Aquele que você odeia amar nesse instante

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Capítulo: Aquele que você odeia amar nesse instante

Gabriel sempre teve uma relação complicada com Ana Beatriz. O que começou como uma rivalidade escolar, onde ela o chamava de "pobre" e "vagabundo", rapidamente se transformou em um emaranhado de sentimentos confusos. Naquela tarde, sob a luz amarelada de um lampião quebrado na rua, ele a viu se aproximar. O coração dele bateu mais forte, mesmo sabendo que essa não era a reação que ele queria ter.

"Oi, Gabriel," ela disse, com um sorriso que ele não conseguia interpretar. "Como você está?"

Ele hesitou, tentando encontrar a melhor maneira de responder. "Tô na luta, como sempre. E você? Mudou muito desde a escola?"

Ana sempre fora bonita, mas havia algo diferente nela agora, uma autoconfiança que ele não via antes. "Eu percebi que a vida não é só sobre roupas caras e status. Eu... eu tenho pensado em como tratei você antigamente," ela admitiu, os olhos castanhos dela refletindo uma vulnerabilidade que ele não esperava.

Gabriel sentiu um nó na garganta. Ele se lembrava das palavras afiadas que ela usava para feri-lo, das risadas que ecoavam nas salas de aula quando ele tentava se defender. "É fácil mudar de ideia quando a situação muda, né? Agora que eu tô em alta, você quer estar perto de mim."

Ela desviou o olhar, a expressão dela mudou. "Não é só isso, Gabriel. Eu sei que fui escrota. Mas eu vejo o quanto você trabalhou para chegar onde está, e eu admiro isso. Eu só queria me desculpar."

O rancor que ele guardava começou a se misturar com algo que ele odiava reconhecer: a atração. "Acha que um pedido de desculpas é suficiente? Você me humilhou por tanto tempo e agora, só porque eu tenho uma certa fama, você quer que sejamos amigos?" A frustração nas palavras dele era palpável.

“Eu não espero que você me perdoe. Só queria que você soubesse que eu cresci. E que não estou aqui só por causa do seu sucesso,” Ana disse, firme. O olhar dela estava cheio de sinceridade, mas Gabriel não conseguia baixar a guarda. Ele tinha aprendido a não confiar nas aparências.

“Você não tem ideia do que é viver nessa realidade. O que eu passei, as noites em claro, o medo de não ter o que comer… Você pode achar que agora sabe, mas nunca vai entender,” ele retrucou, tentando manter as emoções sob controle. Ele não queria que ela percebesse o quão afetado estava por suas palavras.

Ana se aproximou mais. "Eu quero entender, Gabriel. Quero ajudar. Não sou mais aquela garota que te zoava. Eu só queria ter a chance de mostrar que mudei."

A intensidade da situação fez Gabriel se sentir confuso. Ele a odiava, mas, ao mesmo tempo, havia algo inegável que o atraía para ela. Ele não queria se deixar levar por sentimentos que eram perigosos e estranhos, mas também não podia ignorá-los. O impulso de se afastar era forte, mas a ideia de uma conexão verdadeira, mesmo que fosse com alguém do passado, o prendia.

“Não sei se consigo acreditar nisso agora,” ele finalmente disse, a voz baixa. “Você pode estar aqui por interesse ou porque eu sou alguém agora. Mas a verdade é que o que você fez ficou marcado.”

Ana respirou fundo, seus olhos brilhando com determinação. “E se eu quiser te ajudar a mudar as coisas para os moleques da quebrada? E se eu quiser ser parte disso? Não só como uma amiga, mas como alguém que realmente se importa?”

Gabriel franziu a testa, refletindo sobre a proposta dela. Era difícil confiar, mas a ideia de ter alguém ao seu lado, alguém que pudesse entender, era tentadora. Mesmo que essa pessoa tivesse sido uma parte dolorosa do seu passado.

“Olha, a vida não é só um jogo. É muito mais complexa do que você imagina. Não é sobre ser famoso ou ganhar dinheiro. É sobre se manter vivo, sobre proteger quem a gente ama,” ele disse, finalmente.

Ana assentiu, compreendendo a gravidade das palavras dele. “Eu estou disposta a aprender, Gabriel. Quero fazer parte da sua vida, mas entendo que isso leva tempo.”

“É, leva tempo. E talvez você precise mostrar que realmente mudou. Porque a verdade é que eu não posso me dar ao luxo de me machucar de novo,” ele respondeu, com um ar de ceticismo. Ele não queria ser enganado, mas ao mesmo tempo, havia uma parte dele que queria acreditar em uma nova chance.

Enquanto eles conversavam, o peso do passado e as promessas do futuro se misturavam no ar. Gabriel sentia a luta interna, a batalha entre o amor e o ódio, a dor e a esperança. Ele sabia que o caminho seria longo e complicado, mas também sabia que a vida na favela era uma série de escolhas, e ele estava pronto para enfrentar mais essa. O que se passava entre eles era um reflexo da vida: confuso, imprevisível e, acima de tudo, real.

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