23 de Abril
Assim que aceitei dirigir até a casa de Patrick depois sairmos do local aonde estava acontecendo a decisão a respeito da guarda deles, sabia que tinha a possibilidade de meu pai me ver dirigindo, mas nunca pensei que pudesse ser tão azarada ao ponto dele realmente me ver dirigindo.
Quando estávamos saindo pelo estacionamento, vi meu pai saindo pela porta principal acompanhado de Bruce, e ali eu tive certeza que ele tinha me visto. Tentei não pensar repetidamente na situação na qual me meti, eu sabia as consequências, então, usei toda a minha concentração para nos levar em segurança até a casa dos Pattersons.
Durante quase dois dias consegui fugir de meu pai, de seus questionamentos e inquisição, estar com os Pattersons fez com que meu pai não pegasse no meu pé até estarmos totalmente sozinhos em nossa casa. Fugi o quanto pude, tentei pensar em milhares de explicações, mas diante dele, nesse momento, me sinto sem argumentos, como se tudo tivesse caído por terra, uma parte de mim se sente errada.
Eu já deveria ter falado a verdade, deveria ter ouvido Patrick quando ele me aconselhou a falar a verdade para meu pai, mas eu empurrei isso com a barriga, e agora ele viu, agora ele sabe, e agora está me questionando em nossa sala de estar.
— Quando você fez tudo isso? Você sabe que eu não queria que você dirigisse, que tirasse sua carteira de habilitação. Sabe o quanto isso é irresponsável? Fazer isso pelas minhas costas? — ela pergunta repetidamente, irritado.
— Pai, seja razoável...
— Razoável? Minha filha sai dirigindo por aí e eu não sei sequer que ela SABE dirigir? E se acontecesse um acidente?
— Acidentes acontecem. E nunca aconteceu nada, e, se eu tenho uma carteira de motorista é porque eu estudei e fiz uma prova, isso significa que estou apta, não seja dramático.
— Dramático? Sabe quantos milhares de acidentes acontecem todos os dias? Você tem noção? E se acontecesse algo e eu não fico sabendo? Como vou cuidar de você? Como vou te ajudar? — ele pergunta gesticulando, quase cuspindo fogo com os olhos.
Fecho meus olhos.
Por que eu complico tanto a minha vida?
— Certo. Você tem razão, eu errei em não dizer, mas você errou em me privar desse direito.
— Você está querendo me culpar por isso? Por você fazer as coisas às escondidas?
Sim.
— Não é assim, pai. Você sabia que eu queria isso, eu queria ter a coragem de pegar numa direção, principalmente depois do que aconteceu com a mamãe. Dirigir também significa independência para mim, e um dia eu ia tirar ela, não posso viver pra sempre sendo carregada de um lado para o outro. Tenho certeza que isso você entende.
Sento no sofá, sentindo meu estômago embrulhar. Ainda há muito que nós precisamos conversar.
— Você poderia ter me contado? — ele pergunta, olhando para a rua pela janela da sala de estar.
— Você surtaria, igual está fazendo agora. Patrick me ajudou, ele me entendeu, me incentivou, ele foi um bom professor, e eu estudei por horas em meu quarto, fiz a prova com um instrutor capacitado, fiz por merecer — conto a verdade.
— Quando?
— Comecei as aulas práticas quase no fim de novembro, fiz a prova em janeiro. Tenho dirigido desde então — confesso, tenho medo de piorar a minha situação. Mas o que ele faria agora? Rasgaria minha carteira? Me prenderia em casa?
— Como você conseguiu esconder isso por tanto tempo?
— Não foi tão difícil, quase não nos vemos, e eu nunca dirigi por aqui. Patrick disse que eu deveria falar, mas eu queria aproveitar antes de você fazer isso que está fazendo agora, pai.
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A Força Do Querer
RomantiekTudo estava sobre controle na vida de Kiara, ela tinha o apoio para fazer o que desejasse, sentia que a família era seu tudo, confiava nos pais. Era feliz, era ela. Sem vícios, sem amargura, sem medos e desconfiança. Patrick nem sempre pôde confiar...