Momento

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Sophie 

O último natal que passei com meus pais, foi o melhor de todos os anos que eles estiveram ao meu lado. Parecíamos uma família de verdade, não houve discussões, não houve brigas, não houve bebidas, não houve nada que tirasse a paz que toda aquela data me trazia. Não sei se tudo isso aconteceu porque sabíamos que aquele momento poderia ser o último, mas por mais que tudo seja difícil de ser entendido, me sinto bem por ao menos ter a felicidade de viver aquela ocasião. Sinto saudade daquele momento. As vezes a saudade costuma bater e me machucar. Mas eu fico pensando, se isso não tivesse acontecido, eu não teria a oportunidade de conhecer pessoas tão maravilhosas. Mas ainda assim eu sinto falta de momentos bons como aquele, sinto uma falta absurda de conversar com meu pai. Ele era o único que me entendia. Mas agora ele não está aqui, tenho que me conformar. Eu tento me conformar, mas tem dias que eles me parecem tão presentes,  me parecem tão próximos. É pesado demais imaginar o quanto eles estão longe de mim, embora eu não esteja mais sofrendo, embora eu tenha me livrado de uma dor me apareceu outra, fora algumas que me vem de brinde enquanto vivo. Eu fico olhando as pessoas e sinto que elas também lutam com dores e problemas a todo instante e pensar assim me ajuda a perceber que não estou sozinha...

— Sophie, chegamos! — Demi falou ao cutucar meu braço. Eu não estava dormindo, eu só tinha fechado os olhos para poder pensar melhor. Eu costumava olhar as pessoas as ruas, as casas, os carros, mas dessa vez eu apenas quis fechar os olhos e imaginar que um dia eu possa me encontrar. 

— Tudo bem! — Destravei o cinto. Eu não era muito boa com eles. Demi sorriu ao me encarar, ao abrir a porta senti o vento gelado ao meu rosto. Era fim de tarde, mas estava nublado, típico de um dia de inverno. 

— Depois eu quero conversar com você! — Ela tocou o meu ombro, impedindo que eu processionasse com os gêmeos para dentro. O ar gelado que antes me incomodava o rosto, passou para minha barriga. ELA HAVIA DESCOBRIDO, TUDO! 

— Se quiser pode ser agora! — Estava calma, não queria levantar nenhuma suspeita. Demi estava sorridente, o que me deixou um pouco mais tranquila. Mas mesmo assim eu estava preparada para qualquer bronca. 

— Não, depois! — Ela falou ao segurar a porta para eu entrar. Se ela descobriu e está querendo que eu fale toda a verdade, ela ainda está me dando uma chance, mas se isso for só coisa da minha cabeça e eu acabar me entregando. Andei em passos curtos até a cozinha onde todos estavam, eu não poderia dar mais um desgosto a eles, ainda mais em pleno natal.  

— Crianças, eu quero mostrar uma coisa para vocês! — Wilmer falou assim que finalmente eu coloquei o meu pé esquerdo na cozinha, se eu fosse uma pessoa supersticiosa eu falaria que tinha começado tudo errado.  — Vamos até a garagem! — Os gêmeos foram empolgados, eu fui logo atrás de Demi. Sabe aquele momento que o arrependimento bate em você, eles estavam tão felizes.

— Bicicletas novas!! — Peter falou alto. Quebrando todo meu raciocínio. Pude perceber que tinham três bicicletas novas, duas tinham cestinhas. Esse era o esporte preferido de papai, sinto que mesmo longe de mim, ele ainda está ao meu lado. 

— Muito obrigada, Papai! — Eu sorri ao ouvir a palavra papai, vindo de Isa. Eu fiquei tão feliz por um momento. 

— Obrigado Pai! — O abraço foi contido por emoção, não só minha, mas de Demi também que suspirou ao ver a cena. O mais comum para mim, seria sentir ciúmes ao ver aquela cena, mas eu fiquei feliz, pois eu sabia que aquele era o pai dele, e ele o tinha ao seu lado. — Realmente estava precisando! — De uma bike nova ou de um abraço de seu pai?

— Subam, experimentem! — Eu só conseguia pensar em como desfaçar minha cara de preocupação. Por que eu tinha que sempre ir pelo caminho mais difícil e mais complicado? Demi queria falar comigo sobre algo e eu sabia exatamente o que era. — Essa é sua, Sophie!  

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