Aos céus

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Wilmer

Pedia forças aos céus. As coisas não estavam bem e tudo isso acontecia por minha causa. Me sentia na obrigação de resolver tudo. Deveria conversar com as crianças e depois me entendia com Demetria.

Ela preferia estar no quarto e sozinha quando nos desentendíamos. Conseguia entender ela e até mesmo dar esse espaço a ela, para pensar um pouco sobre quais são as melhores decisões a serem tomadas.

Fui para o quarto dos gêmeos, eles estavam sentados em suas camas. Isabela estava jogando em seu eletrônico e Peter estava lendo. Eles me encararam.

— Posso entrar crianças? — Pergunto apenas por educação, pois praticamente já estava dentro do quarto, afinal a porta já estava aberta. Isabela voltou ao encarar o seu eletrônico, ela não era muito de jogar ao contrário do irmão.

— Claro, pai! — Peter falou me chamando com as mãos e eu fui ao encontro das duas crianças. Olhei as horas e ainda estava cedo para coloca-los na cama para dormir.

— Ela vai viajar mesmo? — Isabela perguntou curiosa, deixou o que estava fazendo de lado e eu me aproximei de minha garotinha. Assenti a sua pergunta. — Todo mês isso! — Ela reclamou pela agenda cheia de eventos da mãe.

— É o trabalho dela, nós temos que aceitar! — As vezes era difícil apoiar Demi. Isabela era a pessoa que mais sofria com tudo isso e eu sabia bem. Isabela era mais apegada a mãe e isso estava se tornando algo distante. Por mais que Peter seja mais emotivo, Isabela era a que mais sentia a falta de uma mãe presente. — Eu irei conversar com ela! — Falo e consigo ver em seus olhos o quão aquela noticia é dolorosa. 

— Sempre o trabalho! — Peter falou de forma indignada o que me deixava um tanto quando confuso ao imaginar que eles só tinham sete anos.

— É verdade! O trabalho dela sempre vem na frente, antes mesmo que a nossa família! — Isabela falou o que estava preso em sua garganta e voltou a jogar como se encarar aquela tela fosse a tirar dessa realidade.

— Eu sei que isso acontece, mas nós iremos mudar isso! — Peter voltou a pegar o seu livro cheio de imagens coloridas e voltou a se deitar na cama. — Vocês não estão de castigo, podem descer se quiserem! — Tento falar com a animação, mas não sou correspondido.

— A gente quer ficar aqui! — Isabela falou firme sem tirar os seus olhos do seu eletrônico. Eu estava devidamente chateado por esse clima pesado que estava em casa.

— O que acha de assistirmos alguma coisa e comermos algumas guloseimas? — Eles nem se quer me olharam de volta. Respirei fundo. 

— Não papai, já comemos! — Peter falou me olhando ainda com seus olhos tristonhos.

— Então tudo bem! — Olhei para ele, ainda mais chateado por vê-los assim e não poder fazer nada. — Eu irei conversar com a mamãe! — Isabela me olhou por cima do seu aparelho e deu um sorriso meio esperançoso.

— Pai, depois você pode ler uma história para a gente dormir? — Assenti ao meu menino ao me recompor e ir em direção a porta.

— E também contar o que vocês decidiram! — Dei uma piscadela a minha menina. Saí do quarto, e segui para o quarto de hospedes, onde estava a Sophie. Chegando lá, a porta estava fechada então bati na porta.

— Sophie! — A chamei e bati três vezes em sua porta. — Sou eu, Wilmer! — Ela pigarreou. Escutei seus passos atrás da porta.

— Eu sei... — Ela respondeu com a porta ainda fechada. — A porta já está aperta! — Ela destrancou a porta e eu a abri com cuidado. Deveria tirar as chaves, era um tanto perigoso deixar a porta trancada, mas não deveria tirar sua privacidade, entrei no quarto.

— O que houve? — Ela estava com a cara de choro e aquilo me preocupou. — Por que está chorando? — Perguntei, apesar de saber que talvez seja pelo incidente do jantar. Ela chorou ainda mais por minha pergunta.

— Me desculpe! — Ela se aproximou de mim e me abraçou. Tinha aquela garotinha ferida ali em meus braços e eu sentia medo de machuca-la ainda mais. — Eu faço tudo errado, Wilmer! — Mesmo sendo o adulto da situação, também tenho a mesma sensação, Sophie.

— Foi apenas um acidente. Não precisa se preocupar! — Tentei tranquilizar ela, pois percebi que estava nervosa. Eu nunca tinha a visto desta forma. Seu choro e seus soluços ecoavam pelo quarto. — Você não está bem. O que aconteceu? — Seus ossos tremiam e se apertavam contra os meus. Ela precisava de alguém e a única coisa que recebia era solidão.

— Demi não gosta de mim! — Ela falou entre seus soluços. Me afastei de seu corpo frágil e pedi para ela prosseguir. — Eu sinto como se ela não gostasse e talvez ela esteja indo viajar porque eu estou na casa dela! — Eu mal conseguia entender o que ela dizia entre o choro. Agora eu podia entender o seu desespero. Novamente ela se sentia rejeitada. — Eu não sou bem vinda, eu sinto muito atrapalhar, eu só não quero...

— Sophie, pare! — Me abaixei a sua altura e sequei uma de suas lágrimas. — Por favor, ela nunca disse isso a você! — Demi estava sendo dura com a menina, mas eu podia dizer com propriedade que ela adorava a garota. — Eu peço desculpas por ela! — Sophie me encarou e eu pude ver a profundidade de seus olhos escuros. 

— Não é a mesma coisa! — Ela desviou o seu olhar e saiu em direção a janela do quarto. Encarou a imensidão do céu nublado e ficou ali, como se pedisse forças a ele, assim como eu.

— Eu irei conversar com Demi! — Sophie voltou a me olhar assustada. Me parecia que ela tinha medo de Demi. — Você só precisa parar de se culpar por algo que não existe! — Eu havia a colocado nisso. Eu deveria consertar as coisas. — Eu estou indo falar com Demi e espero sinceramente que você pare de se culpar! — Ela negou e eu a olhei confuso.

— Eu não quero causar mais problemas! — Caminhei até a janela do quarto e tentei tranquilizar a garotinha. Sentia compaixão por ela. Sophie ainda chorava.

— Você não causa problemas Sophie!— Demi estava sendo tão amável com ela e de repente ela se torna o contrário. Sophie acabou de perder os pais ela está sensível, sem contar que essa fase de adaptação não deve ser fácil. — Você é muito mais que bem vinda nesta casa! — Falei de forma positiva. — Eu vou indo conversar com Demi, daqui a pouco eu volto para ver se está tudo bem! — Disse indo em direção a porta. Ela apenas assentiu e voltou a imensidão do céu nublado e escuro.

Amar Demi era um ato de loucura. Você nunca sabe o que te espera. Demi era intensa demais, as vezes o sentimento ultrapassava sua razão. Não tinha palavras para descrever o que sinto por essa mulher, eu jamais senti isso por qualquer outra pessoa.

Entrei em nosso quarto e ela estava em seu computador, sentada a cama e totalmente concentrada em seus afazeres. Percebeu minha presença ali e me encarou levantando os óculos de grau que estava sobre seu rosto.

— Demetria, precisamos conversar! 

get lost and find yourselfOnde histórias criam vida. Descubra agora