Capítulo: Pele parda e ouço funk
Gabriel sempre se orgulhou da sua identidade. A pele parda, que refletia a mistura de culturas, era mais do que apenas uma característica física; era uma representação de sua história, de sua luta e das vozes que ecoavam ao seu redor. A favela, com seu ritmo frenético e suas cores vibrantes, era seu lar, e a música fazia parte de sua essência.
O funk, o som que pulsava nas ruas, nas festas e nas rodas de conversa, era mais do que um gênero musical para Gabriel. Era a trilha sonora de sua vida. Desde pequeno, ele ouvia os batidões que vinham das caixas de som improvisadas nos becos. As letras, cheias de realidade, contavam histórias de amor, dor, vida e morte. Ele sabia que aqueles sons eram a voz de sua comunidade, a representação de tudo o que a favela era: vibrante, caótica, e cheia de vida.
"Não tem como esquecer que eu sou daqui, que a gente vive aqui," ele pensava, enquanto se perdia nas batidas. A música era um escape, uma forma de sonhar. Ele dançava nas festas, com os amigos reunidos em torno de uma fogueira, cada um trazendo suas esperanças e medos, tudo envolto pelo som envolvente do funk.
Gabriel se lembrava de como, na escola, muitos tentavam disfarçar suas origens. Para alguns, era uma questão de status; para ele, era uma questão de honra. "Eu sou da quebrada e não tenho vergonha disso," ele se dizia. Cada vez que ouvia um MC cantando sobre a vida no gueto, sentia como se fosse parte de algo maior, uma resistência cultural contra o preconceito e a desigualdade.
Naqueles dias, enquanto a garoa fina caía sobre a cidade, ele se encontrava em um dos becos da favela, rodeado de amigos. O funk ecoava nas paredes, e os corpos se moviam ao ritmo contagiante da batida. "Cê tá ouvindo isso?" perguntou um amigo, apontando para o alto-falante. "É o que a gente é, mano. E não tem como mudar isso."
Gabriel concordou, deixando que a música tomasse conta dele. "É isso mesmo. Cada letra, cada batida, conta uma história. E essa é a nossa história." Ele sabia que ali, entre os amigos e as vozes que cantavam sobre a vida dura e as pequenas vitórias, era onde ele se sentia mais vivo.
Mas a vida na favela não era só festa. Entre um funk e outro, havia a realidade batendo na porta. A violência, a falta de oportunidades e o medo sempre estavam por perto, espreitando na sombra. Gabriel pensava nas letras que falavam sobre a luta diária, sobre o tráfico e os perigos que a vida na favela impunha. "Às vezes, a música é a única coisa que nos salva," ele refletia.
E foi assim que, em meio ao som envolvente do funk, Gabriel começou a entender o papel que a música desempenhava em sua vida. Era um modo de expressar sua identidade, de lutar contra as adversidades e de se conectar com aqueles que também carregavam as marcas da favela. "A vida pode ser dura, mas a música é a nossa arma. E enquanto eu tiver voz, vou usá-la," ele pensou, determinado.
Enquanto os batidões ecoavam, ele sentiu uma chama acesa dentro de si. A pele parda e o amor pelo funk não eram apenas parte de quem ele era; eram a essência de sua luta e de sua esperança. E, mesmo que a vida fosse cheia de desafios, Gabriel sabia que, com o funk como seu guia, ele nunca estaria sozinho.
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Negro DRAMA
Ficción histórica"O Peso do Silêncio" é um romance visceral que mergulha nas profundezas da vida na periferia, inspirado no icônico "Negro Drama" dos Racionais MC's. A história acompanha Gabriel, um jovem negro que luta contra o sistema opressor que já o condenou de...