Eu estarei aqui

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Demi

Ao estacionar o carro pude apreciar a música que tocava na rádio. Sua melodia e letra descreviam o que sentia. Uma espécie de angústia. Encarei o retrovisor e observei meus olhos. A maquiagem estava um pouco borrada. Estava cansada. Sentia um vazio, como se faltasse uma parte minha. Tenho tudo o que preciso, mas mesmo assim, a única coisa que sinto é um vazio. Também sinto falta do meu antigo eu. Uma pessoa que tentava ser feliz, não esse caos ambulante. Fui a emissora fiz o que tinha que ser feito, mas não me sinto orgulhosa. A casa estava silenciosa como o meu coração, um silêncio ensurdecedor. Provavelmente as crianças dormiam o que mais precisava era da presença delas, para me sentir viva. 

Abri a porta do quarto. Wilmer me esperava sentado a beirada da cama. Estava com a expressão preocupada. Aquilo me assustou um pouco. A forma que ele me olhava era extremamente de decepção. 

— Qual é sua explicação sobre isso? — Ele falou alto. Me mostrando algo que definitivamente me congelou.  Contra evidencias não há argumentos. Engoli seco. — Demetria, você está tendo uma recaída?

— Onde você encontrou isso? — Responder uma pergunta com outra não era uma boa forma de iniciar uma conversa.

— Perto da caixa de curativos. — Ele se acalmou. Eu havia me esquecido que aquilo estava ali. Eu sou uma idiota. Olhar a cara dele de desapontamento era o que mais me machucada. Eu não deveria ter feito isso com ele, comigo! — Na verdade quem encontrou foi Sophie! — O nó se instalou em minha garganta. Como expus uma criança a essa situação? Tudo iria desmoronar  em questão de segundos. 

— Oh, Willy... — Fui ao seu encontro e lhe dei um quente abraço, o que foi negado por uma frente fria que vinha do seu coração. 

— Eu não quero seu amor, eu quero uma explicação! — Esbravejou. Me empurrando para longe! — Por que você trouxe isso para dentro de casa? — Eu errei me perdoe! — O que está acontecendo com você? — Na verdade nem eu mesma sei, as coisas estão tomando um rumo diferente. — Anda, abra essa sua boca e comece a se explicar! — Eu não tinha forças. Sabia que se começasse a falar eu iria me desmontar. 

— Faz muito tempo que isso está ai. — Falei baixo. Minha voz estava escassa. Sentia um grande aperto no peito. — Eu nem me lembrava!

— É claro que não, se não você teria usado, não é mesmo! — Aquilo me machucou, mas eu aguentei a dor. Eu aguentaria toda vez que ela voltasse a me penetrar! 

— Não é bem assim! — Não sabia por onde começar. Só queria esquecer tudo o que aconteceu durante esses anos. Só queria dar um tempo a essa minha cabeça confusa! — Uma pessoa me deu isso, eu apenas não usei!

— Quem te deu isso? — Cada vez, ele gritava mais alto! — Por que não jogou fora? — Estava mais preocupada com a situação das crianças, do que com o que Wilmer estava falando! Ouvir os pais brigando é a pior coisa. Me desculpe, por não saber ser uma boa mãe.  — Por que não conversou comigo?

— Eu não sou mais criança, posso me controlar sozinha! — Estava ficando arrasada com toda desconfiança de Wilmer, eu não estava usando mais!

— Nunca imaginei ter que passar por isso novamente! — Com os nervos a flor da pele, ele socou a parede. Tenho certeza que isso foi para não socar o meu rosto, porque de fato eu merecia! — Caralho, Demetria, o que passa na sua cabeça?

— Eu não estou tendo recaídas, eu estou bem! — Finalmente tive forças e gritei. — Não se preocupe! — Falei mais baixo, o nó que estava em minha garganta doía cada vez mais.  

get lost and find yourselfOnde histórias criam vida. Descubra agora