Capítulo 56: Pesadelo, Hum, é um Elogio
A adrenalina ainda pulsava nas veias enquanto eu e Luiz caminhávamos pelas ruas escuras, com o peso da noite se aproximando. A favela, com seus becos emaranhados e vidas entrelaçadas, era um labirinto onde o perigo espreitava a cada esquina. “Pesadelo, hum, é um elogio,” pensei, lembrando que essa era a nossa realidade, um cenário onde cada dia podia ser o último.
A tensão no ar era palpável. As vozes altas e risadas que costumavam ecoar entre os moradores estavam agora silenciadas, como se a noite tivesse engolido a esperança. O que antes era um lar vibrante agora parecia um campo de batalha, e nós éramos soldados perdidos, tentando encontrar nosso caminho em meio ao caos.
Quando passamos por um grupo de jovens, suas risadas cessaram por um instante, e senti o olhar deles sobre nós. Aquela era uma situação familiar, mas não menos desconfortável. “Se a gente não cuidar, logo a gente tá no meio da briga,” eu murmurei para Luiz, que apenas assentiu, a tensão visível em seu rosto.
Estávamos apenas tentando atravessar a comunidade quando, de repente, o som de disparos ecoou. O coração disparou, e o tempo pareceu desacelerar. “É só uma briga,” pensei, mas logo percebi que não era. Os gritos se misturaram ao barulho dos tiros, e o caos começou a se instalar.
“Gabriel, corre!” Luiz gritou, puxando-me para um lado. Nós começamos a correr, mas o desespero nos cercava. O chão tremia sob nossos pés, e a realidade se tornava uma névoa. Nossos corações batiam como tambores, mas, no meio daquela confusão, a vida se tornava uma dança macabra, onde a música era o som da violência.
Um estrondo cortou o ar, e vi Luiz cambalear, o rosto contorcido em dor. Ele havia sido atingido. O mundo ao meu redor desmoronou. “Luiz!” gritei, mas a palavra mal saiu dos meus lábios. Ele caiu no chão, e eu corri até ele, meu coração em frangalhos.
“Eu tô bem, mano, só… só me ajuda,” ele disse, sua voz fraca e trêmula. Olhei para seu corpo, e o terror se espalhou por mim. Uma bala perdida, o que era mais devastador era a fragilidade daquela situação. Nós não éramos alvos, mas a vida na favela tinha suas regras implacáveis. O que era um passeio poderia se transformar em um pesadelo em segundos.
“Não! Você não vai ficar assim!” eu gritei, tentando manter a calma. O sangue começava a manchar a rua, e o pânico me envolvia. Lembro-me de pensar que aquela era uma cena de filme, mas eu não estava preparado para ser o protagonista de um drama tão real.
Enquanto eu tentava estancar o sangue com as mãos trêmulas, as sirenes começaram a se aproximar. A polícia chegava, e a última coisa que eu queria era que eles encontrassem a cena do crime. Era uma armadilha, e a presença deles poderia ser a diferença entre a vida e a morte.
“Vem, mano, a gente precisa sair daqui,” eu disse, puxando-o com toda a força que tinha. Ele gemia, e cada movimento parecia um esforço colossal. Eu sabia que a única chance que tínhamos era encontrar um lugar seguro, mas as ruas estavam cheias de perigos, e o peso da realidade me esmagava.
Conseguimos chegar a um beco, onde a luz fraca iluminava nosso caminho. O sangue ainda escorria das feridas de Luiz, e cada gota parecia gritar por socorro. O que eu queria era que tudo isso fosse apenas um pesadelo, uma ilusão cruel que logo se dissiparia ao acordar.
“Só me leva pra casa, Gabriel,” ele murmurou, a voz cheia de dor e desespero. “Não quero morrer aqui.” Naquele momento, percebi que a vida poderia mudar em um instante, e o que antes era um cotidiano familiar se tornava uma lembrança distante.
Fui tomado por uma raiva profunda. O sistema que nos cercava, a violência, a falta de apoio, tudo aquilo era um veneno que nos matava lentamente. “Não, Luiz. Você não vai morrer. Não hoje,” eu declarei, com determinação. Sabia que a luta estava apenas começando, e eu faria o que fosse preciso para salvar meu amigo.
E assim, entre os ecos da sirene e o pesadelo que nos cercava, a vida na favela se mostrava uma luta constante, uma batalha em que o amor e a amizade eram a única esperança de sobrevivência. Enquanto as sombras se aproximavam, eu sabia que a verdadeira luta estava apenas começando.
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Negro DRAMA
Historical Fiction"O Peso do Silêncio" é um romance visceral que mergulha nas profundezas da vida na periferia, inspirado no icônico "Negro Drama" dos Racionais MC's. A história acompanha Gabriel, um jovem negro que luta contra o sistema opressor que já o condenou de...