Futebol

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Capítulo 62: Futebol

Gabriel sempre sonhou em ser um craque, um verdadeiro artista do futebol. Ele se lembrava das tardes em que corria pelo campo de terra batida da favela, driblando todos os amigos e ouvindo os gritos de "É o Neymar!" ecoarem ao seu redor. Para ele, cada toque na bola era uma promessa de um futuro diferente, uma chance de escapar da realidade cruel da favela. Os pés deslizando sobre a grama, a bola sob controle, eram como uma forma de liberdade.

Desde pequeno, Gabriel admirava Neymar Jr. O jeito que o jogador se movia em campo, a habilidade com a bola e a forma como conquistava a torcida eram inspiradores. Ele sonhava em um dia ter a mesma fama, a mesma destreza. Ele queria ser o próximo ídolo, alguém que não apenas saísse da favela, mas que também mostrasse ao mundo que era possível. Mas a vida era dura, e cada dia parecia afastar esse sonho.

Na escola, ele tinha dificuldade em se concentrar nas aulas. Seus pensamentos estavam sempre no campo, e as notas acabavam refletindo isso. Os professores não entendiam o que era viver em uma comunidade onde o futebol era a única saída para muitos. As crianças sonhavam com o campo, mas a realidade frequentemente as puxava de volta para a dura verdade da vida.

Aos fins de semana, os jogos eram intensos. As peladas na quadra da favela eram onde ele se sentia mais vivo. Os meninos se reuniam, formavam times e se desafiavam. Gabriel era sempre o capitão, liderando seu time com a mesma garra que via em seus ídolos. Ele se destacava, fazendo gols e driblando adversários como se não houvesse amanhã. A adrenalina corria em suas veias e ele acreditava que, se continuasse assim, alguém poderia vê-lo e dar uma chance.

Mas o sonho de se tornar um jogador profissional parecia cada vez mais distante. A realidade da vida na favela era impiedosa. O crime e a violência começaram a invadir seu mundo, tornando-se uma alternativa tentadora para muitos. As promessas de um futuro brilhante no futebol estavam ameaçadas por pressões externas, e cada vez mais ele se via cercado por amigos que escolhiam caminhos diferentes, um caminho que ele não queria seguir.

Em um desses dias, Gabriel estava jogando uma partida decisiva. Era o campeonato local, e a vitória significava muito para a comunidade. Com o coração acelerado, ele se lançou em campo, driblando e dando passes precisos. Quando chegou a hora do gol, ele se lembrou de Neymar: a celebração, o grito da torcida. E então, quando fez o gol da vitória, a explosão de felicidade foi instantânea. Ele se sentiu nas nuvens, rodeado pelo carinho e pelos aplausos dos amigos. Aquele era o momento que ele sempre sonhou, mas a euforia durou pouco.

Ao deixar o campo, ele notou que a realidade estava batendo à sua porta. A celebração se dissipou quando o olhar de um amigo mudou. Um olhar que dizia: "Você precisa fazer escolhas, mano." A pressão para entrar no crime estava se tornando inescapável. Os amigos que antes compartilhavam o mesmo sonho agora caminhavam por direções diferentes. Gabriel sabia que, para muitos, o futebol não era uma saída, mas sim uma forma de escapar temporariamente da vida real.

Naquela noite, Gabriel ficou acordado pensando no futuro. O futebol era a sua paixão, mas a realidade da favela insistia em lembrá-lo de que sonhos e sobrevivência nem sempre caminhavam juntos. Ele se questionava se ainda havia um caminho que o levaria a se tornar o jogador que sempre quis ser.

Decidido a não desistir, Gabriel começou a treinar mais intensamente. Ele procurou oportunidades em times da região, mas as portas estavam sempre fechadas. O sonho parecia estar cada vez mais distante, mas ele se recusava a permitir que isso o derrubasse. Cada treino, cada drible, cada chute era uma declaração de que ele não iria se render ao crime, mesmo que o ambiente o pressionasse a isso.

O futebol ainda era uma esperança, uma luz no fim do túnel. Gabriel sabia que, se quisesse alcançar seu sonho, precisaria lutar por ele. E assim, ele se dedicou de corpo e alma, determinado a não deixar que a favela definisse seu destino. O sonho de ser como Neymar Jr. pulsava dentro dele, e enquanto houvesse vida, havia esperança. Com os olhos fixos no horizonte, Gabriel continuou a sonhar, a lutar e a jogar.

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