Querido diário

530 45 1
                                    

Sophie

Flashback

Eu havia dormido muito, eu sentia isso em meu corpo. Meus olhos estavam inchados, e minhas bochechas estavam vermelhas. Não queria lembrar, mas era inevitável.

Minha perna e minha costela já não doíam tanto, quanto a minha alma. Não tinha noção de horas. O aperto em meu peito era grande e logo vinha a vontade de chorar. Meus olhos se enchiam de lágrimas ao lembrar tudo o que me aconteceu, era muito doloroso, mas eu tinha que me conformar. 

Era inevitável, o que iria fazer? Talvez eu posso ir para um orfanato, não conheço nenhum parente próximo. 

E então ela apareceu,  estava cuidando de mim por tanto tempo. Estava sendo um anjo em minha vida. Seria eternamente grata.

— Você está melhor? — Ela se aproximou de meu leito, eu estava a tanto tempo adormecida que meu corpo doía ao me mexer.

— Sim, mais ou menos! — Esfreguei meus olhos que ainda ardiam por eu dormir chorando. Talvez esse seja meu esporte preferido. — Você poderia me ajudar a ir no banheiro? — Ela ainda estava ali me olhando com um olhar piedoso.

— Estou aqui para isso! — Ela sorriu, mas eu não. Já não sentia vontade de fazer isso. — Nossa, que mal humor pra quem dormiu quase dois dias inteiros! — Me assustei, como assim dois dias? 

— Quê? — Rebati assustada enquanto ela me ajudava a me manter de pé. 

— Isso mesmo que você ouviu! — Realmente eu dormi demais, por que eles me deixaram dormir tanto? — Você dormiu muito, Sophie! — Disso eu já sabia, sentia o meu corpo gritar por um banho.

— Como assim? — Minha mãe nunca me deixaria dormir mais que dez horas inteiras, eu adorava dormir, mas eu havia batido meu recorde. Estávamos caminhando juntas para ir ao banheiro. 

— Nós conversamos e resolvemos deixar você dormir por conta do seu estado emocional, você nem sequer acordava quando mexíamos em você para fazer acesso ou medir sua glicemia e pressão arterial! — Ela ficou ali me olhando usar o banheiro, mas já não me importava tanto com isso. — Espero que esteja bem, agora! — Assenti. Se ela começasse a falar sobre as coisas ruins que tinham acontecido, eu iria dormir por mais cinco dias e isso não era exagero. Eu dormia para esquecer. — Eu tenho um presente. É algo simples, mas acho que você irá gostar! — Naquele momento eu sorri.

— Sério? Para mim? — Ela assentiu. — Muito obrigada! — Fiquei muito feliz por saber que ela lembrou de mim. Mas foi algo momentâneo. Joguei água gelada em meu rosto, para assim acordar de verdade para realidade.

— Vou pegar, me aguarde! — Enquanto isso fiz minha higiene matinal. Ainda pensando sobre meu futuro, perdida em pensamentos. Eu deveria crescer uns trinta anos nesse momento, pois agora era apenas eu no mundo, por mim mesma. Caminhei sozinha para a minha cama. Eu deveria me recuperar logo. — Você não deveria apoiar a perna quebrada no chão! — Ela me deu uma leve bronca, me assustando. Eu deveria me recuperar, pois não sabia o que iria acontecer. Ela me entregou o presente e então abri com rapidez. Era um diário. Um belo diário. Era de couro e muito bem decorado, parecia único. Era artesanal, reconhecia bem. Parecia que já tinha visto um igual, talvez fosse muito caro. — Gostou?

— Acho que não posso aceitar, isso foi muito caro, não foi? — Ela me encarou e negou.

— Pode aceitar. É um presente de coração! — Ela empurrou o diário de volta para mim o abri e pude ver alguns mapas do mundo todo e um pequeno avião desenhado em algumas páginas. — É uma herança de família! — Seus olhos azuis eram penetrantes, bonitos e hipnotizadores, ela sorria com eles.

— O valor sentimental é maior que qualquer dinheiro! — Ainda estava receosa em aceitar aquele presente, mas ela insistia tanto.

— Não precisa se preocupar! — Ela se aproximou de mim me ajudando a me sentar na cama com cuidado. — Eu não tenho tempo para diário. — A enfermeira se abaixou e me encarou de perto. Pegou uma mecha de meus cabelos bagunçados e a colocou atrás de minha orelha. — Você desabafar, colocar seus pensamentos e sentimentos para fora. Acho que um diário seria uma boa ideia! — Ela tinha razão, eu precisava colocar o que estava sentindo para fora ou iria me afogar em minhas próprias lágrimas. Eu acabei aceitando, por sua insistência.

— Obrigada! — A abracei com gratidão. — Você realmente é um doce, obrigada por estar nesse momento tão ruim! — Ainda estava abraçada a ela, que me apertou em seu corpo.

— Você é linda! — A mulher se desprendeu de mim um pouco sem graça, como se não fosse de sua personalidade gostar de abraços. — Vou buscar seu lanche e volto! — Ela se afastou e eu assenti. Caminhou até a porta e saiu.

Toquei o diário que estava em minhas mãos e coloquei o bilhete que havia ganhado a algum tempo, era o começo de uma nova jornada, coloquei o bilhete na primeira página. Eu não gostava de rotina e escrever todos os dias seria um desafio. Ela tem razão, eu preciso tirar esse peso do meu peito. Vou tentar ser forte e superar tudo. Talvez escrever seja como uma fuga. Vou deixar essas páginas todas completas.

Querido diário...

get lost and find yourselfOnde histórias criam vida. Descubra agora