O que você tem a ver com isso?

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O que eu tenho a ver com isso? É o que você deve estar se perguntando, né? A verdade é que, aqui, ninguém sai ileso. O que acontece com um, de certa forma, afeta o outro. As histórias se entrelaçam, as vidas se misturam, e os caminhos se cruzam de maneiras que a gente nem imagina.

Você pode olhar de fora e pensar que é só mais um caso perdido, mais uma vida que se desintegra no caos da favela. Mas o que você não vê — o que ninguém vê — é como esse mesmo caos molda quem a gente é. Como o som das sirenes ao longe, o grito das mães chamando os filhos de volta pra casa, as rodas de rima nas esquinas… tudo isso vai se infiltrando na pele da gente, mudando o jeito que enxergamos o mundo.

Então, o que eu tenho a ver com isso? Tudo. Porque, no final das contas, a dor dele é a minha dor também. A derrota dele é minha. E a esperança, por mais vaga que seja, também. Porque a favela não cria só tragédia. Ela cria sobreviventes. Gente que aprendeu a resistir com o que tinha, e a continuar, mesmo quando tudo parece perdido.

Richard, Júlio, eu... nós estamos todos no mesmo barco, navegando nesse mar de incertezas. Alguns vão cair pelo caminho, isso é certo. Mas quem fica carrega as marcas daqueles que se foram. E isso é o que nos liga, o que nos une de uma forma que talvez só quem viveu aqui entenda.

E o que você tem a ver com isso? Mais do que pensa. Porque o drama de um negro, o silêncio de uma favela, o grito sufocado de quem luta pra ser visto, tudo isso ecoa muito além das vielas e cortiços. É uma história que atravessa fronteiras invisíveis, que bate de frente com a indiferença de quem acha que está acima, fora, longe. Mas ninguém está tão longe assim.

Quando você fecha os olhos e finge que não vê, você também faz parte disso. Quando ouve o som distante da violência e vira o rosto, você alimenta essa distância. Porque o que separa a gente de vocês não é só concreto, não é só asfalto rachado ou linhas de trem. É o que você escolhe não enxergar. E, no final, todo mundo tem a ver com isso.

Talvez você ache que essa é só mais uma história de quem não conseguiu. De quem sucumbiu ao peso das circunstâncias. Mas o que eu quero que você entenda é que cada passo, cada escolha, cada ferida que carregamos, faz parte de algo muito maior. Algo que vai além de nós mesmos. É sobre legado, é sobre herança. É sobre a luta de quem veio antes e a luta de quem ainda virá.

E eu? O que eu faço no meio disso tudo? Eu sou só mais um que tenta encontrar sentido no meio do caos. Mais um que, como Richard, como tantos outros, carrega as cicatrizes invisíveis de uma vida que nos ensina mais a sobreviver do que a viver. Eu sou a voz que tenta gritar, mesmo quando ninguém quer ouvir.

E você, o que vai fazer com isso? Vai ouvir ou vai continuar ignorando?

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Negro DRAMAOnde histórias criam vida. Descubra agora