Realeza

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Demi

Estar de mudança era uma das coisas que mais odiava fazer. Eu não tinha feito muitas ao longo da vida, mas já tive a consciência de quão elas eram estressantes. Eu já não sabia mais o que fazia nessa casa, parecia que ela já não me pertencia. Quando você consegue se ver de dentro para fora, você consegue perceber que as vezes a coisa necessária a se fazer é tirar um tempo para se curar. Não estava organizando apenas coisas em caixas, estava também organizando minha cabeça e meu coração.

— Você me perdoa, Peter? — Escutei a voz da minha filha ao passar em frente ao quarto de Isabela. Tinha em minhas mãos mais uma caixa finalizada e levava para o andar de baixo para o caminhão de mudança que passaria mais tarde. Parei a porta, mas não me permiti entrar. — Me perdoa por ter te batido, eu não queria... — Ela falou enquanto ajudava as crianças organizarem os brinquedos de Isabela, apesar de ter doado muitos, ainda tínhamos muitos. Sorri ao ver os dois se entendendo. 

— Me perdoa por ter te chamado de monstro! — O garoto falou meio sem jeito. Se aproximando da irmã, ela o puxou para um abraço, cheio de amor, como sempre fazia. Ela tinha essa energia calorosa e isso não iria mudar tão fácil.

— Ai, pelo amor de Deus, parem vocês dois! — Isabela falou irritada fazendo os dois se separarem. — Temos que colocar essas coisas dentro das caixas! — Ela falou emburrada, sem perceber minha presença ali. 

— Eu acho que alguém está com ciúmes! — Sophie falou ao se aproximar dela e atacar a sua barriga com cócegas. Os três entraram em uma competição para ver quem poderia rir mais e isso de alguma forma me deixou aliviada. Estávamos vivendo o arco íris, finalmente. Caminhei até a escada e a desci levando mais uma caixa. Olhei as horas e já passava das dez da manhã. Uma da tarde eles irão começar a levar as coisas. — Está dando aquela última olhada? Eu também sentirei falta! — Sophie perguntou, enquanto descia a meu encontro, com duas pequenas caixas em suas mãos.

— Esse foi seu primeiro lar em outro país. Você sente saudade de sua primeira casa? A casa que viveu a primeira infância?  — Ela negou com a cabeça. Sim, estava dando uma última olhada. Iriamos vender a casa e eu perderia o quarto de Emma, para sempre, mas não minhas memórias. Ela sempre seria minha garotinha. Sophie também perderia o seu cantinho e cada pessoa perderia um pouquinho de suas coisas favoritas nesta casa, mas tínhamos que recomeçar as vezes e essa era a boa parte das mudanças. Teríamos que renascer, juntos.

— Você está bonita, hoje! — Sophie falou ao encostar nas caixas empilhadas e a derrubar. Na verdade eu estava com a mesma cara de sempre. Ela riu meio sem graça por parecer atrapalhada e eu me ajuntei a ela para voltarmos a empilhar. 

— Obrigada! — Apenas a agradeci, não iria discutir por achar o contrário. — Agora me diz o que você quer? — Ela me olhou.

— Posso ir no Henry? — Ah... eu sabia. — Sei que temos tarefas, mas eu precisava falar... — Ela congelou meio sem graça, talvez minha cara tenho feito ela perceber. — Espera, eu não te elogiei só porque pretendo ir na casa dele! — Sophie era faladeira e estava animada, então as palavras saiam de sua boca como se tivessem vida própria. Ela me olhou e negou. — Eu apenas te achei linda assim, com o cabelo preso, meio bagunçado e esse sorriso, você está linda...

— Sophie, você não me enganada! — Falei brincando enquanto dava a ela uma piscada de canto, como se aquilo de fato expressasse que eu já sabia sua melhor intensão. — Tudo bem, pode ir na casa de seu amigo, mas volte logo, coisa rápida de no máximo trinta minutos! — Eu não sabia se ela estava fugindo de suas tarefas, apesar dela ter sido a primeira a acordar e ter arrumado todas suas coisas antes de eu me levantar da cama, mas talvez ela só precisasse de conversar com seu amigo.

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