Olho pra trás, vejo a estrada que eu trilhei, mó cota

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Gabriel:

Olho pra trás e vejo a estrada que eu trilhei, mó cota. Uma jornada cheia de buracos, altos e baixos, e muita poeira nos olhos. Cada passo que dei, cada lágrima que derramei, cada sorriso que compartilhei me trouxe até aqui. A favela é um lugar de histórias, e a minha é apenas uma entre tantas. Mas a cada lembrança, sinto que o peso da vida não é um fardo, mas um legado.

Caminhando pelas ruas que conheço tão bem, vejo rostos familiares, muitos deles marcados pela luta. O Seu Vicente sempre ali, no mesmo lugar, vendendo seus pastéis. Ele já viu muita coisa, e quando olho pra ele, vejo o quanto a vida na favela pode ser tanto um desafio quanto uma benção. As pessoas que caminham ao meu lado têm suas próprias histórias de resistência, e cada uma delas é uma peça fundamental do quebra-cabeça que formamos juntos.

Enquanto ando, me lembro das noites em que a música ecoava pelas vielas. O som do samba e do rap sempre foi uma forma de resistência. Mesmo nos momentos mais difíceis, quando o medo se instalava, nós encontrávamos alívio na arte. Era como se as rimas e os versos fossem nossa maneira de gritar ao mundo que estávamos vivos, que tínhamos voz.

Mas, por trás de cada risada, havia também o peso da dor. O que aconteceu com Davi ainda ressoava dentro de mim. Ele foi um amigo, um irmão, e sua ausência era uma ferida aberta. O sistema sempre tentou nos calar, mas eu sabia que o espírito dele ainda vivia em nós. Quando olhei para o céu uma noite, ao ver as estrelas brilhando, percebi que cada uma delas era uma lembrança de que aqueles que amamos nunca nos deixam realmente.

“Gabriel!” a voz de Letícia me puxou de volta à realidade. Ela estava ali, com a mesma determinação que sempre teve. “Você tá pensando de novo, né?”

“É, só lembrando do que passamos,” eu respondi, sentindo um aperto no peito. “Mas a gente vai superar isso, Letícia. Sempre superamos.”

Ela sorriu, e eu percebi que, apesar das dificuldades, sempre havia uma luz no fim do túnel. A favela, apesar de suas lutas, tinha uma beleza única. As crianças brincando na rua, os vizinhos se ajudando, a força da comunidade era um reflexo da resistência que carregávamos.

O passado não poderia ser mudado, mas o futuro ainda estava em nossas mãos. A luta pela justiça, por dignidade e por reconhecimento era nossa. Olhando para trás, vi que cada pedra no caminho tinha me ensinado algo, e que cada desafio enfrentado moldou quem eu sou hoje. A estrada que trilhei foi dura, mas também repleta de aprendizado e crescimento.

“Vamos em frente,” Letícia disse, quebrando o silêncio. “Temos que continuar, Gabriel. A favela precisa de nós.”

Ela estava certa. A estrada não era fácil, mas juntos éramos mais fortes. Com cada passo, estávamos criando uma nova história, uma nova narrativa que honraria todos aqueles que vieram antes de nós e abriria caminho para aqueles que ainda estavam por vir.

E assim, seguimos em frente, cientes de que, embora a luta fosse árdua, cada um de nós carregava a esperança de um futuro melhor. A favela não era apenas um lugar; era um sentimento, uma identidade, e estávamos prontos para lutar por ela.

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