capítulo 96| voltando atrás

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Permaneci o restante da manhã em minha suíte, lendo um livro que ganhei de Sophie. Tentei não pensar muito no que se passava na cabeça de meu pai, eu nunca adivinharia. Ele é uma incógnita.

É ainda difícil para mim não pensar nas mil coisas que podem acontecer agora que meu pai sabe sobre o meu namoro com Patrick, assim como existem muitas possibilidades para o que ele pode tentar fazer para me controlar. Mas acho que isso será difícil, tenho tentado manter em minha cabeça que não preciso suprir as necessidades e sonhos de meu pai - por mais que seja muito difícil lidar com ele quando ele está chateado ou com raiva de mim.

Mas posso aprender a lidar com essa situação se quiser tomar minha próprias decisões de fato. Não posso ficar refém dos caprichosos dele.

Meio-dia, desci para o nosso almoço. Meu pai segue mantendo sua postura, calmo, como se não tivéssemos tentando descobrir o que se passa na cabeça um do outro, como se desde a noite anterior não estivéssemos descobrindo coisas um do outro e discutindo e, no fim, nunca resolvendo nada. A tensão é latente.

Durante a refeição, pareciamos fingir que não estava acontecendo nada, mantendo uma certa formalidade e um pouco de respeito um com o outro.

- Tomei uma decisão muito importante, e espero que você entenda, Kiara - meu pai começa ao finalizar a sua sobremesa.

- Não podemos deixar isso para mais tarde? Acabamos de comer - falo, suspirando. Não quero ficar enjoada com toda essa comida em meu estômago. Preferia quando estávamos em silêncio.

Ele nega com a cabeça.

- Sei que talvez vá me odiar...

- Então não faça - interrompo-o de maneira calma. Não faço ideia do que ele está falando.

Meu pai respira fundo.

- Kiara, conversei com a coordenação do curso e com o departamento que cuida dos dormitórios e você vai voltar pra casa - ele diz firme.

Deixo o talher escorregar da minha mão e lhe encaro, atônita.

Ele não pode fazer algo assim.

- O nosso combinado... - tento falar, mas minha voz some.

Havíamos combinado que eu moraria a semana inteira no dormitório da faculdade e ficaria em casa apenas aos fins de semana. Seria a minha salvação - e meio que foi por um tempo.

- As coisas mudaram - meu pai me respondeu sério. - é o melhor por agora, espero que me entenda, mas continuar assim seria insustentável.

- Você está querendo me privar de algo? - pergunto. - me castigando dessa forma? Isso é crime.

Meu pai ergue os cantos dos lábios, quase rindo de mim.

- Você fala como se estivesse indo para uma prisão ou para a rua. Está voltando para casa. Não estou privando de nada, só quero estar de olho em você.

- Me vigiando. O que você acha que eu faço?

- Prefiro não comentar.

- Não acredito que isso está acontecendo. Não foi isso que combinamos! Pai, releve isso, por favor - peço.

- Não, não voltarei atrás. Amanhã você pode trazer suas coisas de volta para cá.

Fecho os olhos, tentando me concentrar. Não acredito nisso.

- Por favor, estava sendo ótimo lá, não precisava me preocupar com os horários e era super seguro.

- Vai ser ótimo aqui também. Esse assunto não será discutido. Está decidido e organizado com a faculdade, não podemos ficar mudando você pra cá e pra lá o tempo inteiro, então, não podemos fazer muita coisa agora que eles já estão cientes de que você não ficará mais lá.

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