Recebe o mérito a farda que pratica o mal

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A farda branquíssima, imaculada, simbolizava proteção, ordem e segurança. Mas, nas favelas, essa mesma farda, com seu brilho artificial, ocultava uma realidade sombria. Para muitos, os homens e mulheres que a vestiam eram considerados os guardiões da lei. Mas Maria sabia, pela própria experiência e pelas histórias que ouvia, que essa farda muitas vezes encobria o mal.

Os olhos da população olhavam para os policiais com esperança e desconfiança. Esperança de que eles estivessem ali para ajudar, para trazer alguma forma de justiça. Desconfiança, porque, com o passar dos anos, a presença deles havia se tornado sinônimo de opressão e violência. Os mesmos que deveriam proteger eram os que mais frequentemente pisoteavam a dignidade do povo.

Maria caminhava pelas ruas, sentindo o peso daquela dualidade. Lembrava-se de Richard, do quanto ele falava sobre as injustiças que enfrentava e como, em diversas ocasiões, a polícia não era aliada, mas sim um agente do terror. Em um mundo em que o crime imperava, os policiais muitas vezes faziam parte dele, comprando informações, fechando os olhos para os abusos, e até mesmo estendendo a mão para o suborno.

Foi assim que Maria viu um grupo de policiais cercando um jovem que só queria voltar para casa. Ele estava apenas passando, mas a cor da sua pele e o jeito como vestia suas roupas o tornaram um alvo fácil. Os gritos do rapaz ecoavam pela favela, misturados ao som das sirenes que já eram familiares, mas que nunca eram tranquilizadoras. O jovem não estava apenas sendo acusado de um crime; estava sendo humilhado, tratado como um criminoso antes mesmo de ser ouvido.

"Olha quem faz o mal", pensou Maria, enquanto observava a cena de longe. A farda que deveria representar a justiça estava manchada com a corrupção e a violência. Os policiais, que recebiam seu salário para manter a paz, eram os responsáveis por semear o medo. Para muitos na favela, a farda se tornara um símbolo do que havia de pior na sociedade.

E quem poderia desmentir isso? Era o sistema que impunha essa realidade, que tratava os negros e pobres como cidadãos de segunda classe. A farda não trazia mérito, mas a certeza de que a injustiça estava à espreita, pronta para engolir mais uma vida. Maria se lembrou das palavras de Richard: "Na favela, a farda é uma sentença de morte."

Ele havia entendido cedo que o que vestia a farda era um reflexo do sistema que, em última análise, punia os inocentes e favorecia os culpados. Era a perpetuação do ciclo de violência que alimentava o medo e a opressão. Maria não podia ignorar isso; não podia fechar os olhos para o que acontecia à sua volta.

E o que fazer? A revolta começava a crescer dentro dela, como um fogo que não poderia ser apagado. A farda que praticava o mal tinha que ser exposta, desmascarada. Mas, como? Com palavras? Com atos? Maria sabia que precisava encontrar uma maneira de fazer sua voz ser ouvida, de transformar sua dor e sua indignação em ação.

Ela não queria ser apenas mais uma espectadora. Queria lutar, queria que a verdade viesse à tona. A farda que vestia o mal tinha que ser confrontada, e as histórias de tantos que sofreram precisavam ser contadas. Maria sentiu que estava pronta para a batalha. A resistência começava em sua alma, e não havia farda que pudesse silenciá-la.

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