Sorte

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Wilmer

— Que roupas são essas? — Foi o que ela disse quando me viu. Sorria tampando sua boca com as mãos, como se estivesse envergonhada. Não me leve a mal, mas uma calça social e uma blusa de pijama tamanho pequeno foram as melhoras coisas que consegui encontrar no achados e perdidos deste hospital. 

— Você está rindo? — Mesmo o som de sua risada sendo um dos meus sons preferidos, permaneci irritado com sua forma de me receber. — Eu estive com você durante as duas últimas horas e você está rindo de mim? — Ela me encarou surpresa e pude ver que ela ainda estava em um estado desvatado. Ela ainda, apesar de medicada, continua em outro mundo. — Você não tem ideia do que aconteceu?! — Demi negou. 

— Me desculpe! — Suas desculpas eram sinceras, eu a conhecia bem.

— Você desmaiou, Demi! — Talvez ela não soubesse da gravidade de como as coisas estão. — Ainda por cima vomitou todo carro e em minhas roupas! — Ela ainda negava como se simplesmente não quisesse aceitar suas próprias condições. — Foi muito difícil te tirar do carro e te carregar nos braços por todos esses corredores! — Não queria reconhecimento, mas queria que ela soubesse o quanto tive medo de perde-lá. 

— Eu sinto muito, eu não queria te fazer passar por isso! — Me aproximei de sua cama e segurei em sua mão. — Me perdoe, eu estive tão nervosa! 

— Você sabe que isso não aconteceu porque você ficou simplesmente nervosa! — Ainda segurava em sua mão e sabia o quanto ela sentiria por ter que assumir o seu erro. — Foi pelo o que você usou, Demi, pelo o quê você vem usando todo esse tempo...

— Wilmer, eu só preciso saber onde está nossa menina! — A preocupação dela era real, isso era amor, apesar de tudo ela ainda se preocupava. As vezes o amor ele é complicado e estranho, ainda mais delicado. Não é explicado.

— Ela está segura! — A tranquilizei, percebi seus olhos cheios de lágrimas e o quão ela espirou fundo ao saber que ela estava bem. — Mônica conseguiu falar com ela, também já está indo busca-la! — Ela fechou os olhos por alguns instantes e apertou minha mão, a cariciei e o macio de suas mãos ainda eram iguais e esse toque me despertou. — Quanto a você, Demi, não irá me falar o que usou? — Ela negou. — Bom daqui a pouco os resultados dos seus exames saíram, não tem motivo para esconder! — Ela me olhou. 

— Eu posso falar com ela? — Por um instante achei que ela poderia falar. — Posso falar com Sophie? — Me separei de sua mão, aquele toque estava me despertando coisas do passado. Olhei meu celular e já estava amanhecendo. 

— Acho melhor não! — Encarei Demi. Decidi ir embora. — Sua mãe está vindo e seu carro está no estacionamento, acho melhor você dar uma lavadinha nele, antes! — Ela sorriu, meio sem graça, mas sorriu. — Eu preciso ir! — Eu estava muito cansado, mas não apenas isso que me fazia tomar essa atitude.

— Fique até minha mãe chegar! — Ela pediu e eu a olhei bem a fundo, nos olhos. — Pode me dar sermão, brigar comigo, mas fique por favor! — Talvez fosse isso que eu não quisesse sentir, essa compaixão.

— Eu realmente preciso ir! — Me desprendi daquele sentimento e para isso eu precisava fazer muita forma. Me aproximei de seu rosto e beijei o topo de sua testa em forma de respeito.

— Você prometeu que nunca me abandonaria! — Ela sussurrou assim que virei as costas, mas ela sabia que eu ouviria. Instantaneamente me virei.

get lost and find yourselfOnde histórias criam vida. Descubra agora