Ei Bacana, Quem Te Fez Tão Bom Assim?

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Ei Bacana, Quem Te Fez Tão Bom Assim?

Gabriel estava em um dos seus dias mais inspiradores. A energia da exposição ainda pulsava em suas veias, e ele sabia que não poderia ficar parado. Depois de se apresentar e ver o impacto que sua música teve na comunidade, sentia que era hora de retribuir. Ele olhou para a molecada da favela, os garotos e garotas que, como ele, sonhavam em alcançar algo maior, mas muitas vezes se perdiam nas armadilhas da vida na comunidade.

“Ei, rapaziada! Vem cá, tenho uma ideia”, ele gritou, reunindo um grupo de meninos que estavam apenas batendo papo em um canto da exposição. Eles olharam para ele com curiosidade, alguns com expressões de desconfiança. A vida na favela tinha ensinado a eles a ser cautelosos, e era normal questionar as intenções de alguém que estava começando a ter destaque.

“Qual é, Gabriel? O que você quer?”, perguntou um dos garotos, um rapaz de cabelo crespo chamado Lucas. Ele tinha um jeito firme e já havia enfrentado várias situações complicadas nas ruas.

“Eu quero ajudar vocês a encontrar um caminho diferente. A gente sabe que a vida aqui pode ser difícil, cheia de tentações e obstáculos. Mas eu quero mostrar que dá pra sonhar e conseguir. Vamos conversar sobre oportunidades, sobre arte, música, esporte… tudo que pode levar a gente a um futuro melhor”, Gabriel respondeu, suas palavras carregadas de sinceridade.

“Como assim? Você tá dizendo que a gente pode sair dessa vida e ter uma chance de ser alguém? Não sei se é assim que funciona”, disse Lucas, com um olhar cético. O garoto tinha seus motivos para duvidar, e Gabriel compreendia.

“Olha, eu sou a prova viva de que dá pra mudar. Se eu consegui, vocês também podem. Vamos nos unir e criar algo. Queria convidar vocês para um projeto que estou montando. Algo que vá além da música. Um espaço para a gente desenvolver nossas habilidades e mostrar nosso talento pro mundo. Não quero que vocês se sintam presos na favela”, Gabriel explicou, acenando com a cabeça, como se quisesse reforçar sua determinação.

Os meninos se entreolharam, e Gabriel pôde ver que suas palavras começaram a tocar algo dentro deles. Era o que eles mais precisavam: esperança e um plano.

“Você realmente faria isso por nós?”, perguntou outra menina, chamada Raíssa, que até então estava em silêncio, mas parecia intrigada. “Você não é só mais um que tá aqui pra se promover e esquecer da gente depois que ficar famoso?”

Gabriel sorriu. “Não. Essa não é a minha intenção. Eu sei como é difícil e como parece que a vida aqui não dá chances. Mas eu quero fazer diferente. Quero que a gente se apoie, que a gente crie uma rede de apoio. Se não ajudarmos uns aos outros, quem vai ajudar? Vamos nos tornar exemplos pra nossa comunidade, pra mostrar que dá pra lutar por um futuro melhor.”

Os olhos de Raíssa brilhavam com uma faísca de esperança, e os outros meninos começaram a se animar também. Eles se aproximaram mais, ouvindo atentamente enquanto Gabriel compartilhava sua visão.

“Podemos montar uma banda, um coletivo de artistas, quem sabe até um time de futebol, pra trazer a juventude da favela pra perto da arte e do esporte. Vocês têm talento! E eu tenho as conexões que podem ajudar a abrir portas. Mas pra isso, precisamos trabalhar duro e focar. Tô falando de aulas, ensaios, e se precisarem, também de suporte emocional. A vida é dura, mas juntos a gente é mais forte”, ele concluiu.

“Mas e se não der certo? E se a gente se esforçar e ainda assim não conseguir nada?”, Lucas questionou, sua voz cheia de insegurança.

“Se não der certo, pelo menos a gente tenta. O importante é que a gente tá se esforçando, aprendendo e se desenvolvendo. Ninguém pode tirar isso da gente. E, acreditem, a gente vai criar memórias que vão valer a pena. Olha, cês tão vendo como eu sou tratado? A música e a arte mudaram a minha vida, e podem mudar a de vocês também. A gente pode ser quem quiser, desde que a gente lute por isso”, disse Gabriel, sua voz cada vez mais firme.

Após um longo silêncio, Lucas foi o primeiro a quebrar a tensão. “Beleza, então. Se você tá na onda, eu topo. Não posso prometer que vai ser fácil, mas vou tentar”, ele disse, estendendo a mão para Gabriel.

Os outros logo seguiram o exemplo, um a um, e o grupo se uniu em um círculo, cada um colocando sua mão sobre a do colega mais próximo. Gabriel sentiu que estava ali, fazendo história.

A determinação de Gabriel não era apenas em alcançar sua própria felicidade, mas em garantir que outros tivessem a chance de brilhar também. Ele não só queria ser um exemplo, mas também queria construir uma rede de apoio onde a música e a arte não fossem apenas formas de escapismo, mas sim ferramentas de transformação.

“A partir de agora, somos um só. Vamos ser a mudança que queremos ver. Se a gente se unir, não tem como dar errado”, declarou Gabriel, enquanto olhava para o grupo, agora cheio de esperanças e sonhos.

Enquanto os meninos começavam a discutir suas ideias e planos, Gabriel não pôde deixar de sentir uma onda de otimismo. Ele sabia que cada passo seria uma luta, mas agora eles tinham um propósito maior — e isso era tudo o que importava. O caminho seria difícil, mas com a união deles, tudo parecia mais possível. E, em seu coração, Gabriel já via os frutos dessa mudança começando a brotar.

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