Eu Vim da Selva, Sou Leão, Sou Demais Pro Seu Quintal

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Capítulo 89: Eu Vim da Selva, Sou Leão, Sou Demais Pro Seu Quintal

"Eu vim da selva, sou leão, sou demais pro seu quintal." Essas palavras ressoavam em mim como um grito de guerra. A selva não era apenas um lugar; era uma metáfora da luta diária, da resistência e da força que eu carregava dentro de mim. Cada esquina da favela, cada rosto conhecido, cada história contada, tudo fazia parte dessa selva que, apesar dos desafios, me moldou como um verdadeiro leão.

Crescer nas ruas era como sobreviver em um território selvagem, onde cada dia era uma batalha e a sobrevivência exigia coragem e astúcia. Desde pequeno, aprendi a encarar a vida de frente, sem medo do que poderia vir a seguir. E assim como um leão que se impõe em seu habitat, eu sabia que precisava me afirmar, fazer valer meu lugar nesse mundo que frequentemente tentava me silenciar.

Meus amigos e eu, sempre em busca de um espaço, um lugar onde pudéssemos ser ouvidos. O leão não apenas ruge; ele também luta por seu território. E eu estava determinado a conquistar o meu. Cada letra que eu escrevia, cada rima que eu criava, era uma forma de afirmar meu espaço na sociedade, de mostrar que eu não era apenas mais um na multidão, mas uma força a ser reconhecida.

A selva que eu chamava de lar era cheia de armadilhas. As ruas estavam repletas de histórias de superação e tragédia, e eu não poderia ignorar isso. Com cada passo, sentia o peso das experiências que moldavam não apenas a mim, mas a todos ao meu redor. O olhar de um irmão, a dor de uma perda, o sorriso de uma conquista. Tudo isso fazia parte da tapeçaria da minha vida, e eu estava determinado a contar essa história.

Quando a gente fala de leão, é preciso lembrar que a vida na favela não é só luta; é também amor, amizade e uma busca incessante por dignidade. É um lugar onde a união faz a força, e mesmo nas situações mais difíceis, encontramos a forma de nos erguer e lutar.

As festas de Carnaval que passavam na nossa quebrada eram um reflexo disso. O brilho das fantasias e a alegria dos blocos escondiam a realidade crua que enfrentávamos diariamente. Eu sabia que, enquanto muitos dançavam, havia aqueles que lutavam contra a opressão, a pobreza e a violência. E eu queria que a minha música refletisse essa dualidade.

Ao gravar meus versos, sentia como se estivesse afiando minhas garras. Era minha forma de me equipar para o mundo, de me preparar para qualquer desafio. E, assim como um leão que protege seu território, eu também queria proteger e dar voz à minha comunidade. As pessoas que eu amava, que se esforçavam todos os dias para fazer algo diferente, para conquistar seus sonhos, precisavam ser ouvidas. E eu estava aqui para isso.

"Sou demais pro seu quintal", afirmava para mim mesmo, reconhecendo que eu não seria contido, que não me deixaria limitar por um sistema que muitas vezes tenta nos esmagar. Era hora de mostrar que, apesar de todas as dificuldades, eu tinha o poder de me erguer, de lutar e de gritar em nome de todos que não tinham voz.

Assim, cada vez que eu subia ao palco, cada vez que o microfone tocava meus lábios, sentia a força da selva pulsando em mim. Eu não era apenas um artista; eu era um leão que havia saído da selva e agora rugia alto, mostrando que não seria facilmente esquecido. E cada vez que uma nova música nascia, uma nova história se desenrolava, e eu sabia que estava construindo um legado, uma herança que iria além de mim.

A selva era minha casa, e eu, como leão, estava aqui para permanecer.

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