor foi sentida. A dor é amarga. Não a dor física de meus ossos quebrados, mas sim a dor de me sentir sozinha. Senti um abraço vindo de Demi que se sentava ao meu lado na cama seguido por um beijo estalado na minha testa. Meu coração se aqueceu. Pude abraçar seu corpo mais forte, apesar do dor eu gostava de estar ali. Não aguentei segurar as lágrimas. Chorei.
— Se acalme, está tudo bem! — Suas mãos acariciavam meus cabelos. Estar naquele lugar não era bom. Eu não sabia o que fazer, mas sentia que havia um leve sorriso em meu rosto, por ela estar ali me acalmando.
— Tudo irá ficar bem! — Wilmer se aproximou e acariciou meus cabelos. — Tudo sempre acaba ficando! — Eu nunca havia recebido tanto carinho como hoje e isso me trouxe paz. Não era como se eu sentisse a necessidade de ser o tempo inteiro paparicada por alguém, mas é que isso nunca aconteceu antes.
— Você é tão forte! — Quando pude abraçar Demi me senti única e também sei que ela sentiu algo seu coração pois ele se acelerou. Era como se nós duas já tivéssemos uma história, uma longa história, como se nos conhecêssemos a anos. — Permaneça forte! Esse é o meu mantra, você pode pensar nele quando quiser! — Demi estava emocionada e pude ver que seu marido também. Eu não havia esquecido dos meus pais, mas ao olhar diretamente aos olhos de Demi, eu me sentia bem, por um instante eu não estava sozinha. — Assim mandarei minha força a você, não importa onde estivermos! — Senti a obrigação de abraçar ela novamente. Talvez estivéssemos ligadas de um jeito que ainda não entendi. Nunca acreditei em outras vidas, mas ao vê-la...
— Obrigada por sem ao menos me conhecer, ter salvado a minha vida! — E neste momento ela me abraçou tão forte que pude sentir o seu coração bater.
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get lost and find yourself
Fanfiction(Em revisão) Ao mesmo tempo que perdeu o chão, Ganhou o mundo! Enquanto muitos lutavam por milhões, Almejava um abraço! Uma beleza tão sutil Que se torna única! Sua lealdade é um traço puro, Formando um laço com os dedos mindinhos! Ela busca se enco...