Gabriel:Os dias se arrastavam na favela, e a tensão estava à flor da pele. Enquanto as ruas se enchiam de boatos e ansiedades, uma certeza se firmava em meu coração: a luta que estávamos prestes a enfrentar não seria para os fracos. O dilema sobre a guerra pelo território estava se transformando em uma batalha pela nossa dignidade, e apenas aqueles que realmente acreditavam na causa estavam prontos para entrar em campo.
Reuni um grupo de amigos no local onde costumávamos jogar bola, um campo improvisado entre os barracos, onde a poeira do chão se misturava aos sonhos e esperanças de todos nós. Com a bola nos pés, a atmosfera carregada de preocupação e tensão se dissolvia um pouco, e, por alguns instantes, éramos apenas jovens sonhando em vencer. Mas, como em qualquer jogo, havia sempre aqueles que ficavam à margem, que tinham medo de se expor, que preferiam assistir do lado de fora.
“Gabriel, você tem certeza de que devemos fazer isso?”, perguntou Tiago, com a bola em seus pés, seu olhar refletindo uma mistura de dúvida e determinação. “E se formos contra um grupo que é mais forte? E se a polícia se envolver?”
Respondi a ele, mas a verdade era que eu também me sentia dividido. “Tiago, são poucos que entram em campo pra vencer, mas somos nós que conhecemos o jogo. Temos que mostrar que não temos medo. Se ficarmos parados, seremos esmagados. Se não formos nós a lutar por nossa própria comunidade, quem será? Ninguém conhece nossas histórias como nós, e essa luta não é só por nós, mas pelas gerações que virão.”
Ouvindo suas palavras, o grupo começou a se mobilizar, e um sentimento de solidariedade tomou conta. Começamos a treinar, não apenas para fortalecer nossos corpos, mas para fortalecer nosso espírito. A favela não era apenas um espaço físico; era um lugar de identidade, resistência e história. Com cada treino, a ideia de unidade se tornava mais clara. Nós éramos mais fortes juntos do que separados.
As discussões sobre estratégias de defesa se tornaram mais frequentes. Convidei Letícia, que sempre teve um talento nato para organizar e planejar, para nos ajudar. “Vamos fazer uma reunião para discutir as opções. Precisamos de um plano e de todos envolvidos. A comunicação é crucial para que possamos reagir rapidamente, caso a situação escale.”
Naquela noite, nos reunimos no centro comunitário, e a atmosfera estava carregada de determinação. Todos sabiam que não se tratava apenas de um conflito físico, mas de uma luta por nossos direitos e nossa identidade. As vozes se uniram em um clamor, cada um trazendo suas preocupações e sugestões.
“Precisamos estabelecer um sistema de alerta para qualquer movimento estranho nas ruas”, disse um dos mais velhos, o Seu Vicente. “Isso nos dará vantagem e nos permitirá agir antes que eles se aproximem.”
“E também precisamos de um grupo de vigilância! Aqueles que ficarão nas esquinas e nas saídas da favela, prontos para agir assim que algo acontecer”, sugeriu Letícia, e suas palavras ecoaram entre nós como uma ordem de guerra.
Naquela noite, enquanto o luar iluminava as ruas estreitas, a favela se tornou um campo de batalha mental e emocional. As tensões se elevavam, e a adrenalina corria em nossas veias. Embora o medo ainda estivesse presente, havia algo maior nos unindo: a coragem de lutar por nossos direitos e pela sobrevivência de nossa cultura.
A verdade é que, quando se está em campo, muitos podem se esconder, mas os que realmente importam são os que se levantam. O campo de batalha era nossa casa, e a luta pela favela era uma luta pela dignidade. O que nos separava era menor do que o que nos unia. Sabíamos que a vitória não seria fácil, mas, juntos, éramos uma força a ser reconhecida.
Enquanto nos preparávamos para o que estava por vir, percebi que a verdadeira batalha não era apenas contra um grupo externo; era contra a apatia e a divisão que poderiam corroer nossa comunidade. Precisávamos lembrar que éramos mais fortes quando trabalhávamos juntos, que éramos capazes de mudar a narrativa da favela se estivéssemos dispostos a lutar por ela.
Com a determinação renovada, a noite caiu, mas em nossos corações havia uma luz que brilhava intensamente. A favela, com suas lutas e vitórias, continuava a ser o nosso lar. E, como um time, entramos em campo prontos para vencer, prontos para mostrar que, mesmo em tempos difíceis, a esperança e a unidade sempre prevaleceriam.
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Negro DRAMA
Ficțiune istorică"O Peso do Silêncio" é um romance visceral que mergulha nas profundezas da vida na periferia, inspirado no icônico "Negro Drama" dos Racionais MC's. A história acompanha Gabriel, um jovem negro que luta contra o sistema opressor que já o condenou de...