Destino

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Sophie

Flashback

A claridade que invadia o quarto indicava que já era manhã. Estava frio e minha cabeça estava latejando. Não havia ninguém ali e eu sabia que minha cabeça doía tanto por conta do sonho mais maluco que eu já tive. Toquei a campainha para chamar alguma enfermeira. Que ao chegar já foi logo abrindo ainda mais a cortina. 

— Bom dia! Até que enfim a Dona Margarida acordou! — Ela estava animada e sua voz alta e alegre me fez lembrar da forte dor de cabeça. — Acho que alguém acordou de mal humor hoje!

— Estou com dor de cabeça! — Choraminguei.

— Bom, eu pegarei os remédios, enquanto isso vamos fazer sua higiene! — Me levantei com dificuldade. Ela me ajudou pacientemente e com dedicação. Estar aos cuidados de alguém me trazia calmaria e apesar de me sentir sozinha, ao ter sua piedade me senti em paz. — Tome o seu café da manhã! — Concordei enquanto o moço da cozinha me entregava minha bandeja.

Talvez ainda existissem pessoas boas no mundo, bastava apenas eu enxergar... a enfermeira falava enquanto eu comia uma salada de frutas e tentava organizar os meus sonhos. Eu sempre fui presa a esse mundo imaginário, ao mundo dos sonhos, sempre fui de inventar situações para fugir da minha própria realidade e isso era estranho. Os sonhos me perseguem e as vezes não consigo distinguir o é real e o pode ser apenas fruto da minha imaginação...

— Você está me ouvindo ou viajando na maionese? — Meus pensamentos são interrompidos por uma mão passando em frente aos meus olhos.

— Hãn? — Dou risada, e ela ri também. Para disfarçar minha chateação por ela ter parecido grossa. — Eu vou falar uma coisa, talvez possa parecer bobeira, mas a Demi Lovato esteve aqui? — Ela fez que sim e isso me assustou. — Sério? Eu não me lembro de quando eles foram embora, eu acabei dormindo e...

— Eles se foram tarde da noite! — Então era real. Aquilo realmente aconteceu... — Eles são famosos e trabalham muito. Seguem uma rotina, espero que você não esteja chateada...

— É porque eles nem sequer se despediram de mim! — Eu não estava chateada, mas é que parece que não aconteceu. Que aquilo foi apenas algo da minha imaginação. 

 Talvez não queriam acordar você! — A enfermeira se aproxima de mim e passa a sua mão leve sobre meu rosto. A forma como ela me olhava as vezes era assustadora, mas eu confesso que gostava, eu nunca senti isso antes e estar sobre a proteção de uma mulher me fazia me sentir bem. 

— Você é minha amiga? — Talvez minha pergunta a tenha surpreendido, mas ela respondeu que sim. — Para sempre? — O estrondo da porta nos chamou atenção, interrompendo a nossa conversa.

— Você deveria ter voltado a meia hora atrás! — A enfermeira chefe gritou. 

— Eu apenas estou fazendo o meu trabalho, assim que terminar de ajuda-la procuro você! 

— Você é paga para estar a minha disposição! Te aguardo em 5 minutos, nada além disso! — Ela bateu a porta novamente ao sair. 

— Você é paga para estar a minha disposição! — A enfermeira repetiu um tanto quanto irritada com a sua enfermeira chefe. Apenas achei graça de sua forma de agir. Talvez ela fizesse isso para me fazer rir.  Ah vai te lascar! — Dou risada e ela fica um pouco envergonhada por estar ali te observando atentamente e achando graça daquela situação. — As vezes escapa! — Ela levou a mão a boca.

— Sem problemas! — As vezes eu também podia deixar escapar... Na verdade todas as vezes, as palavras costumavam sair da minha boca sem eu pensar antes. Conseguia entender ela.

— Acho que eu tenho que ir, se não quiser ser uma estagiaria morta! — Ela vai de encontro a porta, mas logo se virá. — Qualquer coisa você pode gritar! — Eu concordei com a cabeça. E dou um enorme grito. "AAAH" e ela se virá assustada. — Já? O que houve menina?

— Eu só estava, treinando. — Falei meio sem graça por sua reação. Eu não queria ficar sozinha. Ainda estava preocupada. Estava com medo de voltar para casa sozinha com a minha mãe. Seria mais uma menina sozinha no mundo? — Pra onde eu vou ir depois daqui, você sabe? — Perguntei receosa e ela se direcionou para próximo de minha cama novamente.

— Para casa, oras bolas! — Ela me beijou o topo da cabeça. — Não se preocupe, tudo ficará bem! — Eu estava ficando angustiada, mas não queria demostrar isso para ela. Ela olhou para a mesinha perto da poltrona de acompanhantes e pegou um papelzinho e me deu. — Acho que isso é seu.— Ela o abriu, mas não leu. Me entregou. — Eu tenho que ir! — Comecei a ler o bilhete e pode ter aquecido meu coração, nem mesmo tinha percebido quando ela havia deixado o quarto.

Não sei, mas ficar sabendo que eles tinham indo embora me deu um aperto tão forte em meu coração. Mas seria engraçado contar para minha mãe que duas pessoas famosas foram me visitar, ninguém acreditaria, mas eu tinha uma carta escrita a mão.

Eu ficava feliz por momentos assim, mas sempre me lembrava que já não tinha mais meu pai ali do meu lado, doía muito. Também não tinha notícias de minha mãe e saber que a única visita que tinha foi embora me entristeceu.

Demi havia me achado forte, foi maravilhoso, quando eu realmente me vi sozinha, encontrei minha força em pequenos detalhes, essas coisas me faziam acreditar. Tudo estava elevado, embora ainda estivesse assustada com todas essas coisas que estavam acontecendo em minha vida. Sem dúvidas, nada fez tanto sentido. Existem coisas ruins para que as boas possam valer a pena.

get lost and find yourselfOnde histórias criam vida. Descubra agora