Capítulo 36 - Old feelings never change

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A semana não podia ter passado de forma mais lenta para Alfonso. Teve um péssimo rendimento no trabalho. Foi convidado a ministrar algumas palestras sobre construção sustentável, tema que tanto gostava de abordar por ser de suma importância nos dias de hoje, mas nem assim conseguiu manter o foco no que realmente precisava. 

Distribuía patadas por onde passava, fosse a quem fosse, não se importava em ser extremamente grosso mesmo sem ter a menor necessidade. Não forçava simpatia pra ninguém. As noites eram as piores, cada vez mais frias em Nova Iorque e pareciam ainda mais longas. Perambulava por seu apartamento sem conseguir pegar no sono, e isso o frustrava, de forma que quando a manhã chegasse e ele precisasse ir para a Acropolis, começava com tudo de novo, e isso era um looping infinito.

Claro que aquilo não passou despercebido por Dulce, era nítido pra ela que alguma coisa havia acontecido naquela viagem do amigo a Los Angeles a ponto de abala-lo daquela forma, o tirando completamente dos eixos. E ela até arriscaria um palpite do motivo dessa irritação toda. 

Dulce: E ai, ainda tá na TPM? - Zombou entrando na sala dele e o vendo com uma careta. - Desembucha. - Se jogou na cadeira o encarando. 

Alfonso: Desembuchar o que, o maluca? - Deu de ombros, ignorando a tentativa de Dulce de faze-lo se abrir. 

Dulce: Isso é você quem tem que me contar. - Cruzou os braços o encarando. - Por que tá com essa cara de bunda desde que voltou de viagem? 

Alfonso: É a única cara que eu tenho. - Disse seco sem tirar os olhos do seu notebook. 

Dulce bufou. Ela até tentou respeitar a privacidade que o amigo tanto gostava mas era impossível com ele tratando todos da forma fria que vinha fazendo sem nenhum motivo aparente, por isso, por mais que ele fosse uma pessoa reservada e gostasse de manter seus problemas apenas para si, estava na hora de conseguir arrancar dele o que estava sustentando todo aquele mau humor, e quem sabe assim chegar a raiz do problema.

Dulce: Olha aqui! - Exclamou apontando o dedo na cara dele. - Você passou a semana toda distribuindo grosserias pelos corredores dessa empresa e fazendo seus funcionários de saco de pancada! Você não tem que sair por ai contando da sua vida pra todo mundo, mas também ninguém é obrigado a aguentar todo esse mau humor! - Alfonso bufou enquanto a ouvia falar e estendeu o braço para abaixar o dedo dela, que acabou o dando um tapa. - Presta atenção que eu ainda não terminei! - Perdendo completamente a pose de durão, ele riu do jeito dela. - Ou você abre essa matraca e fala de uma vez o que está te deixando possuído desse jeito, ou você vai com esse seu humor pra puta que pariu! 

Encerrou o discurso já vermelha de raiva enquanto Alfonso ria tranquilo. 

Sabia que estava pegando pesado com alguns de seus funcionários, descontando o peso de seus problemas pessoais sobre eles, e tinha se esquecido que Dulce não era apenas uma funcionária, era também sua melhor amiga e no momento colega de apartamento, tornando-a assim a maior vitima do seu mau humor. 

Por isso ao cessar o riso por vê-la completamente alterada, ele juntou as mãos sobre as mesas e após um longo e pesado suspiro, resolveu tentar. 

Alfonso: Como se você não soubesse o que me deixa assim, Maria. - Sugeriu de olhos fechados e ela meneou a cabeça. 

Dulce: Tá, mas o que ela fez? Ou melhor, o que você fez a ela dessa vez?

Alfonso: O que eu fiz? - Bufou irritado. - Por que o que eu fiz? Por que não pode ser algo que ela tenha feito dessa vez? Eu vou sempre ser o vilão? Sempre ser o culpado por tudo? - Bateu as mãos na mesa. - Será que sempre vou ser acusado e apontado pelo meu passado, não importe o que eu faça para mudar? 

The last chanceOnde histórias criam vida. Descubra agora