Luz, câmera e ação, gravando a cena vai

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Capítulo 77: Luz, Câmera e Ação

A favela pulsava, e as vielas eram um emaranhado de sons e cores. O dia começava como qualquer outro, mas, naquele momento, havia uma sensação diferente no ar. Era como se o mundo inteiro estivesse prestes a ser filmado, e eu, o protagonista da minha própria história, estava pronto para entrar em cena.

Luz, câmera e ação! A frase ecoava na minha mente enquanto eu observava as crianças brincando nas ruas, os vendedores ambulantes gritando suas ofertas e as mães chamando seus filhos para o almoço. Cada um deles tinha seu próprio papel nesse drama cotidiano, e eu era apenas mais um personagem tentando encontrar meu caminho.

Com a bola de futebol sob o braço, eu me sentia confiante. O sonho de ser jogador profissional ainda queimava dentro de mim, mesmo que a realidade da favela frequentemente tentasse apagar essa chama. Eu imaginava a cena: um estádio lotado, a torcida gritando meu nome, as câmeras focadas em mim. Era isso que eu queria — reconhecimento, sucesso, um futuro diferente do que a vida me oferecia até então.

Mas não era só o futebol que me chamava; a música também estava lá, sussurrando para eu não esquecer de onde vim. Na minha mente, as rimas de Racionais e os versos de MC Kevin dançavam, criando uma melodia que só eu podia ouvir. Eu queria contar minha história, mas precisava da oportunidade certa para fazê-lo. A favela era minha inspiração, e cada esquina, cada rosto, cada lágrima e sorriso formavam a narrativa que eu sonhava em transformar em canções.

Naquele dia, o destino me ofereceu uma chance. Um grupo de jovens cineastas tinha chegado à comunidade para gravar um documentário sobre a vida na favela. Eles estavam atrás de histórias autênticas, e eu sabia que tinha uma para contar. Com o coração acelerado, me aproximei deles e disse: “Ei, posso participar? Tenho algo para compartilhar.”

Eles olharam para mim com curiosidade, e em seus olhares vi a possibilidade de um novo começo. Foi assim que, sob a luz dos refletores, entrei na tela, e minha voz começou a ecoar.

“Sou Gabriel, tenho 17 anos, e cresci aqui. O que você vê pode parecer um caos, mas é a vida que escolhemos, e eu não vou me deixar definir por isso. A favela me ensinou a lutar, a sonhar e a nunca desistir, mesmo quando tudo parece impossível.”

Com cada palavra, eu sentia o peso das expectativas e da dor. Mas também havia esperança e determinação. Sabia que, se tivesse a oportunidade de contar minha história, poderia inspirar outros a não desistirem dos próprios sonhos.

As câmeras rodavam, e a vida na favela se desdobrava em uma série de cenas cruas e reais. Os conflitos, as festas, a luta diária para sobreviver em um lugar onde o futuro parecia incerto. As risadas misturadas aos lamentos formavam uma sinfonia que apenas nós, que vivíamos ali, podíamos compreender.

Enquanto falava, eu percebia que minha mãe estava ali, em cada palavra, em cada gesto. A luz que ela havia acendido dentro de mim brilhava intensamente, e eu sabia que ela estava me acompanhando em cada passo.

E assim, entre a luz, a câmera e a ação, eu não apenas gravava a cena, mas também reescrevia meu destino. O garoto da favela não seria apenas mais uma estatística. Eu era Gabriel, e essa era minha história.

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