Capítulo 67: Eu Prefiro Contar uma História Real
Eu prefiro contar uma história real. A vida na quebrada não é uma ficção, e a verdade muitas vezes é mais dura do que qualquer roteiro. Aqui, a gente não tem glamour, e as narrativas são cruas. Os personagens são feitos de carne e osso, e as histórias que vivemos não têm finais felizes, pelo menos não da forma que a maioria espera.
Quando olho ao meu redor, vejo histórias de dor e luta. O Sr. João, que vende pão na esquina desde que eu me entendo por gente, é um exemplo. Ele começou com um carrinho velho e um sonho. Olhar pra ele é ver a resistência em pessoa. Todo dia, ele levanta cedo, enfrenta a rotina de quem vive na periferia e se esforça pra dar uma vida melhor pros filhos. Mas a verdade é que, mesmo trabalhando duro, ele ainda tem que lidar com o preço do pão subindo e o dinheiro não dando pra cobrir as contas. Essa é a realidade. É o que acontece com muitos aqui.
E a história do Lucas? Um garoto que, com apenas 16 anos, viu seu irmão mais velho ser levado por uma bala perdida. O que era pra ser um dia comum virou um pesadelo. Ele era só um moleque, sonhando em ser jogador de futebol, mas a vida não permitiu. Desde então, Lucas se tornou um homem desconfiado, fechado. Ele parou de acreditar em sonhos, porque o único sonho que se concretizou foi o da tragédia. Ele não quer mais ser uma estatística, mas não vê saída.
Tem também a Maria, que aos 18 anos já carrega a responsabilidade de cuidar da família. A mãe dela ficou doente, e o pai foi preso. A menina se tornou adulta na marra, enfrentando o dia a dia com uma força que poucos conseguem entender. Ela acorda, faz o que pode pra ganhar dinheiro vendendo artesanato e, mesmo assim, vive com medo. O medo de perder o que sobrou, de ver a única estrutura que ainda existe em sua vida desmoronar. Maria é uma guerreira, mas o fardo é pesado.
Essas são histórias reais. Não tem glamour, não tem um final bonito. São narrativas que falam sobre luta, sobrevivência e a busca por dignidade em um mundo que muitas vezes ignora a nossa existência. A vida aqui é uma batalha constante, e cada um tem seu próprio jeito de lutar.
Eu prefiro contar essas histórias, porque elas são a verdade que não aparece nos noticiários. Elas são o coração pulsante da periferia, cheias de sentimentos, de dor, mas também de amor. São histórias que merecem ser contadas, que precisam ser ouvidas. Cada pessoa é um universo, e cada universo tem suas próprias lutas e vitórias. Não importa se não são épicas, o que importa é que são reais.
E assim sigo, contando histórias que muitas vezes são ignoradas, mas que estão presentes em cada esquina, em cada rosto que vejo. Porque, no fim das contas, somos todos feitos de histórias, e essas histórias merecem ser vividas e lembradas.
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Negro DRAMA
Fiksi Sejarah"O Peso do Silêncio" é um romance visceral que mergulha nas profundezas da vida na periferia, inspirado no icônico "Negro Drama" dos Racionais MC's. A história acompanha Gabriel, um jovem negro que luta contra o sistema opressor que já o condenou de...