Gelo

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Demi

— Bom dia! — Eu falei para minha menina assim que ela entrou na cozinha. Não falei animada como sempre, não estava. — Você está bem? — Ela também não estava em clima pra nada, pude ver isso estampado em seu rosto. — Parece que alguém acordou de mal humor! 

— Quem consegue acordar cedo e de bom humor?! — Ela tinha razão, mas na real eu não tinha dormido, nem sequer conseguia entender porque eu estava com esse sentimento. — Você irá me levar a escola hoje? — Talvez fosse por ter que dar a notícia que a prisão do pai da sua amiga ou melhor o seu próprio pai foi decretada. 

— Eu tenho uma coisa muito importante para te falar! — Respirei fundo pois sabia que de alguma forma aquilo poderia lhe afetar.

— O quê? — Ela perguntou respondendo alguma mensagem em seu celular, sem olhar para mim, como se não fosse tão importante assim. Minha menininha estava virando uma adolescente e eu não estava nem um pouco preparada para isso.

— Quer comer cereal hoje? — Isso não era tão importante quanto o que eu realmente deveria falar. Mas o café da manhã é a refeição principal do dia, então da no mesmo. Ela me encarou. Como se já soubesse que aquilo não era o que eu deveria realmente falar. — Acho uma boa! — Ela pegou o cereal no armário, o leite na geladeira e eu observava todos os seus passos enquanto o silêncio reinava e eu tentava encontrar as melhores palavras para finalmente conseguir dizer que o pai dela estaria preso, assim que tivesse alta do hospital.

— O que você precisa me falar? — Ela se sentou jogando os cereais na tigela e o seu barulho ser potencializado por conta da casa silenciosa. Colocou o leite e me encarou novamente como se quisesse que eu parasse de enrolar. 

— Ligue a tv! — Ela me olhou um tanto assustada, mas fez o que pedi sem exitar. Ligou a televisão e em todas canais passava a mesma coisa.

— Ah, merda! — Talvez ela parecesse um pouca aliviada, não sabia o que ela tinha pensado. A encarei um tanto irritada por ela ter falado um palavra feia na mesa e esse definitivamente não era o nosso combinado. — Me desculpe, mas você me entendeu! — Eu não sabia como falar a verdade, porém eu sabia que era necessário. Não aguentava mais toda aquela coisa de segredos, embora não quisesse me meter ainda mais na vida dela. Eu sabia que em algum momento toda aquela montanha de coisas escondidas sobre sua vida iria desmoronar. Ela encarava o jornalista, enquanto comia, não tirava os olhos dele nem um segundo. Eu ficava ali, sem ter o que fazer. — Eu mal posso imaginar, como Cloe está! — Eu estava tão preocupada com Sophie que eu acabei esquecendo sua irmã. Era inevitável não me comover com que ela poderia estar sentindo naquele momento, talvez não tivesse ninguém ao seu lado para te dar o apoio necessário ou algo do tipo. — Ligarei para ela! — Ela pegou o seu telefone celular e discou o seu número com pressa, deixando sua tigela de cereal para o lado. Era possível escutar a chamada de onde eu estava, porém não me requisitava em tomar sua atenção. — Caixa de mensagens! — Seu olhar de preocupação cortou meu coração, mas mesmo assim tentei reconforta-lá.

— Deixe uma mensagem para ela! — Desbloqueei meu celular e me surpreendi com o horário, ela já sabia que era exatamente 8:40 a.m e seu horário era as 8:15 a.m. — Eu te levarei a escola, terei que sair hoje! — Peguei as chaves e um boné preto. Ela sorria sem graça para disfarçar que não queria ir a aula. Se eu pudesse deixaria ela faltar quantas vezes quisesse só para vê-la sorrir ou para tê-la um pouquinho a mais ao meu lado.

Sophie

— Você irá se inscrever, Henry? — Mal chego a escola e já tive que ficar sentada em frente ao mural de inscrições, confesso que era uma coisa legal, porém entediante. Eu estava ali o dia inteiro junto a Marcus Poe. As pessoas só falavam comigo por conta do que aconteceu na festa dele ou por conta de eu estar ao lado dele. Fiquei feliz ao ver Henry pegar um panfleto, parecia que fazia séculos que não nos falávamos. 

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