Um Bastardo, Mais Um Filho Pardo Sem Pai

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Capítulo 78: Um Bastardo, Mais Um Filho Pardo Sem Pai

O peso das palavras ecoava em minha mente. “Um bastardo, mais um filho pardo sem pai.” Essa era a realidade que muitos viam em mim, mas eu sabia que havia muito mais por trás dessa etiqueta. Ser rotulado assim era a última coisa que eu queria, mas a vida na favela insistia em me apresentar como apenas mais um produto do descaso, da desigualdade e do abandono.

Desde pequeno, eu carregava esse fardo. A ausência do meu pai não era apenas um detalhe na minha história; era a base de uma dor que nunca me deixaria. O vazio que ele deixou se transformou em uma sombra que me acompanhava a cada passo. A sociedade tinha um jeito cruel de nos definir, e eu não era exceção. Os olhares atravessados, os sussurros, as piadas — tudo isso se somava à pressão que sentia para ser mais do que esperavam de mim.

Meus amigos diziam que eu tinha que me afirmar, que deveria fazer o nome Gabriel ser respeitado nas ruas. Mas como? O que eles não entendiam era que, para mim, respeitar meu nome significava mais do que apenas sobreviver. Eu queria gritar para o mundo que a minha história não era só sobre dor e ausência. Havia força em ser quem eu sou, uma força que vinha da minha mãe, uma mulher que enfrentou o mundo sozinha, criando um filho em meio ao caos.

Cada dia era uma luta, uma batalha silenciosa que travávamos todos os dias na favela. Para muitos, éramos invisíveis, mas para nós, cada vitória — por menor que fosse — era uma conquista. Meus vizinhos, com suas histórias de vida, eram os verdadeiros heróis da comunidade, e eu me via como parte dessa narrativa.

“Você é apenas mais um filho da favela”, dizia a voz do lado de fora, mas dentro de mim havia um grito: “Sou Gabriel, sou filho da luta, e não vou ser esquecido.”

E então, em meio a essa reflexão, percebi que ser um “bastardo” não significava ser menos. A verdade era que eu era um filho da resistência, um produto da força que a vida nos impunha. Enquanto muitos se entregavam ao desespero, eu estava decidido a transformar minha dor em arte, em música, em palavras que pudessem ecoar além das paredes da favela.

Era isso que eu queria: que meu grito, minha canção, ecoassem nas mentes e corações de quem escutasse. Eu não queria ser apenas mais um, queria ser a prova viva de que a origem não define o destino.

“Um bastardo, mais um filho pardo sem pai” era apenas uma introdução à minha história. E essa história estava longe de acabar.

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