capítulo 94| péssimas descobertas

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Assim que entro em casa, ouço a moto de Patrick se afastar. Está um pouco tarde, mas desta vez voltei para casa. Percebi que tenho passado muito tempo fora, e dessa forma, a minha relação com meu pai se torna mais distante ainda e ele mais irritado com isso também. Acho que está cada vez mais claro que ele não me controla mais e isso o incomoda.

Tenho tentado trabalhar isso na terapia, é um assunto constante com o psicólogo. É algo que estou tentando tirar da minha cabeça, pensar em meus pais antes de tomar qualquer decisão tem me consumido, principalmente por estar fazendo um curso que eu não queria, parece que isso vai me matar a qualquer momento.

Caminho lentamente até a escada, tentando não fazer barulho e nem tropeçar em nada. A casa está escura, até mesmo a luz do escritório de meu pai, onde ele costuma ficar até de madrugada estudando e resolvendo casos está com a luz apagada, definitivamente ele está dormindo e isso me alivia.

- Podemos conversar? - meu pai pergunta, acendendo a luz da sala de estar, e sentando-se no sofá.

Ponho a mão no coração, sentindo-o disparar pelo susto e meu corpo inteiro tremer.

Fecho meus olhos, tentando me controlar.

Que susto.

- Você tinha mesmo que me assustar assim? - pergunto, virando meu corpo para ele, mas sem me mover.

- Acho que sim. Pra chamar sua atenção - ele diz, cruzando as pernas. Ele está com um pijama azul listrado de seda e há uma xícara de café ao seu lado.

Não sei o que fazer.

- Então, não vai me dizer nada? - ele questiona. - nenhuma explicação?

O que eu poderia dizer?

- Eu deixo você sair, jamais irei te aprisionar, mas gostaria que ainda seguisse os horários combinados, ou ao menos que você me dissesse onde está e com quem. Como vou saber se você não está fazendo errado? Ou que não aconteceu nenhum acidente? Você ainda depende de mim, Kiara.

- Você acha mesmo que eu faria algo errado?

Mesmo que por muito tempo eu tenha tomado decisões erradas e agido de forma impulsiva em segredo, na frente de meu pai a situação era totalmente diferente. Sempre tentei demonstrar obediência cega e fazer as suas vontades, cumprir com suas ordens e ser a melhor que podia - mesmo que por suas costas a situação fosse totalmente contrária à isso, não tinha como ele saber, ele nunca esteve presente, ele nunca se importou o suficiente para saber se eu realmente era quem eu mostrava ser.

- Kiara, não sou bobo. Não faço ideia do que está acontecendo na sua vida quando não estou investigando ou tentando supor o que está acontecendo porque você não me diz nada.

- Pera aí, espere aí... Você está me investigando? Que merda é essa? - pergunto, deixando minha bolsa em cima do sofá e caminhando até ele.

- Bobagem, esqueça que eu disse isso...

- Não, não vou. Que história é essa? - pergunto, tentando assimilar todas as suas palavras.

- Quando perdemos sua mãe, você se fechou muito mais. Era difícil saber o que você estava fazendo quando começou a sair, e não me diga que estava em teatros, praias, escola ou em shoppings, sei muito bem por onde você andou.

Meus olhos ficam vidrados nos dele de tanto choque. Nesses últimos anos pensava que ele não fazia ideia do que estava acontecendo comigo, e ele sabia, sabia exatamente onde eu estava me metendo e não fez nada! Eu era uma adolescente fazendo bobagens pela cidade e ele não fez nada!

Como ele tem tanta coragem de tentar me controlar sem nem ao menos conversar comigo sobre assuntos tão importantes?

- E você simplesmente deixou?

A Força Do QuererOnde histórias criam vida. Descubra agora