Do quem é quem, dos mano e das mina fraca

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Gabriel:

Na favela, o jogo é claro: ou você se adapta ou fica pra trás. O "quem é quem" aqui não é apenas sobre rostos conhecidos, mas sobre as escolhas que cada um faz para sobreviver. Tem os mano que são respeitados, os que realmente mandam. Os que controlam o tráfico, que fazem a guerra nas ruas, e os que, de alguma forma, conseguem manter um pé na moral, mesmo enquanto jogam nesse campo minado. Esses são os que a gente chama de "chefes". Eles têm os olhos de quem já viu de tudo e não hesitam em usar a violência quando necessário.

E, claro, temos as mina. Algumas delas são duronas, ganhando respeito no meio dos homens, enquanto outras, por sua fragilidade, acabam se perdendo no caminho. As minas fracas muitas vezes se tornam alvo, e a vida delas se transforma em um ciclo de dependência e abuso. Um dia, você vê uma menina na escola, cheia de sonhos. No outro, ela tá vendendo o corpo por qualquer coisa, consumida pelas promessas vazias de quem só quer se aproveitar. O peso do mundo é insuportável, e não é todo mundo que consegue carregar.

Um dia, estava na esquina com Tiago e Dani, conversando sobre a vida e como as coisas andavam. “Mano, a situação tá tensa. A gente precisa de uma estratégia. O tráfico tá crescendo e os moleque tão se perdendo,” disse Tiago, olhando com preocupação para os lados.

“E a polícia? Eles não fazem nada. Quando aparecem, é só pra atormentar a gente. Eles não tão nem aí,” eu respondi, sentindo o desespero tomar conta. A realidade é que a presença policial muitas vezes era mais um problema do que uma solução. Eles não entendiam que a favela não era só um lugar de crime, mas uma comunidade cheia de histórias, dor e luta.

Naquela mesma semana, ouvi sobre uma mina que tinha sido brutalmente espancada por um dos manos. Diziam que ela tinha tentado sair do tráfico, mas a pressão era insuportável. Ela tinha medo de falar, de ser considerada fraca. No fundo, a pressão da sociedade e do machismo que dominava a favela a fez pagar um preço alto por sua decisão.

“É isso que dá querer sair dessa vida,” Dani comentou, enquanto a gente passava pela viela onde a mina morava. “As mina não têm saída, e os mano que ficam por aqui não ajudam. A maioria tá só interessada em manter o domínio, não em salvar quem tá se afundando.”

A cena era desoladora. Eu vi os moleques da esquina contando grana, já na rotina, e os rostos apáticos de quem havia se perdido nas drogas. Conhecia os nomes, sabia das histórias, mas isso não me tornava imune à realidade. O ciclo se repetia e, enquanto eu tentava encontrar um caminho, muitos estavam se afundando nas promessas de um futuro que nunca chegava.

Quando a noite caiu, as coisas ficaram mais tensas. Os tiros eram mais frequentes, e a sensação de que a qualquer momento poderia ocorrer um confronto pairava no ar. Na favela, você não escolhe quando ou onde a violência vai te alcançar. Era como uma sombra que te seguia, sempre à espreita. Ouvíamos gritos, o som de uma sirene distante e o barulho das balas.

“O que podemos fazer?” perguntei, sem saber se a pergunta tinha alguma resposta. Tiago deu de ombros, sua expressão refletia a impotência que todos sentíamos. “A gente só pode ficar na nossa, porque quando a merda acontece, a gente que se ferra.”

Naquele momento, percebi que a esperança, que eu costumava nutrir, estava se esvaindo. Eu não queria acreditar que a vida na favela tinha que ser assim, mas a realidade era inegável. A luta diária não era apenas por um futuro melhor; era para não ser engolido pela própria comunidade. O que deveria ser um lar se tornava uma prisão, onde a violência e a dependência criavam barreiras invisíveis.

Enquanto a noite avançava, a favela respirava seu ar pesado. Os sussurros da morte eram um lembrete constante de que, para muitos, a vida não passava de um jogo de sobrevivência. A realidade era pura, crua e difícil, e eu só podia me perguntar até quando iríamos conseguir suportar isso tudo.

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