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Vargas.

Acordei bolado mermo. Sem ideia torta pro meu lado.

Tomei meu banho, lancei meu traje e fui pra boca. tava chateado demais, não podia ficar sozinho naquela casa, se não ia fazer besteira.

Assim que cheguei na boca, já tinha um barraco armado. Respirei fundo, e ajeitei a AK nas costas.

Ergui a sobrancelha vendo uma velha fazendo um circo danado.

Eu: porque ninguém resolveu isso? - falei sério e todo mundo me olhou assustado.

Ganso: pô chefe, a gente achou que não ia colar agora. - coçou a nuca.

Eu: colei porra. - respondi com ódio. - e tu minha senhora, qual foi o caô? - ela me olhava assustada. - o gato comeu tua língua? Tu num tava aí fazendo maior circo? Solta a voz logo que eu não tenho o tempo todo.

Xxx: acho que eu tava errada. - abaixou a cabeça e eu cocei meu cavanhaque.

Eu: tá achando que aqui é bagunça né, velha? - me aproximei dela. - né bagunça não, muito menos circo, bota fé? Pega teus trapo e vaza. Se eu pegar uma bagunça dessa de novo, eu vou passar sem dó. - apontei pra mesma.

Ela ficou calada e saiu dali voada.

Encarei aqueles cuzao e neguei. Ninguém resolvia porra nenhuma.

[..]

Freitas: fiquei sabendo... - me olhou, como se tivesse verificando o campo. Olhei pro mesmo e concordei. - pô irmão, meus sentimentos.

Eu: fica suave. - ele negou, e eu respirei fundo. - Deus sabe de todas as coisas, né não? - sorri fraco. - tá suave, a dor não vai passar, mas aos poucos vou me restaurando.

Freitas: tenho até medo quando tu fala assim. - bufei.

Eu: tá é tirando. - neguei e ele riu fraco.

Fiquei ali o dia todo, tomando de conta das finanças, dos armamentos, xingando os moleque que só fazia merda.

Peguei meu celular e não tinha nenhuma notícia da Ágata.

Será que vou atrás? Ou deixo ela se recuperar primeiro? Isso não saia da minha cabeça.

To ligado que ela tá chateada comigo, mas pô, também é meu filho.

[..]

Ágata.

3 semanas depois...

Eu nem sabia como estava reagindo.

Minha alma se foi junto da notícia de que meu filho havia voltado para os braços de Deus. Aqui em terra, só tinha mesmo meu corpo.

Eu havia emagrecido, depressiva, ansiosa.

Não comia, não saia de casa, mal falava com as pessoas. Mal, mal pegava no celular.

A dor que eu achava que pelo menos amenizava, a cada dia que passava, parecia aumentar.

Eric: olha, você sem comer, não vai ajudar. - chegou com um prato.

Eu estava deitada, com a mente vazia.

Literalmente, só o pau da rabiola.

Não tava sendo fácil. Nunca vai ser fácil.

Nesses dias, nem uma ligação do traste, eu não tive. Nem pra perguntar, pelo menos fingir que se importa.

Na verdade, a única ligação que havia entre nós, era nosso filho.

Agora não tínhamos mais nada em comum.

Eu: tô sem fome. - respondi sem olhar para ele.

Eric: você tem que comer. - falou sério.

Eu: não vou repetir. - falei grossa.

O mesmo me olhou, suspirando e saindo dali, sem falar mais nada.

Eu estava sendo rude. Mas eu não tinha forças para viver. Não tinha capacidade de ser feliz sem minha criança ao lado.

Meu celular tocou. Nem fiz questão de ver quem era. Mas a pessoa logo insistiu. Bufei e peguei o celular, vendo o nome dele no visor.

Ergui a sobrancelha, pensando se atendia ou não.

𝒰𝓂 𝒷𝓇𝒾𝓃𝒹ℯ 𝒶 𝓃ℴ𝓈.Onde histórias criam vida. Descubra agora