Gabriel:Quem teve lado a lado e quem só ficou na bota? Essa pergunta sempre martelava na minha cabeça. A vida na favela me ensinou que lealdade é uma moeda rara, e o verdadeiro valor das amizades se revela nos momentos mais difíceis. Eu vi pessoas que estiveram comigo nas batalhas, que enfrentaram a tempestade ao meu lado. Mas também vi aqueles que, quando a coisa apertava, se afastavam, como sombras que desaparecem com a luz.
Lembro-me de uma noite em que tudo parecia desmoronar. A tensão nas ruas estava alta, e o clima entre os grupos rivalizava com o de um vulcão prestes a entrar em erupção. Estávamos reunidos na quadra, tentando encontrar um jeito de trazer paz entre os jovens que se deixaram levar pela raiva e pela frustração.
“Se a gente não agir agora, vai ser cada um por si”, eu disse, olhando nos olhos dos meus amigos. Letícia estava ao meu lado, sua expressão era de determinação. Ao redor, outros rostos familiares, como Tiago e Dani, também esperavam uma solução. Era um momento decisivo, e a escolha que fizéssemos ali poderia mudar tudo.
Tiago levantou a mão. “A gente precisa mostrar que somos mais fortes juntos. Quem tá com a gente? Quem realmente quer mudar isso?” Ele fez uma pausa, olhando para cada um de nós. “Quem teve lado a lado quando tudo ficou feio?”
Um silêncio pesado pairou no ar. Olhei para os outros e vi que, na verdade, não eram muitos. A verdade é que a lealdade nem sempre é recíproca. Enquanto alguns estavam prontos para lutar, outros se afastavam, preferindo olhar de longe, como se fossem espectadores de uma peça de teatro que não os envolvia. Aqueles que só ficavam na bota, esperando que as coisas se resolvessem por conta própria, eram os que não estavam dispostos a sacrificar nada por nós.
“Vamos mostrar que somos uma família”, Letícia falou com fervor. “Aqueles que nos abandonam não merecem estar aqui agora. Nós temos que cuidar uns dos outros. Precisamos ser a mudança que queremos ver.”
E assim, começamos a planejar. O grupo que estava conosco era pequeno, mas determinado. Começamos a pensar em formas de unir a comunidade, de resgatar os jovens que estavam se perdendo nas drogas e na violência. O verdadeiro desafio não era apenas lutar contra os inimigos externos, mas também enfrentar os desafios internos da favela.
Durante as semanas seguintes, realizamos reuniões. Colocamos música para tocar, trouxemos comida, e convidamos todos para participar. A cada encontro, começamos a ver mais rostos conhecidos, e aqueles que antes estavam distantes começaram a se aproximar. O sentimento de pertencimento começou a se espalhar.
Um dia, enquanto estávamos na quadra, um grupo de jovens que antes se envolvia em brigas decidiu se juntar a nós. Eles eram conhecidos por serem problemáticos, mas ao verem a união que estávamos formando, perceberam que havia um caminho diferente. “Queremos fazer parte disso”, um deles disse, com um olhar de sinceridade que nunca tinha visto antes.
A favela estava mudando. Com cada passo, estávamos criando um espaço onde a união e a solidariedade prevaleciam sobre a discórdia. Aqueles que tinham ficado na bota começaram a se sentir mal por não terem estado presentes antes. Eles perceberam que a luta não era apenas minha ou de Letícia, mas de todos nós.
“A verdade é que a vida é feita de escolhas”, eu disse a eles. “Alguns escolheram ficar na bota, mas agora é hora de todos nós entrarmos em campo. É hora de lutar juntos, de mostrar que a favela é forte, que a nossa união pode derrubar muros e abrir portas.”
E assim, em meio ao caos, começamos a ver um renascimento. As histórias de cada um de nós começaram a se entrelaçar, e a favela, que tantas vezes fora vista apenas como um lugar de violência, começou a ser vista como um espaço de luta e resistência. E eu sabia que, juntos, éramos imparáveis.
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Negro DRAMA
Historical Fiction"O Peso do Silêncio" é um romance visceral que mergulha nas profundezas da vida na periferia, inspirado no icônico "Negro Drama" dos Racionais MC's. A história acompanha Gabriel, um jovem negro que luta contra o sistema opressor que já o condenou de...