The last chance

Confessions

- Alfonso! Alfonso! - Ela já o chamava pela terceira vez, e ele ouvia ao longe a voz dela, mas não conseguia... - Alfonso! - Estava perdido, mais do que isso, acabado. - ALFONSO! - Como um estalo seus olhos focaram no pequeno pontinho vermelho a sua frente. - Céus! o que está acontecendo? Você está bem? - A voz preocupada o trouxe de volta a realidade.

Alfonso: Oi Dul, estou. - Arrastou sua cadeira pra trás se levantando e indo pegar um café. - Está precisando de alguma coisa? O que faz aqui tão cedo?

Dulce: Estava, mas pelo visto você precisa mais do que eu. - Se sentou na cadeira de frente pra mesa dele que retornava com uma xícara de café em mãos. - O que aconteceu? Por que está com essas olheiras? 

Alfonso: Não dormi muito bem. - Deu um gole em sua bebida e se sentiu finalmente esquentar por dentro, acabando com parte de todo o gelo que se sentia desde a sua última conversa com Maite. 

A verdade é que não havia pregado os olhos. Anahí não dormiu em seus braços, ficou ao lado de Maite a noite toda preocupada com ela, e claro que ele não a culpou muito menos a cobrou por isso, ela cumpriu o seu papel de amiga. Mas o fato de não tê-la em seus braços depois de receber um toque de Maite o fez temer. Sabia que ela não diria nada a Anahí, deixaria isso pra ele. Mas mesmo assim não conseguia pregar os olhos, o medo ia muito além disso. 

Tinha medo de perde-la outra vez. 

Após a conversa com Anahí sobre o tortuoso passado deles, havia se esquecido por completo que nunca chegou a dizer aquilo a ela. O porque. Sabia que seria preciso, mas simplesmente havia apagado aquele fato da sua memória, talvez pra não se lembrar o quão desprezível ele mesmo fora. Ou talvez por ter consciência que se soubesse daquilo desde o início, ela nunca o perdoaria como fez. 

Ela o perdoou por ter mentido, ela o perdoou por quebrar seu coração em milhões de pedacinhos, o perdoou por pedir para abortar seu filho e sumir, a deixando sozinha sem saber o que fazer. 

Mas ele não sabia que pra ela tudo ia muito além disso. Muito além de magoa, muito além de ter sido enganada, muito além de ser abandonada. Era muito além do seu emocional. Ele havia destruído também com seu psicológico. Por anos ela não acreditou ser boa pra nada, não se achava uma garota bonita, que valesse a pena. Sempre se contentou com o que pensava, e se achava digna de ter e viver exatamente como vivia, sozinha e vazia. Como se não fosse capaz de conquistar nada e nem ninguém no mundo.

Não encontrava o seu lugar. Foram meses de terapia, meses afastando o filho de si própria, meses até descobrir que ela não precisava aceitar o que a vida lhe impunha, e que ela era mais do que suficiente, e muito mais do que capaz de lutar por si própria. 

E ela se reconstruiu. 

Não só mentalmente, emocionalmente e psicologicamente. Se reconstruiu por inteira, como mulher. Construiu uma nova Anahí, enterrando junto com o passado tudo o que um dia a destruiu. 

E isso ele não tinha como saber. 

Dulce: Não tente me enganar, por favor. - Bufou o encarando. - Eu sei que prefere ficar quieto na sua e resolver você mesmo os próprios problemas, mas não precisa ser assim. - Suspirou. - Poncho, você pode contar com as pessoas quando precisar, isso não é sinal de fraqueza. 

Alfonso: Mas é exatamente assim que eu me sinto, um fraco. - Cuspiu as palavras desviando o olhar. - Eu sou um fraco, Dulce! Um covarde. - Arremessou a caneta que tinha em mãos com força sobre a mesa. - É só isso o que eu sou. 

Dulce: Ei. - O olhou de forma carinhosa. - Você não é nada disso, Poncho. - Começou de forma cuidadosa, analisando as reações do amigo. - É claro que não. Você é forte, Alfonso. Sobreviveu há tanta dor, sobreviveu anos. Sim, sobreviveu. Você não viveu esses dez anos. E eu sei do que estou falando! - Alfonso meneava a cabeça com um riso desgostoso. - E agora você está vivendo! Poncho, você está sorrindo, está amando! Está convivendo com seu filho. Eu não sei o que te atormenta, mas pare de achar que você não é digno do que está vivendo, por Deus! Supere de uma vez!