The big surprise

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- Bom dia Alfonso. - Dr. Lacan o cumprimenta apontando o divã a sua frente e Alfonso se sentou. - Vamos começar. - Se posicionou melhor em sua poltrona para observa-lo atentamente. 

Alfonso havia marcado mais uma sessão com Dr. Lacan por sentir necessidade de expressar o que estava sentindo sobre Mila. Não estava gostando da aproximação exagerada dela, e a forma como ela o cercava. De certa forma isso acabou o remetendo ao relacionamento doentio que teve com Jennifer há anos atrás. 

Não queria mais ser refém de uma mulher daquela forma, ele não tinha conhecimento do quanto ainda era maleável, mas dessa vez percebeu a tempo o jogo que fazia para envolve-lo e conseguiu pular fora antes que fosse tarde demais. 

Sentia-se incomodado pelo fato de ser fraco, de não saber falar não, de não ter o controle de sua própria vida, mas para Lacan estava mais do que claro que ele era quem dava as mulheres a sua volta controle demais sobre suas atitudes e decisões, agora bastava achar uma forma de mostra-lo isso para que ele mesmo achasse um caminho para corrigir aquela falha. 

Lacan: Alfonso, não tem como você ter controle da sua vida, de seus sentimentos e ações se você não souber o que quer. - Disse seguro. - Você precisa conhecer e entender o que quer, para assim ter por onde e pelo o que lutar. 

Alfonso: Mas a questão é justamente essa! - Bufou. - Eu não sei como fazer isso, eu não sei como posso conhecer meus sentimentos como todo mundo faz questão de me falar. 

Lacan: O que você quer pra sua vida? - Questionou deixando Alfonso pensativo. - A partir do momento que você tem um objetivo, você consegue traçar uma estratégia para alcança-lo. Tudo começa com a atitude de sair do lugar, sair do seu comodismo. 

Alfonso: Eu não sei se acredito nisso. - Suspirou. - Eu já tive ambições e passei por cima de muita gente pra conquistar o que queria e isso não valeu a pena. Machuquei muita gente, fiz muitas pessoas sofrerem com minhas atitudes. Eu parei de sonhar para não deixar que esse meu lado voltasse com tudo, eu não quero mais ser aquele cara sem escrúpulos. 

Lacan: Mas você ainda é, e não é deixando seus desejos de lado que vai deixar de ser, porque isso não é uma mudança. Mudança é saber que errou e olhar pra frente, mudança é reconhecer cada um dos seus defeitos e estar disposto a supera-los. - Alfonso o olhou tentando acompanhar o  raciocínio de Lacan. - Mudança não é fugir de uma situação que desencadeie em você sentimentos negativos que o faça agir sem pensar em ninguém, mudança é ter um objetivo e saber alcança-lo sem precisar passar por cima de ninguém no caminho. - Alfonso assentiu ainda tentando encaixar aquilo em sua cabeça. - Não adianta deixar de lado suas vontades, seus desejos pelo medo de magoar as pessoas, é isso que o faz tão suscetível, isso que faz com que qualquer um tenha poder sobre você, é o que faz que o controle de sua vida saia de suas mãos. A realidade é que qualquer um que se impor a você, conseguirá facilmente toma-lo, deixando-o a mercê das vontades alheias. 

Alfonso: E o que eu posso fazer? - Perguntou confuso. - Eu não quero mais ser fácil assim, mas eu também não quero mais ser o homem horrível que eu sei que sou. - E Lacan sorriu, finalmente estavam progredindo. 

Lacan: O primeiro passo você já deu, foi assumir que isso ainda está dentro de você, que ainda é o mesmo e admitir que quer mudança. Agora vem a parte que é difícil: se impor. Não abra mão do que quer por ninguém, ninguém! - Repetiu. - Ninguém vale tudo isso, Alfonso. Ninguém vale que você deixe de fazer a suas vontades pra fazer as dela. - Respirou fundo ao perceber o olhar dele distante. - Você está me entendendo?

Ele estava, mas ao mesmo tempo não estava. Já estava tão habituado a deixar o que queria de lado que pra ele era até estranho se imaginar fazendo o contrário, se impondo e colocando seus desejos em primeiro lugar. E se questionava se ninguém mesmo valia aquilo. 

The last chanceOnde histórias criam vida. Descubra agora