Gravações

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Sophie

Eu chorava. Não queria ir. Eu estava bem, onde estava e com aquelas pessoas. Eu não queria ir embora. Cloe chorava. Eu também. Mas minha mãe me arrancava dele, como se estar ali fosse perigoso para mim. Quando ela me tirava de seus braços, eu sentia uma imensa dor, jamais sentida antes e chorava por isso. Ela sussurra em meu ouvido: "garotinha, nós iremos para casa... está tudo bem agora... a mamãe está bem, mas você precisa parar de chorar... as pessoas estão nos olhando... por favor... calma...".  Sentia suas mãos em meu cabelo e me sentia mais calma por isso. Ela caminhava de pressa. Eu não queria ir embora. Ele correu ao nosso encontro e me entregou um ursinho. Deu um beijo na minha testa e eu chorei ainda mais pois sabia que nunca mais o veria."O papai não irá desistir de você." Ela jogou o ursinho no chão. Eu gritei. 

Acordei assustada e com a garganta seca. Estava suada e com medo. Não lembrava dos detalhe. Se Demi estivesse em casa ela seria o meu refugio nesse momento, mas não, ela não estava. 

— Vó? — Eu estava a porta do quarto de hospedes que Dianna estava. Eu não estava com medo por ter tido um sonho assustador, mas sim por aquilo parecer tão real. Eu não estava com vergonha de estar ali, mas sentia que deveria estar, mesmo assim não voltei atrás. — Vó? 

— Sophie? — Ela abriu a porta para mim. Eu parecia mais um cachorrinho abandonado. Não queria que ela pensasse que eu era uma covarde ou algo do tipo. — São três da manhã. O que você faz acordada? — Ela tocou o meu braço com cautela, ela parecia sonolenta. — Daqui a pouco você tem aula, minha querida! — Eu queria abraça-la, mas algo me impedia. Não era como correr para os braços de Demi. 

— Eu estou com medo! — Eu sabia que eu já estava grande, mas eu precisa de alguém. Precisava de alguém para me dizer que era apenas um sonho besta. Que minha mãe não faria aquilo comigo e que isso não aconteceu, era apenas sonhos que minha cabeça inventava constantemente. 

— Você teve um pesadelo? — Eu estava muito confusa. Eu queria chorar e eu sabia que aquilo não era algo que a maioria das pessoas se preocupariam. Não foi um pesadelo onde eu era perseguida ou alguém morria, mas eu sentia tanto medo. — Quer conversar? — Eu queria, mas ela não saberia o que me dizer.

— Parecia tão real! — Eu olhei em seus olhos que estavam vermelhos pelo sono interrompido. Me culpei. — Eu acho que realmente aconteceu! — Eu sabia que não eram apenas sonhos, era um tipo mensagem ou lembrança, mas eu não queria acreditar. 

— Como foi? — Eu sabia que ela queria me ajudar, mas não era mesma coisa. — Sente-se aqui! — Ela indicou para eu me sentar em sua cama e assim eu fiz. Depois daquele sonho eu estava sentindo uma tristeza tão grande, um sentimento de saudade. Minha cabeça estava misturando o presente com o passado e eu estava tão confusa. 

— Eu chorava. Minha mãe me arrancava dos braços dele. Eu sei que aquele homem não é meu pai, aquele homem sem rosto. Mas é como se eu me sentisse bem com ele, como se eu o amasse também. — Ela começou a passar as mãos em meus cabelos que estavam um pouco mais compridos do que a última vez que ela fez isso. Era como se ela o penteasse e eu logo me lembrei do que ela disse aquela vez, que ela costumava fazer isso com Demi. Era um momento para elas se conectarem. — Cloe também estava no sonho. Ela chorava também! 

— Ela era criança? — Vó Dianna rebateu para mim e eu me virei. Ela me encarava como se já soubesse de alguma coisa.

— Não me lembro, mas era ela. Eu tenho certeza que era Cloe. — Eu precisava vê-la talvez ela precisasse de mim. Eu iria em sua casa quando saísse da escola. Eu não havia entendido a pergunta de minha avó, mas eu ainda me sentia triste. Talvez o sonho fosse uma mensagem sobre o quão Cloe precisasse de mim. — A minha mãe me machucou, ela não me deixou ficar, eu queria ficar...

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