Canção

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Demi

Flashback

Quando se é mãe sua rotina vira de ponta cabeça. É mais complicado quando isso acontece pela primeira vez. Ter dois filhos, quando se está em momento difícil é a coisa mais dolorosa que pode acontecer com alguém que se torna mãe. Crianças são travessas, dão trabalho e adoecem, mas elas podem ser as coisinhas mais fofas e alegres que um dia eu pude conhecer. São motivos para minha alegria e as vezes a cura para minhas feridas.

Minha filha neste momento havia torcido o tornozelo, Lucy e minha irmã mais velha Dallas estava com ela em um hospital, eu em outro país. Apesar de estar tudo bem, elas me ligaram para avisar. Ser mãe é sacrificar suas férias por um simples tornozelo torcido.

— Olá, voltei! — Disse sem jeito. Resolvi voltar ao quarto da pequena menina.

 — Oi — Ela sorriu. Seu sorriso me trouxe calmaria, apesar de tudo. Era estranho porque eu me sentia conectada com ela. — Eu percebi! — As vezes eu posso ser um tanto quanto lerda. Disfarcei. — Você pode pegar o copo que está aí em baixo? — Falou apontando para seus pés, havia uma mesa ali, e uma bandeja com alguns alimentos.

— Sim! — Fui em direção a sua cama e peguei a bandeja toda. — Você não está com fome? — Ela negou.

— Apenas sede! — Eu não queria bancar a chatinha, mas ela precisava comer.

— Tem certeza? Você precisa comer, meu docinho! — Ela concordou com a cabeça, talvez a comida do hospital fosse realmente muito ruim, mas ela precisa para ficar melhorar. —Vamos eu te ajudo! — Insisti. 

— Tá bom! — Ajudei ela comer por conta do braço imobilizado. Fazia anos que eu não fazia isso. Talvez meus filhos sentiam falta. A sensação de ajudar o outro é tão boa. Você se sente suficiente. Eu estava dando comida na boca de uma garotinha grande. Sorri um pouco boba por isso.

— O que você mais gosta de fazer, Sophie? — Estava tentando puxar algum assunto, embora não soubesse por onde começar.

— Eu gosto de desenhar! — Algo simples, mas que pode encher os seus olhinhos de brilho e era exatamente esse sentimento que sinto quando estou nos palcos. — E você?

 Eu gosto de fazer muitas coisas, mas minha preferida é cantar! — A garota sorriu e era exatamente isso que eu precisava. Eu estava aqui para ajuda-la, mas acho que quando se doa tempo e alma para alguém que precisa, você pode receber mais por isso. — Fazer música, estar com meus fãs, gosto de abraços... é talvez eu goste de muitas coisas! — Ela sorriu como se já soubesse disso. Pude olhar em seus olhos e todo aquele peso que antes estava lá, sumiu e eu me senti recompensada. Ela não era igual as outras pessoas, não para mim. — É difícil dizer todas! — Ou talvez nem possa dizer para uma criança.

— Você é muito bonita! — Sophie me olhava a fundo, me desvendava e apesar de ter apenas onze anos, eu podia sentir que já a conhecia a tempos, como se ela fosse minha amiga. A chama era acendida de novo, algo que não senti a tempos. 

— Obrigada, você também é uma garotinha encantadora! — Era uma menina com beleza surreal, seus olhos eram expressivos e bonitos. Era algo natural, e dela... parecia algo único. Estive encantada com sua forma de conversar, se expressar e ser apenas, ela mesma. 

— Ele está demorando, não está? — Passei minhas mãos sobre o seu rosto. Ela fechou os olhos e em uma fração de segundos me senti viva. Uma parte minha foi morta, arrancada e jogada longe e isso me consome, mas estar com essa garotinha, me trouxe vida. Era encantador. Por um momento podia esquecer tudo ao meu redor e ficar aqui, morar aqui nesse milésimo de segundo.

— Quando ele chegar nós iremos conversar! — Ficamos em silencio, por alguns instantes. —Qual música você mais gosta? — Ela gargalhou, esse momento, e eu também. E sinceramente nossas risadas juntas não era uma nobre melodia.

— Don't forget! — Seus olhos brilhavam, e seu sorriso era tão grande, e tão lindo. Gargalhei pela forma engraçada com que ela pronunciou o nome da música. — Essa é minha música preferida, eu sei que ela é antiga, mas uma vez minha mãe cantou ela para mim dormir e essa foi a única vez que ela fez algo assim, por mim! — Sua forma de falar era fofinha e os seus olhinhos que já haviam brilho encaravam os meus. Era como se isso fosse como luz na escuridão, por um momento te cega por outro te faz enxergar tantas outras coisas. 

— Essa canção, surgiu em mim quando eu ainda era tão nova! — Ela sorriu, enquanto eu viaja a uma fase da minha vida. Aquela garotinha em um leito de hospital me fez lembrar que por mais que a vida possa te sabotar, ainda possa existir motivos para sorrir. — Quer que eu a cante para você? — Eu sempre soube que quando as palavras falham, eu posso usar a música e talvez eu fosse melhor nisso. 

— Sim! — Ela falou alto. Fui tomada por sua animação e agora me sentia leve. Talvez eu tivesse a mente conturbada ao conhecer alguém, mas me permiti transmitir a amor a alguém que precisa tanto. Segurei em sua mão e cantei, com a maior vontade possível. Pude cantar para ela, para alegria dela. Talvez de alguma forma deixe um pouquinho do meu amor em seu coração.

get lost and find yourselfOnde histórias criam vida. Descubra agora