Quem é Emma?

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Demi

 A dor costumava me corroer as vezes, ela volta e é arrebatadora. Eu me esforçava para sorrir, mas era difícil lutar contra os meus próprios pensamentos.

O abraço de Sophie me trouxe essa sensação de volta, essa sensação de sempre fazer a escolha errada. Encarei os seus olhos, como se pudesse ver além deles, mas não via nada, não conseguia, havia uma nébula, mas ainda eram os mesmos doces dos olhos de uma garotinha.

— Estou decepcionada com você Demi! — Suas palavras ecoavam em minha cabeça sem parar. Isso era exatamente o que não queria escutar. Foi difícil engolir isso, não foi dito da boca para fora. Aquilo estava preso nela, eu pude sentir. Eu também estava decepcionada comigo, Sophie. 

— Me desculpe! — Eu não queria magoar ela, não porque era uma garotinha sem esperanças, mas porque era minha garotinha, porque era minha família. — Eu não queria magoar vocês! — Não estava contendo minhas lágrimas, eu amava Sophie e não queria ver sua carinha de choro, e seus olhos marejados novamente.

— Você não merece a família que tem! — Não aguentei e desabei. Aquilo penetrou em meus ouvidos os rasgando. Doía. Sophie saiu, me deixando sozinha e tudo o que menos queria era estar sozinha novamente. 

Eu não queria que aquele pequeno anjo me visse como uma mulher que não cumpre com sua própria palavra. Eu não queria que aquele pequeno anjo fosse magoada novamente, porque eu sabia exatamente a dor de ser magoada por quem você espera proteção.

Realmente, pequena Sophie, eu não mereço essa família, você tem razão, olhe para mim... olhe para mim. As pessoas acreditam que tenho tudo e realmente posso ter muitas coisas boas, mas no fundo eu sei que apenas tenho uma alma solitária.

Ao bater o olho na garrafa de bebida que meu esposo havia ganho de um de nossos amigos, me senti na obrigação de acabar com ela e apesar de prometer a mim mesma que jamais colocaria uma gota de álcool em minha boca, eu estava acostumada a quebrar promessas.

Peguei a garrafa e tomei o primeiro gole, queimava enquanto bebia, mas não se comparava a dor que sentia. Bebi, bebi e continuei bebendo. Eu queria mais e então caminhei até a cozinha, no pequeno expositor de vinhos do meu marido. Uma pequena coleção por minha causa. Meu corpo chamava pela sensação, meu corpo sedia a tentação de beber mais. Vinho tinto. Não me dei ao trabalho de pegar uma taça, apenas virei ao gargalo.

Emma. Olhei pela janela de frente a pia e fui transportada aquele dia, aquele momento, aquela dor. Acreditar que Emma poderia estar aqui agora, me causava náuseas. Ela não estava. Eu ainda a amo. Filha, você faz muita falta. 

Toda aquela ânsia me fazia querer mais, pois eu sabia que em algum momento eu estaria tão bêbada que não me recordaria de nada. Toda aquela dor me fez beber tudo o que havia na garrafa. 

Estava tonta, e meu estômago estava revirando. Acabei derrubando a garrafa com o restante do vinho ainda nela, o que parecia mais uma catástrofe, se transformou em arte aos meus olhos. Estava chorando havia dor em meu peito.

— Demi está tudo bem? — A doce voz ecoou pela cozinha, me fazendo escorregar no vinho tinto caído derramado no chão. Não pude pensar ao ver o seu rosto assustado, mas fui transportada ao passada enquanto ela desviava dos cacos e se aproximava de mim.

Flashback

— Bom dia, meu amor! — Acordava sempre animada e corria para o quarto de Emma. Ela era tão linda dormindo que eu podia contemplar minha menina para todo sempre. Minha primogênita era fruto de um amor, o mais puro e sincero e apesar de ser muito nova aos olhares das pessoas, eu me sentia completa ao ter minha menina. — Acorde, Emma! — Passava a mão em seus cabelos castanhos claros e ela se espreguiçava com delicadeza. 

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