Um deles

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Demi

— Sophie, eu não quero conversar! — Ela ainda insistia do outro lado da porta. Me perturbava, quando o que eu mais queria era ser esquecida. Ela não desiste! Essa era uma das suas características que estavam sendo destacada ao passar dos dias. Sophie tinha perdido os pais, assim como eu perdi Emma. Ela sabia o quanto era difícil a dor de perder alguém.

— Eu só queria pedir desculpa! — Ela não tinha culpa do que aconteceu no passado. Mas aquele sentimento veio a tona novamente, e isso não tinha meu perdão. Eu odiava me sentir assim. Escutei seus passos se distanciando. Não poderia ser desta forma com aquele pequeno anjo. Mas eu estava quebrada!

É como se eu vivesse fingindo nada ter acontecido, vivesse em negação. Como a vida segue sem você? E vejo a vida seguindo, não tem outro jeito. Eu sinto sua falta, mas sei que você pode estar em um lugar melhor. Mas não aceito você ter partido antes de mim! Eu ainda não quero acreditar! E então a realidade, ela vem chegando com lembranças, engasgando tudo, e nesses dias a dor transborda em lágrimas. Não consigo aceitar, entender... porquê tão cedo?! Por quê tão repentino?! Por que você, Emma?

Respirava fundo. Seja forte. Eu não era. Eu estou cansada! Eu não sou perfeita! Lidando com a realidade, sou difícil e complicada. Jamais negarei isso, faz parte de quem sou e do que me tornei durante esses anos. Eu garanto que se pudesse ser perfeita eu seria, durante anos tentei e me comprometi em ser a melhor pessoa que eu poderia mas jamais consegui. A dor era mais forte. Eu fraca demais. 

Wilmer

— Me ajudem com as malas!!! —  As crianças correram para dentro. Talvez seja a saudade da mãe, da irmã mais velha. Estava orgulhoso. Eles se comportaram direitinho durante a viagem. Afinal só estava eles e eu. Sem babás, ou algo do tipo.  — Crianças!

— Que bom que chegou, Wilmer! — Marissa estava na sala de visitas. Com seu celular em mãos. Ela era uma amiga muito querida de Demi, assim minha também. — Eu tenho uma reunião as 19hrs, e não queria deixar Sophie sozinha!

— Como assim, sozinha? — Coloquei as malas no chão e as deixei ali. Ela bloqueou o celular. — Onde está Demi?

— Podemos conversar em outro lugar? — As crianças ainda estavam ali. Eu concordei e fomos para cozinha.  — Vou explicar por partes! — O que aconteceu desta vez! Era só que faltava! — Demi foi para entrevista. Eu a encontrei lá! Sophie ficou sozinha, porque Lucy não poderia ficar com ela está noite! — Isso eu já havia ficado sabendo. O marido de Lucy estava doente e ela iria cuidar dele. — Eu não sei muito bem o que de fato aconteceu, mas Sophie, achou uma caixa de Demi que tinha músicas para Emma, sei lá! E então quando chegamos ela perguntou, para Demi, "quem é Emma?" — A dor de perder Emma, ainda era grande. Demi nunca superou, no fundo eu também. Nunca entendemos porque Emma se foi tão cedo, mas não questionei os projetos de Deus em nossa vida! Demi nunca se conformou com essa dor que a perseguia! Uma mulher forte como ela também tem seus pontos fracos! A Demi tinha dois! Emma e seu pai! — Então ela surtou!

— Merda! — Eu odiava saber que Demi surtou. Porque ela poderia fazer qualquer coisa. Ela sempre age por impulso e depois se arrepende. Na hora fiquei preocupado com Sophie. — Como está Sophie?

— A Demi foi bastante grossa com ela! —Demi era praticamente grossa com todos, quando estava em dias de nuvens. Era preciso ter bastante paciência! — Na verdade até comigo, talvez ela esteja com muita raiva de mim, porque eu disse que um dia os seus filhos vão saber! E isso é a realidade, estou mentindo? 

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